Contos de Lisboa de Mónica de Miranda expõe memórias da cidade pós-colonial

Inauguração: 18 de fevereiro, terça-feira, 18h30

Exposição patente de 19 de fevereiro a 16 de maio

Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico
Rua da Palma, 246 | 1100-394 Lisboa

A artista Mónica de Miranda inaugura no dia 18 de Fevereiro, pelas 18h30, no Arquivo Municipal de Lisboa, a exposição Contos de Lisboa, com curadoria de Bruno Leitão e Sofia Castro.

A actual exposição da artista e investigadora insere-se no projecto Pós-Arquivo, que envolve a criação de um arquivo digital com documentos, vídeos, áudio e fotografia, reunidos no âmbito da sua ampla pesquisa sobre as relações que se estabelecem entre migrações, associadas à descolonização e aos movimentos independentistas africanos, e as paisagens urbanas da Europa. Paralelamente, Contos de Lisboa assinala a doação do arquivo de trabalho da artista, composto por 239 imagens em bruto que retratam bairros informais da antiga Estrada Militar, ao Arquivo Municipal de Lisboa.

O arquivo de Mónica de Miranda reúne imagens captadas ao longo de mais de uma década de pesquisa nos bairros do Talude, Azinhaga dos Besouros, Fim do Mundo, Mira Loures, 6 de Maio e outros bairros localizados na periferia da cidade. O conjunto de imagens agora doadas ao Arquivo Municipal de Lisboa constitui um importante registo visual das geografias pós-coloniais da cidade e antecipa a transformação, nalguns casos a demolição total, dos bairros que até há poucos anos dominavam o traçado da Estrada Militar. A Estrada Militar Caxias-Sacavém ou Estrada Militar de Defesa de Lisboa mantinha na periferia da cidade os habitantes, maioritariamente imigrantes de origem africana, dos bairros informais que nos anos 70 do século XX começaram a marcar a paisagem da histórica circular, prosseguindo, ironicamente, o propósito que no início do século XIX orientou a sua construção - proteger a cidade contra invasões estrangeiras.

“A exposição Contos de Lisboa surge deste arquivo visual criado ao longo de uma década, mas é muito mais do que a recolecção fotográfica destes bairros, é um objecto polimórfico, uma continuação desse arquivo inicial composto por fotografias”, descreve o curador Bruno Leitão no texto que acompanha o projecto. O curador prossegue: “A artista mergulha num processo inquisitivo e humanizante destes lugares e ao ficcionar estes espaços cria um exercício de empatia. Uma possibilidade de reconhecermos emocionalmente uma Lisboa fora do centro, mas que se afirma por dentro”.

No Arquivo Fotográfico de Lisboa, Mónica de Miranda apresenta um conjunto de trabalhos de fotografia e vídeo, na sua maioria novas obras como Tales of Lisbon (2020)Timeline (2020) e Torres Gémeas (2020), bem como o vídeo Estrada Militar (2009), criado na fase inicial da sua pesquisa. A exposição integra também uma instalação de som e fotografia que retrata seis casas que foram alvo de demolição, ali convocadas a partir de imagens de objectos deixados para trás pelas pessoas que nelas habitavam e que posteriormente foram recolhidos e fotografados pela artista. Uma cassete de VHS com o título “Arma Mortífera”, uma cassete de áudio partida com marcas de lama, um dicionário sem capa, apontamentos do curso de economia política da Universidade de Lisboa, um vinil, uma boneca e sapatilhas “Deeply”, são alguns dos objectos que estarão presentes na instalação, junto com seis contos inéditos de Djaimilia Pereira de Almeida, Kalaf Epalanga, Yara Monteiro, Ondjaki e Telma Tvon, autores que foram convidados a imaginar universos habitados a partir dos objectos recolhidos nas imediações de cada casa. 

Contos de Lisboa estará patente até dia 16 de maio, contempla a edição de um catálogo com os seis contos originais, textos de Jorge MalheirosManuela Ribeiro SanchesSónia Vaz Borges e outros contributos. Na sala de leitura do Arquivo Municipal de Lisboa será possível aceder à página da internet do projecto Pós-Arquivo, onde Mónica de Miranda disponibiliza um arquivo em permanente actualização e, particularmente, as imagens dos objectos encontrados nas seis casas.

