Ver como um lobo, Bruno Caracol

Ver como um lobo é uma investigação plástica em torno ao uso de partes do corpo dos lobos na medicina popular. Procurando formas contemporâneas de reprodução de material biológico, Ver como um lobo consistirá na produção de uma série de objetos baseados em algumas destas partes de corpo do lobo (olhos, traqueias) e uma instalação sonora produzida a partir de sons recolhidos nas serras onde estes animais se abrigam e de uma composição construída em colaboração com Filipa Cordeiro e Academia das Artes de Chaves. Será também uma publicação resumo do processo, com as fotografias de Odair Monteiro. 

A oposição entre as comunidades serranas de Trás-os-Montes, Minho e Beira Interior e a população lupina deriva da partilha de recursos, os animais de pasto (sobretudo em pasto livre como é tradição em algumas serras). O lobo ocupa o lugar simbólico da escassez, para além de predar carneiros nas histórias infantis, ameaça tomar as almas dos últimos filhos de famílias numerosas, obrigando a ritualização de certas relações para uma contenção da miséria. Esta oposição deve-se a uma certa horizontalidade interespecífica entre ocupantes das serras, num panorama de escassez de recursos.

Esta relação histórica encontra-se num ponto de charneira, tanto pela alteração profunda na demografia e economia regional, permitindo aos lobos ganharem terreno sem grande oposição, como pela emergência da conservação enquanto programa estatal para estes territórios. Esta conjuntura levou a relação a verticalizar-se, a população de lobos é gerida a partir de instrumentos cibernéticos, modelos matemáticos e instrumentos de localização e contagem, a partir dos grandes centros urbanos. Entre as populações locais existe ainda uma inimizade vestigial, também ela em transformação por via do crescimento uma economia em torno do turismo de natureza, a partir do qual a presença do lobo se pode transformar em recurso.  

Ver como um lobo trata de procurar paralelos possíveis entre os corpos destas duas espécies, cruzando-os com uma visão territorial construída a partir dos instrumentos da investigação científica. Cresce a partir de uma procura subjacente por uma precariedade discursiva, pelas explicações incompletas, pelas contradições, alimentada por um entendimento da confusão como lugar vital, uma vitalidade para a qual importa abrir espaço.

©Arquivo Francisco Álvares/Grupo Lobo©Arquivo Francisco Álvares/Grupo Lobo 

As próximas datas e locais de apresentação do projeto serão as seguintes:

21 e 22 setembro 2024 - Túnel, Porto 

26 e 27 outubro 2024 - Academia das Artes de Chaves, Chaves

6 e 7 fevereiro 2025 - Ecomuseu do Barroso, Montalegre (datas a confirmar) 

 

Bruno Caracol estudou Artes Plásticas na FBAUL e Ciências da Comunicação na FCSH-NOVA. Tem dedicado os últimos anos a trabalhar a partir de objetos ressonantes, de futuros ficcionais e da relação com o mundo não-humano.

 

Conceção e coordenação: Bruno Caracol 

Fotografia: Odair Monteiro

Composição de peça sonora: Laura Marques e Bruno Caracol

Sopros: Quinteto Transmontana Brass

Assobios, vozes, sons: Aurízia Dias, Carles Mas e Maria Carvalho

Comunicação: Marta Rema

Produção e gestão financeira: Ricardo Batista

Acompanhamento: Margarida Mendes

Parceiros: Academia das Artes de Chaves, Buala, Brass - Fundição Artística, Câmara Municipal de Montalegre, CIBIO, coffeepaste, Ecomuseu do Barroso, Oficinas do Convento, Redsky

Organização: efabula

Financiamento: DGArtes - República Portuguesa, Câmara Municipal de Montalegre

 

Publicação

Ensaio visual: Odair Monteiro

Fotografias de arquivo: Francisco Álvares

Imagens processo: Bruno Caracol 

Textos: Francisco Álvares, Godofredo Enes, Margarida Mendes

Design: Pedro Nora

 

Agradecimentos: Francisco Álvares, João Cardoso, Marcelo Almeida, Otelo Rodrigues, Luísa Queirós, Tânia Pereira, Aurízia, Maria Carvalho.

