O rap é misógino?
No recreio de uma EB 2,3 ou secundária ouvir aquilo causava alvoroço em qualquer turma. A agressividade dos versos acabava rapidamente arremessada a uma qualquer rapariga apelidada de oferecida. O ano era 2001 e “Vaca de Merda” de Xegecoava pelos recantos de escolas no país inteiro. Foi o primeiro grande embate com a misoginia no hip-hop nacional. Em pouco mais de quatro minutos, o rapper de Porto Salvo usa a palavra “cona” sete vezes e “puta” mais de uma dezena, numa coleção de estrofes centrada nos supostos hábitos sexuais desse grupo mulheres que, para ele, não são dignas de respeito. O chorrilho de insultos particularmente grosseiros é um caso paradigmático de slut shaming - uma humilhação direcionada com base na suposta promiscuidade do outro. Ou melhor, da outra. Afinal, esta forma de discriminação tende a ser usada quase sempre contra mulheres.
O tema está longe de ser um caso isolado no hip-hop tuga, mas quase vinte anos depois mantém-se como um dos exemplos mais perturbadores da lírica nacional. A misoginia na música não é um fenómeno novo, nem um exclusivo do hip-hop. No Brasil, o projeto Música Machista Popular Brasileira (MMPB) expõe bem como está normalizada nos discursos de outras paragens musicais como o sertanejo, a bossa nova ou o funk carioca. Por cá, sabemos que a música popular (vulgo música pimba) tende a perpetuar estereótipos de género, vulgarizando muitas vezes a mulher. No entanto, o hip-hop destaca-se pela maneira como o faz: particularmente visceral e muitas vezes agressiva. Assinalando o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, analisamos as letras de mais de 40 artistas de rap e desvendamos quem usa mais termos misóginos no hip-hop tuga.
Um comportamento recorrente embebido na sociedade
A primeira vez que BLINK se impediu de cantar uma rima, estava num concerto de Regula. Quando a plateia feminina entoou “As duas juntas fazem-me coisas que tu não imaginas / metem as bolas na boca e dizem que estão com anginas”, na música “Casanova”, ela manteve-se em silêncio enquanto tentava digerir o choque. Não era que não tivesse ouvido os versos antes, mas pareceu-lhe errado cantar aquilo sendo mulher. Para a rapper, é possível distinguir o conteúdo da forma. As rimas, a sua métrica e cadência são atrações que por vezes até ofuscam o conteúdo, pelo menos numa primeira audição. Mas as palavras dissecadas deram-lhe a volta ao estômago.
BLINK começou a rimar ainda adolescente, há sensivelmente uma década. Participou no álbum “∞” das A.M.O.R. e lançou uma mixtape a solo em 2014, mas acabou por afastar-se da música durante alguns anos. Entretanto, traçou o seu caminho enquanto designer e ativista, organizando as três edições nacionais da exposição de arte Nasty Women. Este encontro com o feminismo ajudou-a a reconfigurar a sua própria relação com o hip-hop. Foi nessa altura que se apercebeu que “não era uma questão de boys will be boys. É um problema, um padrão, um comportamento recorrente que está embebido na sociedade. E acabas por ouvir outros que, se calhar, 60% da música é capaz de ser interessante, mas que depois tens uma ou duas ali que mexem mais contigo, porque já é mais forte e já ouves aquilo de outra forma, porque se calhar ouvir «os meus manos furam e surram nela / Trituram-lhe a goela, destructuram-na, desfiguram-na mêmo naquela» já te faz confusão até fisicamente”. Estes versos que citou saem da participação de Valete em “…(Mais Pesados da Capital)”, uma colaboração com Xeg em que também entram Regula e Sam The Kid.
Longe de ser a sua única manifestação, a agressão verbal é uma das materializações mais normalizadas da violência de género. No hip-hop, o uso de calão é regra. Afinal, é assim que se fala no bairro, mas entre “puto” e “puta” há uma distância sem fim.
No gráfico abaixo estão os termos de calão e calão misógino com maior número de ocorrências, nas mais de mil letras de canções de hip-hop tuga que escrutinámos. Aceitámos como calão misógino insultos a mulheres, e nomenclaturas ordinárias para órgãos sexuais, esperma, bem como sexo oral e anal. Importa clarificar que estas trocas dos substantivos habituais não são misóginas por si só, mas são aqui incluídas porque tendem a ser utilizadas maioritariamente nestes contextos. Considerando o número de entradas, podemos dizer que a ofensa máxima com que se pode diminuir uma mulher aparece a cada seis temas de rap nacional.