Além da actual exposição, a pesquisa que o arquivo sobre a paisagem da Estrada Militar materializa, está na base de trabalhos que a artista tem vindo a apresentar, individualmente ou em colectivo, em contextos como o Prémio Novos Artistas Fundação EDP 2019 (MAAT, Lisboa), a exposição e publicação Devir Menor: arquitecturas e práticas espaciais críticas na iberoamerica, Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, e na investigação e exposição Underconstruction and New territories 2009 (Pav28, Lisboa).

Mónica de Miranda é uma artista visual e investigadora portuguesa com origem angolana. Baseia o seu trabalho em temas de arqueologia urbana e geografias pessoais, apresentando-o na forma de desenho, instalação, fotografia, vídeo e som, e prosseguindo uma pesquisa que procura esbater fronteiras entre ficção e documentário.

Foi nomeada para o Prémio EDP Novos Artistas (2019), o Prémio Novo Banco (2016) e para o Prix Pictet Photo Award (2016). Participou em eventos artísticos de relevo, como os Encontros Fotográficos de Bamako (2015), a Bienal de Arquitectura de Veneza (2014), a Bienal de Dakar (2016), e em inúmeras residências artísticas, de entre as quais se destacam: Artchipelago (Instituto Francês, Ilhas Maurícias, 2014); Verbal Eyes (Tate Britain, 2009); Muyehlekete (Museu Nacional de Arte, Maputo, 2008); Living Together (British Council/ Iniva, Georgia/London 2008).

Começou a expor em 2004 e das suas exposições individuais destacam-se: Hotel Globo (Museu Nacional de  Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa, 2015); Arquipélago (Galeria Carlos Carvalho, Lisboa, 2014); Erosion (Appleton Square, Lisboa, 2013); An Ocean Between Us (Plataforma Revólver, Lisboa, 2012); Novas Geografias (198 Gallery, Londres / Plataforma Revólver, Lisboa / Imagem HF, Amsterdão, 2008).

Entre as exposições colectivas em que participou, destacam-se: Telling Time (Rencontres de Bamako  Biennale Africaine de la Photographie 10 éme edition, Bamako, 2015); Ilha de São Jorge (14ª Bienal de Arquitectura de Veneza, Veneza, 2014); Line Trap (Bienal de São Tomé e Príncipe, 2013); An Ocean Between Us (Paris Foto e Arco Madrid, 2013); Do silêncio ao outro Hino (Centro Cultural Português, Mindelo, Praia); Arquivos Secretos (AFL, 2012); Once Upon A Time (Carpe Diem, Lisboa, 2012); L’Art est un sport de combat (Musée des Beaux Arts de Calais, França, 2011); This location (Mojo Galeria, Dubai, 2010); She Devil (Studio Stefania Miscetti, Roma 2010); Mundos Locais (Centro Cultural de Lagos / Allgarve, Portugal, 2008); Do you hear me (Estado do Mundo, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2008); United Nations (Singapura Fringe Festival, Singapura, 2007).

O seu trabalho está representado nas colecções públicas do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Museu de Arte Arquitectura e Tecnologia (MAAT), Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, entre outras.

Mónica de Miranda é investigadora de Pós-doutoramento no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa. Licenciada em Artes Visuais pela Camberwell College of Arts (Londres, 1998) e Doutorada pela Universidade de Middlesex (Londres, 2014). É uma das fundadoras do projecto de residências artísticas Triangle Network em Portugal e do Hangar - Centro de Investigação Artística, em Lisboa.

Conteúdos adicionais:

Mais sobre Mónica de Miranda - https://monicademiranda.org/ 

Pós-Arquivo / Objectos – https://postarchive.org/objetos/

Locuções dos seis contos originais - https://soundcloud.com/user-323862203

Contos de Lisboa – Tales of Lisbon

Mónica de Miranda

19 de fevereiro a 16 de maio

Inauguração: 18 de fevereiro, 18h30
Visitas guiadas pelos curadores: 14 de março e 16 de maio, 15h
Finissage e lançamento do catálogo: 16 de maio,17h00
Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico
Rua da Palma, 246 Segunda a sábado, das 10h00 às 19h00, encerra aos feriados Entrada Livre

 

11.02.2020 | por martalanca | Monica de Miranda