Colecção de contos "Cabeças Cortadas"
Cabeças Cortadas não é uma ficção visionária; é uma obra assente em realidades ferozes que nem pandemias nem guerras substituem. Explorando um mundo de disfunções que se têm tornado estruturantes, revela-o nos meandros mais impensados das relações sociais.
Livros Flauta de Luz | distribuição Antígona
Escrito mais de dez anos antes da eclosão da pandemia de covid-19 e da catástrofe sanitária e moral daí resultante, este conjunto de contos de Pedro Bravo manifesta perturbantes premonições do que passou a estar em curso no mundo: uma continuada repetição de desastres consubstanciais ao desenvolvimento.
Mas, abarcando também épocas anteriores à nossa, Cabeças Cortadas não é uma ficção visionária; é uma obra assente em realidades ferozes que nem pandemias nem guerras substituem, embora as empiorem. Explorando um mundo de disfunções que
se têm tornado estruturantes, revela-o nos meandros mais impensados das relações sociais, quer se trate, por exemplo, de experiências médico-farmacêuticas com o corpo humano ou da necessária dependência mortal de drogas psicotrópicas.
Livro ilustrado, Cabeças Cortadas constrói-se sobre uma geometria visual de palavras e ideias não pacíficas de que decorre um paradoxal realismo semântico. Acoplamentos voluntários no ritmo dos contos desvendam, num delírio negro, duplos sentidos e amiúde miríades de significados. Mas a poderosa e ágil estrutura da composição literária não deixa que desta miríade decorra confusão. O sentido devém acção. Sexual, sem nunca ser descritivo, vibrante de fúria e imaginação, Cabeças Cortadas – cuja personagem central é o corpo humano – deixa-nos o registo de que as nossas sociedades assentam numa violência grandemente oculta.
Pedro Bravo publicou anteriormente os livros Verbo Vermelho, na Fenda, e Manual de Resistência Civil, na Letra Livre.
Desenhos da capa e do interior: Miguel Carneiro. Grafismo e paginação: Pedro Mota.