Na música, como noutras expressões culturais, a mensagem acaba quase sempre amplificada. “Se a música nos fica no ouvido, de alguma forma temos a tendência ir trauteando e repetindo. Isso vai veiculando neuronalmente uma lógica e uma prática, que é reproduzida para outros ouvirem. E essas reproduções de lógicas de hiper-sexualização, de poderes assimétricos, de tratar a mulher como mero objeto sexual são muito preocupantes”, a explicação de Dalila Cerejo alicerça-se no estudo destes fenómenos. Se a normalização de discursos que glorificam a objetificação da mulher e violência sexual ainda parece inócua para alguns, os números são claros. Entre 2013 e 2018, os crimes sexuais em Portugal mais do que duplicaram.[1] Enquanto a maioria das vítimas (92%) é do sexo feminino, os agressores são predominantemente do sexo masculino (94%). Na Europa, dados de 2014 indicam que uma em cada vinte mulheres já foi violada.
O trabalho de Mynda Guevara está assente sobre uma fundação de rap consciente, cuja meta é dar luz aos problemas sociais tantas vezes varridos para debaixo do tapete. Uma das prioridades da rapper da Cova da Moura foi distanciar-se deste tipo de conteúdos, que considera despropositados: “Desde muito cedo que comecei a fazer essa separação do que vale a pena ouvir, do que não vale a pena ouvir e do que já passa a margem do respeito em relação ao outro, neste caso à mulher. Nunca gostei de videoclipes que expusessem a mulher de forma inadequada. Ou seja, que retratem a mulher como símbolo sexual. Nunca gostei de sons que falam mal de mulheres só para o som bater. Nunca gostei de conteúdos em que a mulher tem um papel bastante inferior ao que podia ter.”
Nem todas as mulheres que entram no jogo o fazem da mesma maneira. As duas rappers mais conceituadas da atualidade, Cardi B e Nicki Minaj, cultivam imagens profundamente sexualizadas, mas onde uns veem a perpetuação de um estereótipo, outras veem libertação e fortalecimento sexual e pessoal.Sistematicamente vítimas de ataques pelo modo como escolhem dirigir a sua carreira, as MCs acabaram alvo de outro tipo de sabotagem. O que podia ter sido uma história de apoio e companheirismo transfigurou-se rapidamente numa rivalidade atiçada, igualmente, pelos que estavam de fora.
BLINK recorda a sua participação na Liga Knock Out com algum desgosto. “Tenho pena de ter batalhado contra a Sharye. Ela era mesmo muito boa, mas tenho pena de ter batalhado contra uma mulher, porque acho que houve essa intenção de nos porem uma contra outra. Aliás, ainda hoje em dia se faz isso – instigam A e B uma contra a outra para criar uma inimizade real. E eu, na altura, por ignorância, achava isso fixe. Porque se era para haver apenas uma mulher, então queria ser eu. É um pouco o que fazem nos EUA: ou é Cardi B ou é Nicki Minaj, mas uma tem de conseguir o trono. E isso é mau. Hoje penso na batalha de um modo completamente diferente. Eu gostava e achava muito mais interessante que fosse uma rapariga contra um rapaz. Não percebo por que é que tinha de haver duas ligas.” A rapper batalhou com apenas 16 anos, em 2012.
Falar em nome próprio sobre um problema que é de todos
“Violência doméstica, aquela questão de o pai sair de casa e deixar a mãe com dois ou três filhos para criar sozinha… Todas as questões em torno do hustle da mulher e da sua luta todos os dias” - para Mynda Guevara, a legitimidade de falar sobre estes temas acaba por estar do lado feminino. Segundo a APAV, em 2019 foram registadas mais de 23 mil queixas de violência doméstica em Portugal – uma média de 65 por dia, num crime em que as mulheres constituem cerca de 80% das vítimas[2]. A lírica do hip-hop nacional desde cedo serviu para que as mulheres impusessem o seu lugar de fala na ilustração dos acentuados desequilíbrios de género cristalizados no quotidiano. “O homem prossegue assim nessa saga de humilhação / tratando a sua Maria como animal de estimação” são versos de “Revolução (Agora!)” de Djamal; o tema fazia parte do alinhamento do primeiro álbum de hip-hop nacional assinado por mulheres. “Abram Espaço” foi editado em 1997 pela BMG.
