O colonialismo não terminou no Médio Oriente!
Após a II Guerra Mundial, quando em praticamente todo o mundo colonial europeu se «pressagiava» o ocaso do colonialismo, no dia 29 de Novembro de 1947 a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) propõe, mediante a aprovação da resolução 181, a divisão do território da Palestina seguindo o plano proposto pelos EUA e União Soviética e que é aplicado pela Grã-Bretanha, na qualidade de «administrador» do território oficialmente reconhecido pela defunta Sociedade das Nações (SDN). A fundação de Israel em 1948 significou, na prática, uma nova partição colonial, lembrando um pouco a partilha de África na Conferência de Berlim em 1885. Deste modo, longe de estarmos perante continuidades coloniais característicos das ex-colónias europeias - ou o que o peruano Anibal Quijano (1992) apelidou de colonialidade do poder e do saber, assiste-se a um colonialismo israelita que, ao contrário do que se apregoa, não se fundamenta na defesa e segurança do Estado perante os vizinhos e «inimigos» árabes ou no alargamento do seu território, mas no domínio regional de um recurso natural ainda mais precioso do que o petróleo e que poderá alimentar a emergência de novos regimes coloniais no século XXI: a Água.
Tal como na «Guerra dos Seis Dias» em 1967, em que o controlo da água foi um dos propósitos fundamentais de Israel, com a recente pretensão de expandir os assentamentos em Jerusalém Oriental, o actual governo deste Estado mostra que, em relação ao anterior governo do Kadima liderado por Ehud Olmert, a sua ambição de alargar o controlo da água na Palestina continua inalterável apesar de já dominar cerca de 85% dos recursos hídricos das áreas sob jurisdição da Autoridade Palestiniana.
Denotando total indiferença em relação às críticas internacionais, particularmente do mundo árabe-muçulmano, e com beneplácito do seu principal aliado - os Estados Unidos da América (EUA) liderado pelo prémio Nobel da Paz Barack Obama -, o primeiro-ministro israelita Benjamim Netanyahu lidera este processo de colonização sob a capa ideológica da defesa do conceito de «Grande Israel» [que inclui as fronteiras bíblicas de Israel incluindo a Cisjordânia]. Este actual homem forte do partido Likud, simultaneamente um falcão realista e ultraliberal, regressa ao poder em Fevereiro de 2009 beneficiando do «esquecimento» do radicalismo e conservadorismo que demonstrou como primeiro-ministro entre 1996 e 1999 após o assassinato de Itzhak Rabin - o único líder judeu que até então ousou pôr em causa a política colonial israelita na Palestina.
Perante este panorama, surge inevitavelmente a questão: Quid Juris para intervenções externas coloniais do século XXI?