Co-produzido por Teatro GRIOT/ São Luiz Teatro Municipal, estreado em Lisboa em Outubro de 2017 na Sala Luís Miguel Cintra do São Luiz, OS NEGROS apresenta-se agora no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, dia 4 de Outubro pelas 21h30.
fotografia de Sofia Berberan e Mário César
OS NEGROS
O espectáculo delineia uma configuração topológica, constituída por três patamares, dispostos verticalmente: o espaço onde se situa a corte e a Rainha, que representa o espelho do domínio do colonizador; o espaço onde se situa a Felicidade, uma negra imponente; e a plataforma de base, que representa os colonizados, ocupada pelas restantes personagens. Esta estrutura topológica define as relações de poder entre as personagens e é nela que se constrói o espaço do drama, onde as vozes, os coros e os risos orquestrados dos negros, conferem ao espectáculo o grotesco, atingindo as fronteiras da paródia.
Uma urdidura complexa, que se compõe numa atmosfera de ritual, de cerimónia. Uma espécie de liturgia paródica.
ficha artística
texto Jean Genet - tradução Armando Silva Carvalho - encenação Rogério de Carvalho - actores Angelo Torres, Binete Undonque, Daniel Martinho, Gio Lourenço, Júlio Mesquita, Laurinda Chiungue, Matamba Joaquim, Miguel Sermão, Odete Mosso, Orlando Sérgio, Renée Vidal, Sandra Hung, Zia Soares - cenografia José Manuel Castanheira; assistente de cenografia: Pedro Silva; assistentes estagiários de cenografia: Ana Sofia Lacerda, Inês Carrilho, Filipe Alexandre Fernandes - luz Jorge Ribeiro - figurinos Catarina Graça com execução de Aldina Jesus - adereços Mónica de Miranda - desenho de som Chullage - voz e elocução Luis Madureira - coreografia Rose Mara da Silva - fotografia Sofia Berberan e Mário César – vídeo teaser David Cardoso - produção executiva Urshi Cardoso - co-produção Teatro GRIOT e São Luiz Teatro Municipal
M/14
Duração (aprox.): 2h30 c/intervalo
Local: Teatro Constantino Nery
Morada: Av. Serpa Pinto 242, 4450-263 Matosinhos
Data: 4 de Outubro (apresentação única)
Horário: 21h30
Reservas: 229392320 (10h - 18h)
Bilhetes: normal, 7,50€; c/desconto, 5€
Jean Genet, autor
Volto a repetir: esta peça, escrita por um Branco, destina-se a um público de Brancos. Mas se por um acaso muito estranho for representada para um público de Negros, será necessário, em cada sessão, convidar um Branco - homem ou mulher. O produtor do espectáculo deverá recebê-lo com a maior solenidade, fazer com que se vista de cerimónia e conduzi-lo ao seu lugar, de preferência na primeira fila da plateia. Os actores irão representar só para ele. E durante todo o espectáculo um projector incidirá sobre este Branco simbólico.
E se nenhum Branco estiver disposto a isso? Então distribuam à entrada máscaras de Brancos ao público negro. Se os Negros recusarem as máscaras dos Brancos, usem um manequim.
Rogério de Carvalho, encenador
Uma situação de choque, turbulência através de uma representação alegórica, a ironia de um ritual que termina em massacre. O espectáculo abre, para os negros, ao nível da consciência, a busca de uma identidade que não seja a imagem que o branco tem do negro. O negro quer libertar-se dessa mácula, o que lhe daria liberdade. É nessa ilusão que a peça encontra o tema da negritude. O horror do espectáculo está em tratá-lo de uma forma irónica, atingindo as fronteiras da paródia.
Nunca se deixa de ter a percepção de que a verdade do palco significa jogo por parte dos actores. Vive-se o ritual. Trata-se de um espectáculo cerimonioso, de momentos ritualísticos. Basta dizer que a representação é ritual? Que fronteira entre a representação teatral e a ritualização? Que papel conferimos aos espectadores sejam eles brancos ou negros? É necessário que a cena seja legível, em que termos para cada uma das cores? O que é ser negro quando não se vive num país negro?