A legitimidade na denúncia destes flagelos não significa a imobilidade do outro. Existe uma tendência para pensar estas problemáticas como algo de preocupação reservada às mulheres, mas o impacto alcança o lado oposto. Os jovens de hoje serão os pais de amanhã e poderão ter filhas, também elas sujeitas à violência e opressão pela sua condição feminina. Como é que a misoginia se expressa no hip-hop? Como em quase tudo na vida. BLINK detalha: “de todas as formas que possas imaginar: é presencialmente, é pelos comentários, é pela forma como te abordam, é pelo que dizem nas letras, é pela forma como te respondem quando queres colaborar… ou mesmo até (e isto acaba por ser triste), até na forma como te apoiam e dizem «Tu para miúda até rimas bem» ou «eu por norma nem ouço mulheres»”.
Se o rap é misógino, como medimos isso?
Criámos uma escala de níveis de calão com base no Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas do projeto Natura da Universidade do Minho, que diferencia cinco níveis de registo de língua - do coloquial ao calão extremamente carroceiro. Assim, de cada vez que um termo em calão surge numa canção, isso corresponde a uma determinada pontuação. Por exemplo: “gajo” é coloquial, conta um ponto; “merda” é calão carroceiro, são 3 pontos. Depois, filtrámos os termos misóginos e identificámos quais apareciam nas letras. No total, analisámos mais de 1100 canções de 40 artistas de rap nacionais. No gráfico abaixo, podes explorar as pontuações média e máxima relativas à utilização de calão e de calão misógino de cada artista. Quanto mais alta for a pontuação, pior o resultado.
Clica AQUI para aceder aos gráficos por artista.
Se é certo que a utilização contínua de certas grosserias tende a denotar misoginia, nem sempre é esse o caso. Por exemplo, “DPDC” de Kappa Jotta é uma das canções com mais termos misóginos, mas à primeira vista não será propriamente misógina. A ordem “desliga a puta da câmara” repetida mais de uma dezena de vezes demonstra, contudo, a banalização no emprego de termos ofensivos para a mulher no dia-a-dia. Por outro lado, uma música pode ser particularmente violenta sem recorrer necessariamente a este tipo de expressões.
Para uma visão comparativa equilibrada, criámos duas classificações gerais: uma relativa ao número de palavras únicas por artista; outra relativa ao número de temas. Deste modo, conseguimos uma visão geral da expressão da misoginia em relação ao todo da sua obra, mas também em relação à diversidade vocabular de cada artista.
Classificação geral de misoginia por número de palavras (top 10)
Classificação geral de misoginia por número de canções (top 10)
Como ler estas tabelas? Relativamente aos resultados por palavras, por exemplo, a cada 100 palavras 9 Miller tem uma pontuação de 4 – ou seja, utiliza um termo misógino em calão muito carroceiro, o segundo mais grave da escala. No que respeita à pontuação por canção, em média por tema, o mesmo rapper usa uma combinação de termos que chega quase aos sete pontos.
No fundo das tabelas, como bastião de um trabalho maioritariamente livre de referências misóginas, estão Agir e Waze. Das 26 e 12 letras que analisámos, respetivamente, nenhuma delas continha este tipo de calão. No indicador por palavras únicas, Slow J e Sir Scratch são os menos misóginos. Já o desfecho por número de canções, coloca Slow J, Piruka e Bispo nas melhores posições. LON3R JOHNY também surge bem classificado, mas como as suas letras são muitas vezes uma mistura de português e inglês o resultado final pode ser enganador.
