Este projeto tem sido a viajem de um diálogo com a mente e sobre imagem corporal. Esta reflexão começou depois de diversas experiências que me deixaram com registos no corpo. Cicatrizes, riscos e gravuras que são constantes memórias de histórias que me marcaram. Que fazem parte de um processo de compreensão e reprogramação de uma perspectiva e imagem mental, emocional e corporal. Ensinando-me a refletir não apenas sobre aspectos físicos, mas a questionar as causa das minhas escolhas. A sociedade e a cultura também desempenham um papel nestas perspectivas. Não é fácil ser mulher numa sociedade onde temos que ser fortes para não abdicar da nossa auto-estima por consequência do meio social.
Em África, a Escarificação é praticada há séculos como símbolo de Beleza e Valentia. Para celebrar o nascimento, a puberdade e a identidade de um clã. A dor e o sacrifício pessoal associados a escarificação representam por muitos clãs, marcas de caráter espiritual individual e um veículo de transcendência para um estado superior. É visto como um sinal de força mental e amadurecimento espiritual. Este processo levou-me a pesquisa e observação, de como a imagem corporal é vista em épocas e culturas diferentes. Desde esculturas gregas quebradas (amputadas), até qualquer forma que fui associando a imperfeições perfeitas, como, por exemplo, como o chão de uma calçada é moldado pelas raízes de uma árvore. Na arte Kintsugi, uma forma de arte japonesa do século XV, uma arte de remendar cerâmicas quebradas com folhas de ouro. Arte singular, não só visualmente, mas sobretudo pela sua representação metafórica, que ensina a filosofia do valor das imperfeições, nos objectos e nas pessoas. Cicatrizes, corpos amputados, estrias, marcas não só físicas, mas também como mentais e emocionais. As mulheres que pinto são as minhas segredistas. Seres e ferramentas de desabafos e conversas com a minha mente e sombra. Com um desejo de consciência de auto- conhecimento Sombras preciosas que nos fazem quem somos. Título inspirado no livro A Historia Fabulosa de Peter Schlemihl de Adalbert Von Chamisso.