Colóquio Internacional - 25 de Setembro, Sala 1, CES
Todas as cidades têm a sua história. Também assim Luanda e Maputo. Luanda, situada na costa atlântica, de influência arquitetónica e urbanística luso-brasileira. Maputo, situada à beira Índico, goza de outras influências que misturam África, Portugal e Índia com a matriz britânica, via a África do Sul. O mundo destas cidades é particularmente heterogéneo: nelas entrelaçam-se temporalidades, espacialidades e valores políticos. O arcaico convive com o moderno, o progresso com o tradicional e todas as épocas expressam e reclamam atenção histórica: a era pré-colonial, a ocupação costeira, o colonialismo moderno, a independência, a época pós-colonial. Esta mistura de temporalidades resultante da experiência de aportagem, seja comercial, seja depois aquela que conduziu ao colonialismo, à luta anti-colonial e à construção do Estado pós-colonial, tem um valor político na organização do espaço, nas relações de poder que aí são exibidas e nas sociabilidades que se geram. Considerando as imagens das cidades-capitais retratadas na literatura, percebemos a predominância de signos divergentes que jamais se anulariam deixando a História suspensa. Em Luanda, a Fortaleza de S. Miguel, as igrejas da cidade Alta ou as ruas da Baixa, ligadas ao comércio, abrem um rasgo histórico virado para um passado ligado ao colonialismo português, ao tráfico de escravos e ao comércio com o Brasil. Por outro lado, a contemplação dos musseques ou dos bairros de caniço em Maputo leva-nos para culturas locais que se organizaram em frentes de luta contra o colonialismo português e se comprometeram com a luta pela independência, como vemos exemplarmente na prosa de Luandino Vieira, António Cardoso, Costa Andrade e tantos outros em Angola, ou na poesia de José Craveirinha ou Noémia de Sousa em Moçambique.
O projeto que está na origem deste colóquio internacional – De São Paulo de Luanda a Luuanda, de Lourenço Marques a Maputo: capitais coloniais em tempos pós-coloniais- tem como objetivo geral a configuração e a análise das diferentes temporalidades acima evocadas e o seu reflexo e valor político no espaço urbano. Tendo em mente o conceito da cidade como texto e a de palimpsesto textual, traçamos os contornos da análise a fazer: a cidade/capital como espaço colonial; a cidade como espaço de resistência; a cidade como espaço fundador da nova nação.
Com a participação de especialistas portugueses e estrangeiros e vários estudantes de doutoramento do programa Patrimónios de Influência Portuguesa, este colóquio visa mostrar de forma intedisciplinar e dialogante o que se tem vindo a produzir cientificamente sobre estes espaços. Um agradecimento especial vai para o acompanhamento que nos foi dado pelo professor universitário e arquiteto moçambicano Júlio Carrilho e para o escritor angolano José Luandino Vieira.
PROGRAMA
10h00m – 10h45m: Abertura e apresentação do projeto
10h45m – 12h30m: 1ª Sessão
Presidência: Pires Laranjeira (FLUC)
Roberto Vecchi (Universidade de Bolonha)
Genius loci e a imprescritibilidade do mito: arquiteturas simbólicas em tramas urbanas pós-coloniais - Luanda e Maputo
Walter Rossa (DARQ-FCTUC/ CES)
Contos de duas cidades: património urbanístico e resiliência urbana
Margarida Calafate Ribeiro (CES)
Vozes literárias de Luanda e Maputo
Walter Rossa, Margarida Calafate Ribeiro e Nuno Gonçalves
A base de dados do projeto
14h00m - 16h00m: 2ª Sessão
Presidência: José Luandino Vieira
Sara Ventura da Cruz (DPIP-IIIUC/CES)
A construção de uma capital colonial: imagens da evolução urbana de Luanda (séculos XVI-XIX)
Phillip Rothwell (Universidade de Oxford)
A arquitetura do poder na representação da cidade de Luanda em Pepetela
Mónica Silva (DPIP-IIIUC/CES)
Vidas hipotecadas. Luanda pelas prisões
Júlia Garraio (CES)
Um corpo para fazer Luanda: reconfigurações da negra do interior na literatura angolana entre a segunda metade do século XIX e a guerra civil
16h15m-18h15m: 3ª Sessão
Presidência: Júlio Carrilho (FAPF, Universidade Eduardo Mondlane)
Nuno S. Gonçalves (DPIP-IIIUC/CES)
O espaço urbano da Mafalala: origem, evolução e caraterização
Francisco Noa (UniLurio)
Mafalala: memória de uma paisagem sociocultural
Fátima Mendonça (Universidade Eduardo Mondlane)
A poesia de José Craveirinha no roteiro poético da Mafalala
Margarida Calafate Ribeiro e Walter Rossa
Considerações finais