Posso saltar do meio da escuridão e morder
O que vive abaixo da superfície da sujeição? A ausência de liberdade pode fazer morrer uma alma? A insubmissão surge como a única possibilidade de sobrevivência para uma mulher, que se descobre mulher e negra no contexto dos lugares estanques da escravatura. O percurso do espectáculo é afinal uma provação como via para a consciência. Entre o imaginário, o simbólico e o real, Daniel, Gio e Zia avançam em direcção à lucidez - na 1ª pessoa, na 3ª pessoa, por vezes em ambas - à própria palavra que gera uma voz e um corpo mineral, vegetal, animal.
Rogério de Carvalho, encenador
A Coisa impossível - traumática provém do Espaço Interior. Inicialmente tudo o que vemos é o Vazio - o Céu escuro, infinito, o abismo sinistramente silencioso do Universo, com estrelas cintilantes dispersas, que são menos objectos materiais do que pontos abstractos; depois, de súbito, ouvimos um som por detrás de nós, do nosso fundo mais íntimo, a que vem juntar-se o objecto visual, a origem desse som - a gigantesca versão dos barcos que transportam escravizados. O objecto - Coisa é assim transmitido como parte de nós mesmos que expelimos para a realidade… Também buscamos. Esta intrusão da Coisa parece trazer o alívio, suprimindo o horror de contemplar o vazio infinito do Universo.
Encenação Rogério de Carvalho Texto selecção e montagem colectiva Actores Daniel Martinho, Gio Lourenço, Zia Soares
Design de som Chullage
Design de luz Jorge Ribeiro
Apoio ao movimento Cláudia Bonina
Espaço cénico e figurinos Teatro GRIOT Fotografia Sofia Berberan Produção Teatro GRIOT
Duração aprox. 1h30 M/14