A infiltração de misoginia invisibiliza para lá das rimas
A misoginia no hip-hop não se restringe ao conteúdo das letras. José Alberto Simões (FCSH, UNL) salienta que as mulheres mantêm-se uma minoria no hip-hop nacional, bem à semelhança do que acontece noutros países, como os EUA.No entanto, reforça que “desde os primórdios (…) que encontramos praticantes do género feminino em todas [suas] vertentes”. O sociólogo dedicou uma parte significativa do seu trabalho à caracterização das várias disciplinas do movimento em Portugal ao longo dos tempos. No mesmo artigo de 2013[3] o investigador denuncia como possíveis causas deste desequilíbrio “factores estruturais, transversais a diversas esferas de atividade, que tendencialmente remetem as mulheres para papéis secundários, subalternos ou simplesmente dando menor visibilidade ao seu protagonismo em determinada área”. Assim, podemos pensar no hip-hop como uma micro-realidade desenhada à imagem da sociedade em que vivemos, onde a desigualdade entre géneros é sistémica.
“Sinceramente, não sinto que haja igualdade entre géneros no hip-hop. Nós, mulheres que fazemos rap, temos quase que estar com uma bandeira no meio deles. E dizer «estamos aqui, também fazemos rap além de sermos mulheres»… O rap é visto como uma coisa para homens e acho que somos desprezadas nesse sentido.” Da condescendência à falta de visibilidade e de oportunidades, a experiência de Mynda Guevara reflete bem a forma como as mulheres são menorizadas no espaço do hip-hop, acrescentando “temos de trabalhar duas ou três vezes mais para podermos chegar ao mesmo patamar que um homem com duas ou três músicas em que não está a falar nada”.
Soraia Simões de Andrade (HTC/FCSH, UNL) tem-se debruçado sobre a história do rap no feminino em Portugal, evidenciando que a narrativa dominante não faz justiça ao papel das mulheres na edificação e validação do movimento.[4] O seu trabalho demonstra que grupos femininos como as Djamal e as Divine, que gravaram ainda nos anos 90, viram a sua presença muitas vezes apagada pelos que têm ajudado a fabricar a memória do hip-hop nacional. No ano passado, a historiadora sublinhou numa carta aberta a inconsequência de celebrar a História do Hip-Hop Tuga, no Dia Internacional da Mulher, com apenas uma mulher num cartaz onde figuravam quatro dezenas de homens. A única a subir ao palco nesse evento foi Capicua. A rapper do Porto tornou-se um nome incontornável da cena nacional na última década, mas o seu percurso não derrubou barreiras sozinho. Branca e de classe média, foi quase irónico que a delegada singular do hip-hop feminino naquela noite representasse muito pouco do resto da sua comunidade.
Este apagamento da mulher é transversal aos outros universos que populam o hip-hop. Afinal, foram muitas as que tiveram um papel ativo e determinante nessa criação de públicos e disseminação da cultura. Casos da Joana Nicolau, que escreve regularmente sobre hip-hop desde 2003 e fez parte de meios como H2Tuga, IV Street e Trinsheira; da Isilda Sanches, que manteve o rap no ar na rádio Oxigénio desde o aparecimento da estação no ano 2000; da Joana Perez que levou o género para a emissão da Cidade FM em 2016, dando-lhe exposição numa rádio virada para as massas, e continuando mais tarde esse trabalho pioneiro no seu canal de YouTube; da Alexandra Oliveira Matos, jornalista para o Rimas e Batidas há vários anos; da Núria R. Pinto, que mensalmente, desde 2017, constrói a ponte com o hip-hop brasileiro na rubrica Terminal 1 para o programa do Rimas e Batidas da Antena 3; e de tantas outras cujos nomes se vão perdendo à medida que os anos avançam. Na fotografia, Nash Does Work e Sara Hawkkk tornaram-se as grandes referências do hip-hop (e até da música em geral), criando os retratos do movimento há vários anos, elevando a sua imagem a níveis difíceis de conceber há pouco mais de uma década.
O fundo do túnel
Desde o seu início, o rap tem sido um precioso aliado de grupos geralmente afastados dos centros de poder. Denunciando problemas como racismo e a exclusão social das periferias suburbanas, tem sido uma arma de intervenção sobretudo dos mais novos, permanentemente excluídos do debate público sobretudo em contextos menos privilegiados. Mas se a matriz original do rap é a expressão dos que vivem à margem do sistema, os problemas sociais que assaltam as mulheres também têm de ser ouvidos. E bem alto.
BLINK regressou aos singles este ano com “Construct” e colaborou com ZA em “Nestea”. Mynda Guevara editou em fevereiro o single “Na Nossa Língua” e “Ês Teni Medu”, ao lado de Juana Na Rap, no final de julho.
