Zé da Guiné - Lisboa
Há muito tempo perguntaste:
- É quem o Zé da Guiné? Fez o quê? Esta atenção nele?
Não liguei nenhuma, nada. Hoje dia da sua partida respondo.
Tem paciência.
Fez o quê, o Zé da Guiné, político não foi, não fez filmes, também livros não.
Ele foi ele mesmo. Nos filhos, nas redes, na cidade. Criou chão.
Chegou talvez depois do preto-da-guiné-lava-a-cara-com-café.
O nome logo ali a frente, sem quês. O nome arrumava a coisa de uma vez, para poder cheirar Lisboa, e depois o sorriso mostrar a Cidade.
Lá dentro a história vive calada. O corpo a falar dela e a voz a criar chão. Os filhos, as redes, a cidade saltaram acima na sua presença. Pontes.
O corpo único. Veio o vento que tira orelhas. A sua flexibilidade-Papel dobrada numa cama depois cadeira depois cama. Muito tempo. Cuidadores cuidam. A palavra torce e vem lá longe, no oxigénio surdo. Traduz quem pode ouvir.
Os meninos,
- e bamboleava já de ladex, ali firme, a testemunhar o movimento vida que passava ali. Sim-sim, passava sim, à volta e dentro –
os meninos, não os estão a deixar saber, os ministérios não deixam, os meninos na escola e na televisão a cegar, não vão saber ler. África.
Agora o desperdício ao contrário.
Se houvesse uma palavra em português (queres agora encontrá-la JLP?), se soubesse uma palavra em português para designar
“aquele que lida vivaz com a vida”
dizíamos, se fosse capaz de ouvir uma só língua Bantu a fundo, escrevíamos.
Assim fica só combatente. Mas com os és abertos.
O negro grande e belo e vivaz que se fez sozinho cidadão de Lisboa, obedecendo a uma remota linhagem sua.
Chão Papel. Fértil demais.
Para o tempo.
1.Nov.2013
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