Jornalista e poeta, partiu várias vezes de São Tomé e Príncipe. Partiu para driblar os que queriam calar-lhe a voz incómoda nos jornais, na rádio e na televisão, partiu para se reconhecer como escritora, partiu para ser correspondente da BBC, em Londres. Mas em cada uma dessas partidas levou a ilha com ela. Regressada, continua a questionar passado e presente, num exercício de indagação e busca a que chama umas vezes jornalismo, outras poesia. A cidadania participativa, a educação e a cultura são os valores pelos quais a autora de O Útero da Casa, se bate, sempre.
Marginal de São Tomé, fotografia de Marta Lança
O debate, para criar pluralidade nas perspectivas, é uma das armas que Conceição Deus Lima usa para combater os problemas do seu país. Pratica-o na cobertura das eleições legislativas de S.Tomé, em comícios e na televisão, com a coragem para fazer as perguntas difíceis e necessárias. Em Santana, onde nasceu e aprendeu com a avó a falar crioulo, a entender plantas e a escutar os mitos dos rios, mergulha nos rituais dos antepassados para nos levar à constante duplicidade da sua ilha mágica, paraíso e lugar de massacre, terra de senhores e de serviçais. Fala da euforia de 1975, quando se fizeram possíveis todos os sonhos, vontades e aspirações, impulsionados pelas leituras de Amilcar Cabral e Kwame Nkrumah e pelo visionarismo dos grandes poetas são-tomenses, com Alda Espírito Santo como figura tutelar. Crioulidade, África, ilha e arquipélago, são palavras sobre as quais São de Deus Lima pensa e escreve com frequência, como poeta e como jornalista.