Por Ramon Mello
Eduardo Agualusa ao SaraivaConteúdo O escritor angolano José Eduardo Agualusa é figura conhecida no Brasil. Entre seus livros mais conhecidos, destacam-se Nação crioula, O ano em que Zumbi tomou o Rio, O vendedor de passados – os três editados aqui pela Gryphus – e As mulheres do meu pai, que saiu pela editora lusófona Língua Geral, onde é um dos sócios. Sua obra está traduzida para mais de dez idiomas, sua literatura rompe as fronteiras. Dividindo-se entre Angola, Portugal e Brasil, Agualusa deixa-se contaminar pelas influências culturais dos caminhos traçados. A letra de uma canção, a cena de um filme, o trecho de um livro, ou a simples luz do ambiente podem ser fundamentais para a sua escrita, marcada por um ritmo próprio. Durante sua passagem pelo Festival da Mantiqueira, em São Francisco Xavier (SP), no final de maio, José Eduardo Agualusa conversou com o SaraivaConteúdosobre seu novo livro, Barroco tropical (Companhia das Letras), “a história de amor entre uma cantora e um escritor”. Além disso, ele falou sobre a experiência de escrever letras de canções e peças teatrais.
Seu novo livro, Barroco tropical, marca sua estreia na editora Companhia das Letras. Fale sobre a história dessa mulher que cai do céu…
José Eduardo Agualusa - Diferente de outros livros, esse é um livro escuro. E também um livro de excessos, torrencial, com excessos de personagens. Eu tenho uma imaginação um pouco delirante, meu trabalho com os livros anteriores foi tentar podar o excesso. E nesse eu resolvi fazer justamente o contrário, decidi que havia de ser um livro, justamente, “barroco tropical”. Portanto, criei uma estrutura que permitisse a entrada de um número grande de personagens. O Bartolomeu Falcato, narrador do livro, é a pessoa que está escrevendo a história. Há outra personagem, uma cantora, Kianda. É a história de amor entre uma cantora e um escritor. O escritor vem do romance anterior, o Bartolomeu Falcato, que é documentarista e escritor. Ele aparece 10 anos mais tarde, o livro se passa em 2020.
É um olhar sobre Angola em 2020. Em que medida Bartolomeu tem relação com Agualusa?
Agualusa - É um personagem parecido comigo sim. As pessoas perguntam: é um alterego? Sim, é um alterego. É um escritor, tem elementos da vida dele que realmente se passaram comigo. Mas tem outras coisas que não são minhas, naturalmente. A experiência de vida dele é diferente da minha, até as opiniões políticas dele são um pouco diferentes. Ele é um personagem que vem de uma família ligada ao regime - só mais tarde passa a questionar seu posicionamento em relação ao regime.