Universidade de Lisboa discute fronteiras, jihadismo e alterações climáticas no Norte de África
A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa será o cenário de um colóquio de dois dias, que trará a Portugal especialistas dos EUA, de Marrocos, dos Países Baixos e do Reino Unido, para discutirem, com académicos portugueses, temas como fronteiras, jihadismo, alterações climáticas e conflitos espoletados pela disputa da água no Sahel, e a sua dimensão histórica associada ao Magrebe e à Península Ibérica.
“O Sahel, o Magrebe e a Península Ibérica: Fronteiras, Trânsitos e Conflitos” é o nome deste encontro científico, que se realizará entre 28 e 29 de maio, e que reunirá investigadores das áreas da história medieval e contemporânea, da arqueologia, da antropologia, da sociologia e da política.
O historiador neerlandês Joas Wagemakers, da Universidade de Utrecht, que se distinguiu com a obra A Quiet Jihadist: The Ideology and Influence of Abu Muhammad al-Maqdisi (2012), redigida a partir da entrevista a este ideólogo da al-Qaeda, será o orador principal e abrirá os trabalhos. Da sua investigação, fazem parte estudos sobre o pensamento salafista, a Irmandade Muçulmana, o Hamas e os direitos das mulheres no mundo xiita e na Arábia Saudita.
A discutir noções de fronteira e fronteiro durante a presença portuguesa em Marrocos, no século XVI, estará o historiador Gonçalo Matos Ramos (Universidade de Lisboa). O antropólogo e historiador marroquino Rahal Boubrik (Universidade Mohamed V de Rabat) centrar-se-á na jihad lançada pelo shaykh Ma’ al’Aynayn contra espanhóis e franceses, na Mauritânia, entre o final do século XIX e o princípio do século XX. Já o antropólogo Francisco Ramos (Universidade Nova de Lisboa) contribuirá para este debate sobre fronteiras e colonialismos com uma análise sobre a revisitação contemporânea de políticas postas em prática na Mauritânia pós-independência.
A influência dos almorávidas no território do Sahel e do Magrebe será também explorada. O arqueólogo britânico Timothy Insoll (Universidade de Exeter) abordará as redes de circulação e os vestígios deixados por esta confederação política que, entre meados do século XI e meados do seguinte, construiu um império que se estendia entre as margens dos rios Senegal e Níger até ao Tejo. A historiadora Inês Lourinho (Universidade de Lisboa), por sua vez, analisará um “artigo” de uma revista do DAESH, que recorre à memória dos almorávidas para legitimar politicamente grupos jihadistas contemporâneos.
Ricardo René Larémont, cientista político e sociólogo norte-americano, da Universidade de Binghamton, trará a discussão para os violentos conflitos entre pastoralistas nómadas e agricultores do Sahel, em virtude das alterações climáticas, que têm levado ao recuo das bacias hidrográficas. Um cenário de instabilidade e de condições de vida frágeis favorece o aparecimento de grupos armados. Outro cientista político, o norte-americano Aaron Y. Zelin, da Universidade Brandeis, falará do recrutamento de combatentes para o jihadismo global. Criador do site Jihadology, que acompanha as comunicações de redes jihadistas, Zelin abordará o percurso de Abu ‘Iyad al-Tunisi, um destacado membro da al-Qaeda ao tempo de Usama b. Laden e depois de Ayman al-Zawahiri.
O historiador Hermenegildo Fernandes, diretor da Faculdade de Letras, e especialista nas transições entre as sociedades islâmicas e cristãs no Ocidente Peninsular medieval, fechará os trabalhos, com uma reflexão sobre as temáticas em debate, procurando estabelecer linhas de raciocínio e continuidades entre a Idade Média e a contemporaneidade.
Cada dia do colóquio será concluído com uma mesa-redonda, que viverá do animado debate entre os vários oradores, uma importante contribuição para aclarar e pensar questões com impacto direto na nossa sociedade.