No dia 22 de novembro, pelas 19h00, no Goethe-Institut em Lisboa. Debate com dois especialistas em colonialismo, nomeadamente Andreas Eckert, da Universidade Humboldt (atualmente Universidade de Princeton) e António Sousa Ribeiro, da Universidade de Coimbra. O evento será moderado por Elsa Peralta, da Universidade de Lisboa.
Ethnologisches Museum/Martin Franken
Frantz Fanon, precursor da descolonização, descreveu de modo contundente a Europa como “criação das colónias”. De fato, as ex-colónias e a Europa estão tão intimamente interligadas que o seu desenvolvimento histórico não pode ser considerado isoladamente. A expansão europeia mudou o mundo e, com ele, a Europa. Não apenas moldou as áreas conquistadas e colonizadas no Ultramar, mas também os próprios estados europeus. Os especialistas consideram, portanto, que o confronto social com o colonialismo é uma das questões futuras da Europa.
Esta revisão tornou-se um tópico virulento nos últimos anos, que está a ser debatido em muitos países europeus pela primeira vez também a nível político. Na Alemanha, em particular, o debate que se arrasta sobre o projetado “Fórum Humboldt” no reconstruído palácio da cidade no centro de Berlim levou a um debate social fundamental. Questões de restituição de artefactos roubados de África, Ásia e América Latina têm um papel tão importante quanto o futuro dos museus etnológicos, o manuseio do material de arquivo e os resíduos do período colonial nas cidades europeias. Em Portugal, por sua vez, a discussão sobre o planeado “Museu dos Descobrimentos” intensificou o debate, trazendo-o a público. Embora o conflito com o passado colonial na Alemanha e em Portugal tenha sido até agora lento, como em muitos países europeus, parece ganhar agora novo impulso e urgência.
O painel de discussão visa identificar os desafios enfrentados pelas ex-potências coloniais europeias no processo de revisão do legado colonial, tomando Portugal e a Alemanha como exemplos. O tema do debate é deliberadamente amplo: questões relativas à forma como lidar com artefatos etnológicos e artísticos saqueados serão refletidas, bem como a perceção do passado colonial “próprio” e o confronto sobre os lugares de memória colonial. Serão igualmente abordados o estado atual da investigação científica e das questões do “como” e da “autoria” deste confronto.
Andreas Eckert é historiador e investigador em Estudos Africanos. De 2000 a 2002, fez parte dos quadros científicos do Departamento de Estudos Africanos da Universidade Humboldt, em Berlim, onde concluiu o pós-doutoramento em 2002. Em 2006, foi Directeur d’Etudes da Maison Des Sciences De l’Homme, em Paris. De 2002 a 2007, lecionou na Universidade de Hamburgo como Professor de História Moderna, incidindo sobre a História de África. Em 2007, foi professor convidado da Universidade de Harvard. Desde outubro de 2008, é Diretor Executivo do Instituto de Estudos Asiáticos e Africanos da Universidade Humboldt de Berlim. Atualmente, leciona no Institute for Advanced Study de Princeton.
António Sousa Ribeiro é professor catedrático do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas (Estudos Germanísticos) da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi, entre outros, Presidente do Conselho Consultivo Científico da Faculdade de Letras, Presidente do Conselho Científico do Centro de Estudos Sociais e Diretor do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras. Publicou sobre Literatura Comparada, Teoria Literária, Estudos Culturais e Pós-colonialismo. Em 2016, publicou o livro “Geometrias da Memória: Atitudes Pós-coloniais”.
Elsa Peralta é doutorada em Antropologia e investigadora FCT do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O seu trabalho baseia-se em perspetivas cruzadas da antropologia, estudos de memória e estudos pós-coloniais e centra-se na intersecção entre os modos privados e públicos de recordação de eventos passados, nomeadamente dos passados coloniais. As suas obras incluem vários artigos e livros, com destaque para os volumes Heritage and Identity: Engagement and Demission in Contemporary Society, Routledge, 2009 e ACidade e Império: Dinâmicas coloniais e reconfigurações pós-coloniais, Edições 70, 2013.