Artigo originalmente publicado em Interruptor a 25/11/2020
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Para a realização deste artigo tentámos contactar alguns rappers da lista analisada. O único que se disponibilizou para conversar sobre o assunto foi Papillon. Infelizmente, o “sim” já não chegou a tempo de ser incluído no artigo.
Notas metodológicas
Recolhemos as letras de uma série de artistas com maior visibilidade no hip-hop nacional. A nossa amostra final totaliza 1127 canções de 40 artistas de hip-hop tuga; foi recolhida ao longo de novembro de 2020. Em baixo os critérios de seleção, com uma enumeração não exaustiva de artistas excluídos em cada um dos pontos:
- canta maioritariamente em português (Julinho KSD, Landim, Rafa G)
- tem, pelo menos, um álbum editado em nome próprio (Gson, Mundo Segundo, Yuri NR5, Yuzi, xtinto)
- tem mais de 5 mil ouvintes mensais no Spotify (Ace, Berna, Blasph, Beware Jack, Chullage, Fuse, Maze, nastyfactor, Orteum, Real Punch, Tribruto)
- tem a letra de, pelo menos, 10 temas enquanto artista principal na plataforma Genius (5-30, Deezy, Vado Más Ki Ás)
- tem a maior parte (aprox. 60-70%) das suas letras disponíveis na plataforma Genius (Bob da Rage Sense, Dengaz, Malabá, Mind da Gap, NBC, Sacik Brow); este critério foi aplicado a artistas com reportórios mais longos, mas com lacunas na disponibilidade de letras. Achámos que, nestes casos, a amostra seria pouco representativa do seu trabalho e preferimos deixá-los de fora.
Entradas de grupos e artistas individuais estão contabilizadas separadamente. Exemplo: Harold e Papillon não contam para o resultado de GROGNation e vice-versa.
Parcerias estão contabilizadas como parte da obra do artista principal por partimos do princípio que a contribuição dos convidados é semelhante a esse posicionamento.
Inicialmente, incluímos o Deejay Telio. “Rata” ficou assinalada como a canção mais misógina da amostra. Contudo, considerámos o valor demasiado atípico e excluímo-lo dos resultados finais. O artista do Vale da Amoreira tinha uma pontuação de misoginia média acima de sete, fortemente inflacionada pela repetitividade generalizada dos seus temas.
Decidimos deixar de fora o rap feminino, por considerarmos que a amostra não seria representativa, uma vez que a maior parte das letras de MCs mulheres em Portugal não constam no site Genius.
Relativamente aos vocábulos de calão e respetiva classificação, retirados do Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas do projeto Natura da Universidade do Minho, mantivemos a listagem praticamente intacta. Usámos apenas os termos com classificação de nível de língua. Excluímos, contudo, os termos “vale”, “pinto” e “tipo”, por considerarmos que a sua utilização neste contexto seria feita predominantemente com os sentidos habituais, distorcendo os resultados finais.
O código desenvolvido no âmbito deste artigo está aberto e disponível no GitHub do Interruptor.
Referências
- Crimes Sexuais 2013-2018
Estatísticas APAV
- Relatório anual 2019
Estatísticas APAV
- Simões, José Alberto. «Entre percursos e discursos identitários: etnicidade, classe e género na cultura hip-hop»
Revista Estudos Feministas, vol. 21, n. 1, Abril de 2013, pp. 107–28. DOI.org (Crossref), doi:10.1590/S0104-026X2013000100006.
- Simões, Soraia. «RAPublicar: a micro-história que fez história numa Lisboa adiada» :
[audiolivro, 25 entrevistas] 2017.
- Contador, António Concorda, editor. Ritmo & poesia: os caminhos do rap. Assírio & Alvim, 1997.
- Simões, José Alberto. Entre a rua e a Internet: um estudo sobre o hip-hop português. 1a ed, Imprensa de Ciências Sociais, 2010.
- «Portugal | Index | 2020 | Gender Equality Index»
European Institute for Gender Equality, acedido 25 de Novembro de 2020.
- «Browse Gender Statistics | Gender Statistics Database»
European Institute for Gender Equality, acedido 25 de Novembro de 2020.