 

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10.09.2024 | par martalanca | bruno caracol, ver como um lobo

Silvestre, de Bruno Caracol

Em Walking, Henry David Thoreau descreve o desafio que os pântanos apresentam para a tarefa topográfica, apresentando-os como territórios exemplarmente “selvagens”, que resistem à dominação humana. No clima mediterrânico, esse lugar é dos matos impenetráveis geralmente dominados pela amora silvestre, a silva.Tudo se tornará um silvado, basta que nos ausentemos. Nesses matos espinhosos encontram refúgio os animais sem lugar na gestão humana do território, habitando as suas periferias e alimentando-se dos seus excedentes. Os roedores e os seus predadores, os javalis e os saca-rabos, uma série de animais não propriamente selvagens, nem certamente domésticos. É pelos espinhos, pelas unhas, pelos dentes, que nos aproximamos deles. Silvestre recolhe vestígios, observa-os, digitaliza-os. Imprime-os em cerâmica e estuda as propriedades sonoras destas novas configurações, habitando-as com frequências e paisagens sonoras recolhidas nos lugares onde foram recolhidos.

 

De 20 de janeiro a 4 de fevereiro de 2023, no Atelier Concorde.

Atelier Concorde
Inauguração: 19 de janeiro 2023, 19h
Encerramento: 4 de fevereiro 2023
Visitas por marcação: info@efabula.pt [assunto do email: SILVESTRE]
Dias 21 e 22 de janeiro 2023: das 16H00 às 20H00 sem marcação

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Criação / Creation: Bruno Caracol
Apoio técnico / Technical support: Maurício Martins, Tiago Fróis
Comunicação / Communication: Marta Rema
Parcerias / Partnerships: Oficinas do Convento, MILL, Artéria Lab, Atelier Concorde, Um Coletivo
Parceiros media / Media partners: Antena 2, Buala, Coffeepaste
Apoio / Support: Direção-Geral das Artes / República Portuguesa

Entrada gratuita. Mais infos. 

09.01.2023 | par martalanca | bruno caracol, instalação, Silvestre

Subterrâneo | Festival Materiais Diversos 2021

INSTALAÇÃO / INSTALLATION 

15 out. oct. 21h30 — 24h
16 — 17 out. oct. 15h — 20h
Fábrica de Cultura de Minde

15 out. oct. 21h30 • Abertura / Opening

Recital Charales Chorus   

Subterrâneo

Bruno Caracol

Fragment d’histoire future, de Gabriel Tarde, descreve uma humanidade solitária, que na extinção de todas as outras formas de vida, refugiada de um apocalipse climático no interior da terra, encontra o espaço para a construção de uma sociedade lúdica, aparentemente sem conflito. As grutas da Serra d’Aire e Candeeiros são profusamente habitadas por seres minúsculos, uma vitalidade sobre a qual o conhecimento avança no mesmo ritmo em que os seus ambientes são postos em risco. Servem também como esconderijo e cofre para as populações em tempo de guerra, para guardar armas em tempos revolucionários. Subterrâneo é uma instalação audiovisual que nasce destes contrastes. 

Fragment d’histoire future, by Gabriel Tarde, describes a solitary humanity, which in the extinction of all other forms of life, refugee from a climatic apocalypse inside the earth, finds the space for the construction of a playful society, apparently without conflict. Serra d’Aire e Candeeiros caves are profusely inhabited by tiny beings, a vitality on which knowledge advances at the same pace as their environments are put at risk. They also serve as a safe and hiding place for populations in times of war, to store weapons in times of revolution. Subterrâneo is an audiovisual installation that is born from these contrasts.

A abertura da instalação contará com a participação especial do Charales Chorus.

The opening of the installation will feature the special participation of Charales Chorus.

entrada livre / free entry

https://2021.materiaisdiversos.com

13.10.2021 | par Alícia Gaspar | bruno caracol, cultura, festival, festival materiais diversos, instalação