Curadoria de | Curated by Cristiana Tejo Inauguração: Sábado, 25 de janeiro às 17h Opening: Saturday, January 25 at 5 pm 26 Janeiro – 5 Abril na Galeria Avenida da Índia January 26 - April 5 at Galeria Av. da Índia 'Parede espelho', R-Humor 2020, © Catarina Simão A exposição R-humor surge da constatação de que apesar da importância do corpo de trabalho desenvolvido por Catarina Simão ao longo de mais de dez anos de criterioso mergulho nos arquivos coloniais de Moçambique, ele ainda não havia sido mostrado de forma coesa numa mostra individual em Portugal. Acreditamos que é urgente aprofundarmos a discussão sobre o passado colonial português e suas ressonâncias na atualidade, além de dar visibilidade a artistas mulheres. Fazer uma mostra de Simão é desafiador, pois trata-se de uma artista investigadora cuja prática baseia-se no questionamento das noções de arquivo em projetos de processos contínuos e lentos, que estão sempre abertos à revisão e que implicam parcerias colaborativas e diferentes formas de apresentação ao público, com displays expositivos que agregam documentação, textos, vídeos, sons e desenhos, sendo os filmes e as videoinstalações a principal forma de expressão de suas pesquisas. Como apresentar para um público diverso uma arte que é investigação tão densa?
R-humor não é uma mostra retrospectiva, mas tece um apanhado de questões e documentos presentes em grande parte das obras da artista a partir de sua mais recente pesquisa sobre o Museu de Nampula (1956), situado no Norte de Moçambique, e seu inventário fotográfico da coleção de arte Makonde, localizado recentemente num museu alemão. O material, que seria o quinto volume dos estudos sobre os Makonde feito pelos antropólogos Margot Dias e Jorge Dias durante o período colonial e que foi preterido por apresentar uma nítida influência da arte dos brancos nas esculturas, é o núcleo central da exposição. Nestes registros, evidencia-se a estratégia transgressora dos artistas colonizados ao utilizarem a sátira, ironia e o humor para retratar os colonizadores (ícones portugueses e agentes do sistema colonial), num jogo disruptivo de posicionar-se criticamente de forma subtil. O nome da exposição conecta as palavras rumor e humor ao partir da constatação da artimanha do que pode ou não pode e como pode ser dito. Na concepção de Catarina Simão refere-se à “circulação de saber que pertence tanto ao domínio público como ao do segredo e se identifica com um tipo particular de violência. Assim, as perspectivas históricas construídas em torno do próprio imaginário que os documentos reproduzem, ao assumir uma consciência da normalização subjacente à construção de um conceito de tempo (histórico, cronológico, evolutivo) armado sobre a ideia de ‘progresso’”.
As obras que compõem a exposição são constituídas de materiais oriundos de arquivos públicos e privados com variados graus de confidencialidade, tais como extratos de informação televisiva propagandística (desde 1930 até 2019) provenientes de Moçambique, Portugal, Alemanha e Estados Unidos. A artista organiza estas informações como um grande índex que deve ser decodificado pelos visitantes.
Despite the importance of the body of work Catarina Simão has been developing over the past ten years, carefully diving into Mozambique’s colonial archives, it has not yet been cohesively shown in a solo exhibition in Portugal. In addition to giving more visibility to women artists, we believe that it is urgent to deepen discourse around the Portuguese colonial past and its resonances today. Creating an exhibition of Simão’s work is challenging: she is an artist-researcher whose practice questions the notion of the archive through ongoing and lengthy projects. Her process is always open to review and implies collaborative partnerships and different forms of public presentation. Her exhibition displays include documentation, texts, videos, sound, and drawings, with films and video installations as her main forms of expression. How do we present art with such dense research to diverse audiences?
R-humor is not a retrospective, but it weaves together an overview of the issues and documents present in most of the artist’s works from her most recent research on the Nampula Museum (1956) located in the North of Mozambique, and her photographic inventory of the Makonde art collection, recently located in a German museum. The material comes from the fifth volume of studies on the Makonde done by anthropologists Margot and Jorge Dias during the colonial period. Their research, which forms the central core of the exhibition, was neglected for presenting the clear influence of art by whites on Makonde sculpture. In these records, the transgressive strategy of these colonized artists is evidenced when they use satire, irony, and humor to portray their colonizers (Portuguese icons and agents of the colonial system) in a disruptive game of being critically positioned in a subtle way. The exhibition’s title connects the words rumor and humor when it comes to realizing the trick of what can and cannot be said, and how it can be said. According to Simão, it refers to “the circulation of knowledge that belongs to both the public and secret domains, and that identifies with a particular type of violence. Thus, the historical perspectives constructed around the very imagery that the documents reproduce assume an awareness of the normalization underlying the construction of a concept of time (historical, chronological, evolutionary) reinforced by the idea of ‘progress’.”
The works that comprise the exhibition consist of materials from public and private archives with varying degrees of confidentiality, such as extracts from propagandistic televisual information from Mozambique, Portugal, Germany, and the United States (from 1930 to 2019). The artist organizes this information in a large index that must be decoded by visitors.
Programa Público / Public Program
8 fevereiro, 17h / February 8 at 5pm Conversa com / Conversation with Leonel Matusse, Tania Adams e Catarina Simão 22 fevereiro, 17h / February, 22 at 5 pm Conversa com / Conversation with Omar Thomaz, Raquel Ribeiro e Catarina Simão 1 março, 17h / March, 1 at 5 pm Conversa com / Conversation with Caio Simões de Araújo e Catarina Simão 7 março, 17h / March, 7 at 5 pmConversa com / Conversation with João Pedro George, Filipa Vicente e Catarina Simão |