28 setembro a 27 novembro 2022
Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
Curadoria: Catarina Boieiro e Raquel Schefer
Entre 1961 e 1974, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC) e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) travam guerras de Libertação contra o sistema fascista e colonial português, após quase cinco séculos de dominação colonial e de resistência. Nesta conjuntura histórica, a descolonização política é considerada como indissociável da descolonização da cultura e das formas visuais. A cultura e a arte são entendidas como um campo produtor de efeitos de transformação na sociedade. As Revoluções africanas são um período de libertação da palavra, da imagem e das formas de representação. Para Amílcar Cabral, a resistência política é uma forma de resistência cultural, do mesmo modo que a resistência cultural é uma forma de resistência política.
No contexto da solidariedade internacionalista das décadas de 1960 e 1970, as lutas de libertação despertam o interesse de fotógrafos e cineastas. A revista, o livro, a fotografia e o cinema são percebidos como instrumentos fundamentais para mobilizar o apoio popular e difundir a luta pela descolonização a nível internacional. Fotógrafos como Augusta Conchiglia e Tadahiro Ogawa, entre outros, documentam a luta armada e a vida nas zonas libertadas, onde se experimentavam diferentes formas de organização social e se implementavam projectos de pedagogia radical. Depois das independências, outros livros de fotografia documentam o processo de construção dos Estados-nação. Entre o militantismo e a experimentação formal, estes livros restituem a dimensão sensível dos primeiros anos de independência, período marcado pela adopção de modelos políticos marxistas-leninistas e pela busca de uma imagem descolonizada.
Reunindo um conjunto inédito de livros, fotografias e documentos produzidos entre as décadas de sessenta e oitenta, esta exposição desenha uma constelação espacial e temporal da estética de Libertação. Além de um vasto conjunto de livros, revistas, cartazes e documentos, a mostra inclui obras fotográficas e cinematográficas das décadas de sessenta e setenta de Augusta Conchiglia, Moira Forjaz, Silvestre Pestana e da cooperativa Grupo Zero. Integra também peças recentes de Daniel Barroca, Welket Bungué, Filipa César e Sónia Vaz Borges que interrogam a história e a memória, reelaboram as formas visuais da estética de Libertação e examinam a persistência de estruturas coloniais no presente.
*Exposição organizada no âmbito da programação da Saison France – Portugal 2022.*
Mais informações.