ROSTOV - LUANDA
ABDERRAHMANE SISSAKO, MAURITÂNIA
1997, 59’
O realizador mauritano Abderrahmane Sissako (n.1961) regista, neste filme, a sua viagem por uma Angola que a guerra dilacerou, supostamente à procura de um velho amigo, mas, na verdade, tentando recuperar a esperança que ele próprio criara por África. Sissako conta que a independência de Angola, em 1975, representou, para si, um novo recomeço de África. Nos anos 80, como tantos jovens africanos, partiu para a União Soviética, atrás de formação técnica e política, e lá conheceu um angolano, Baribanga, cuja confiança no futuro do seu país encarnava a esperança que Sissako depositava em todo o continente. Mas os anos de guerra civil que se seguiram, entre facções angolanas apoiadas cada uma pela sua superpotência, além das outras catástrofes que se abateram sobre África, arrasaram o optimismo da geração de Sissako. “Rostov-Luanda”é pois uma expressiva resposta à desilusão que encontramos em muitos fi lmes africanos recentes, como “Afrique, je te plumerai”, “Udju Azul di Yonta” e “Tableau Ferraille”. “Rostov-Luanda” é também um fi lme construído em torno da ausência. A inapreensibilidade do seu tema, manifesto num tropo pós-moderno, recentra a nossa atenção no cineasta e
na sua resposta – ou falta dela – ao meio envolvente, ao impremeditado.
Assim, em “Rostov-Luanda”, o ’tema’ desliza continuamente da procura de Baribanga para o encontro de Sissako, com a realidade angolana dos anos 90.
eng version
Mauritanian director Abderrahmane Sissako (b. 1961) records his journey across war-torn Angola to fi nd an old friend but really to recapture his own hopes for Africa. He explains that Angolan independence in 1974 represented to him a new beginning for Africa. Like so many young Africans, he went to the Soviet Union in the 1980s for political and technical training and met an Angolan, Baribanga, whose confi dence in his country’s future embodied Sissako’s own hopes for the continent. But the intervening years of civil war between Angolan factions each backed by a superpower and all the other catastrophes plaguing Africa have devastated the optimism of Sissako’s generation. Rostov Luanda is thus a signifi cant response to the disillusionment found in many recent African fi lms, including Afrique, je te plumerai, Udju Azul di Yonta and Tableau Ferraille. Rostov Luanda is also a film built around an absence. The elusiveness of its ostensible subject in a familiar postmodern trope turns attention back on the fi lmmaker and his response – or lack of response – to his immediate surroundings, to the unpremeditated… Thus in Rostov Luanda the ‘subject’ continually drifts from the search for Baribanga to Sissoko’s encounter with the reality of Angola in the nineties. Rostov Luanda is a travel fi lm and was premièred at Documenta X in Kassel, in 1997.
9 JULHO / JULY 22:00
Próximo Futuro, Gulbenkian