Amo o português quando o Ronaldo tem a bola
Isto serve para dizer que os sintomas do meu amor pela língua portuguesa florescem-me a pele quando os poetas têm a palavra.
Aprecio cada partida deste jogador como um livro em produção, uma leitura que assisto espectante, um livro que tenho o privilegio de acompanhar enquanto este autor de obras incríveis na galeria do futebol mundial a escreve com a cabeça, o peito e seus longos pés, sigo entre as linhas de passe como invenções de frases geniais.
O Ronaldo joga como os poetas falam e escrevem, sem gravatas, sem dizeres, nem lances oficiais, os outros jogam com mecânica como se escrevessem documentos oficiais.
A língua tem de ter a ousadia deste craque, criar possibilidades em ataque, penetrar como águas a roer pedras duras, como os académicos, defesas brutos e brutais da língua portuguesa, que de tanto a defenderem marcam auto-golo e assim perdem para outras línguas…
A língua portuguesa tem mais de duzentos e tal milhões de jogadores em diferentes continentes e estima-se que até 2100 serão quinhentos milhões. Se deixarem todos recriarem como o Ronaldo, teremos motivos para amar a língua na boca de qualquer um que fazer passes criativos baseados nos costumes da sua tribo.
Quando um poeta acerta no verso como o Ronaldo no passe, tenho a mesma sensação de quando a minha filha me acerta com o sorriso em direção aos meus olhos.
