Relembrar a História
Ungulani Ba Ka Khosa alia as histórias tradicionais a uma noção consciente de História. Ualapi é um romance histórico retratando um período importante do colonialismo, a resistência de Ngungunhana aos colonizadores, com tudo o que isso implica. Mas também aborda a História recente.
Ungulani Ba Ka Khosa“Quando fui para Maputo o país vivia um período muito conturbado. Moçambique tinha decretado sanções contra a Rodésia, o que foi um ato de coragem. As dificuldades começaram a aumentar e nós começámos a ter carências diversas. O Zimbabwe tornou-se independente – e nós pensámos “aqui está alguma coisa” – mas de repente a África do Sul intensificou a agressão ao país. Então nós vivemos carências enormes. Eu na altura trabalhava na [área da] Educação. Recordo-me que depois do Acordo de Nkomati [assinado em 1984, segundo o qual a África do Sul deixava de apoiar a RENAMO e o governo moçambicano deixava de apoiar os militantes do ANC que se encontravam em Moçambique], houve uma distribuição de maçãs pelas escolas. Havia crianças, nascidas depois da independência [em 1975], que não sabiam o que era uma maçã. Isto revela o grau de carência daquelas crianças.”
São precisamente estas condições de vida que servem de pano de fundo a um conto de Histórias de Amor e Espanto. “Era um ambiente de dificuldades. Havia gente que, para ficar com o cartão do abastecimento, ia enganar a administração para ter mais uns quilos de comida. Fiz essa ficção em torno desse ambiente pesado. E hoje nós contamos às outras gerações o que vivemos, vamos aos supermercados de Moçambique e eles estão cheios de comida. E eu lembro-me como era antes a paisagem no supermercado: quanto muito via-se uma barata a circular pelas montras, não havia nada. É por isso que eu digo, a literatura tem a força de trazer essas histórias, trazer esse ambiente e essa época, muito difíceis, que nós vivemos.”
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