Reformular a autoridade e a autoria nas artes

20 novembro I Culturgest


TECENDO LINHAS DE REPARAÇÃO 

“Se a construção de uma ponte não enriquece a consciência de quem nela trabalha, então a ponte não deve ser construída.” É a partir desta premissa de Franz Omar Fanon, estendida enquanto território conceptual, que abrimos caminho à reflexão que molda esta conferência, no Dia da Consciência Negra. Num momento histórico em que o conceito de diversidade tende a esvaziar-se de significado nos discursos sobre cultura, abordaremos as dimensões de autoridade e autoria de modo a facilitar (e talvez acelerar) o pensamento e a concretização de insurreições radicais e reparadoras no sector cultural. O programa da conferência constrói-se a partir de uma pedagogia de perguntas: o que são e para que/quem servem linhas antirracistas para a arte-educação? Como reparar o reparável no sector artístico em Portugal? Quais os potenciais críticos dos nossos posicionamentos político-performativos? Como operar as categorias políticas deste tempo, sem estender a sua duração?

Common Stories junta Maison de la Culture de Seine-Saint-Denis (Paris), o Alkantara Festival e Culturgest (Lisboa), Théâtre National Wallonie-Bruxelles (Bruxelas), o festival africologne (Alemanha), o Riksteatern (Estocolmo) e TR Warszawa (Varsóvia), num projeto de três anos. Em novembro, o espaço Alkantara, em Lisboa, recebe o primeiro CommonLAb, que reúne artistas em ascensão preocupados com questões de identidade e diversidade, enquanto a Culturgest acolhe a conferência ‘Reformular a Autoridade e a Autoria nas Artes’, uma curadoria de Raquel Lima que corresponde à primeira sessão pública da Fábrica de Boas Práticas sobre como acolher a diversidade nas instituições culturais.

PROGRAMA COMPLETO

9:30 – 12:30 
Workshop teórico-prático*
LINHAS ANTIRRACISTAS PARA A ARTE/EDUCAÇÃO: TECENDO PASSADOS, PRESENTES E FUTUROS
UNA – União Negra das Artes: Dori Nigro e Melissa Rodrigues
Sala 2
Entrada gratuita mediante inscrição aqui

Linhas Antirracistas para a Arte/Educação. O que são? Para que servem? E para quem? Estas são algumas Pedagogias das Perguntas de partida com as quais nos deparamos numa tentativa de materializar a vontade de criar um objeto que reflita criticamente a realidade, questione e especule caminhos e possibilidades de futuro mais solidárias, plurais e horizontais no pensar-fazer artístico e educativo. Tendo a arte a potência de transformar, criar imaginários e expandir a outras realidades e dimensões do sentir-pensar, estas Linhas Antirracistas que agora se tecem a várias mãos - enraizadas no conhecimento, práticas e auscultação de artistas, ativistas, pensadoras/es e educadoras/es negras/es - apresenta-se como um diálogo e objeto-mediador-reparador para uma Pedagogia da Transgressão que promova mudanças efetivas nos currículos, nos imaginários, nas realidades e nos seus modos de pensar e fazer. Este propõe-se como um workshop teórico-prático.

12:30 – 14:00
ALMOÇO

14:00 – 15:30 
Mesa conversacional
FARMÁCIA FANON - I GRAMÁTICAS DO AZUL
Keynote speaker: Vânia Gala
Pequeno Auditório
Em português com tradução simultânea para inglês
Entrada gratuita**

Esta apresentação assume a forma de uma performance conversacional, a partir de uma mesa longa com os participantes. Partindo da ideia de degustação e o olfato como abertura sensorial ao mundo revelando através destes as interseções das relações humanas-não humanas neles inscritas e em particular a história colonial pretendo especular em conjunto histórias, saberes e performances alternativas. Quais os potenciais críticos desses posicionamentos? Iremos experimentar e olhar performances negras que se recusam a se atualizarem de forma particular ou mesmo aquelas que recusam certas chamadas para serem realizadas.

16:00 – 18:00
Mesa-redonda 
DA AUTORIDADE DA INÉRCIA À RADICALIDADE DO REPARÁVEL
Anabela Rodrigues, Apolo de Carvalho, Cristina Roldão, Gessica Correia Borges e Kitty Furtado
Pequeno Auditório 
Em português com tradução simultânea para inglês
Entrada gratuita**

Os movimentos sociais e associativos, artistas e investigadores das comunidades negras, por estarem historicamente sujeitos às condições precárias que denunciam, ocupam uma posição estratégica na formulação teórico-prática de políticas de reparação. Contudo, estão ainda limitados pela falsa ideia de inconstitucionalidade das medidas de ação afirmativa, um discurso que se promove e reproduz através de órgãos governamentais, da academia conservadora, do setor cultural e da sociedade civil de forma generalizada. Esta mesa detém-se a debater sobre como reparar o reparável, no setor cultural, desde uma lógica que compreenda a diversidade dos indivíduos, grupos, coletivos e associações que o compõem. Assim sobre como ultrapassar a autoridade da inércia estabelecida, e identificar caminhos radicais com destino à justiça social no meio artístico.

18:30 – 20:00
LIMITE
Keynote speaker: Jota Mombaça
Pequeno Auditório 
Em português com tradução simultânea para inglês
Entrada gratuita**

Como praticar um pensamento no limite das coisas? Como operar as categorias políticas deste tempo, sem estender sua duração? Como pensar a serviço do movimento e da transformação? Esta conferência será dedicada a uma reflexão sobre as noções de sujeito e autora, bem como sobre seu limite constitutivo. Pensadas a partir das tradições radicais preta, indígena e transfeminista, tais questões serão articuladas com base nas múltiplas temporalidades do ativismo e da transformação social, com foco especial no aqui e agora – essa dimensão espiralada do tempo e do espaço, em que passado, presente e futuro convergem de formas previsíveis e imprevisíveis. 

Curadoria Raquel Lima ; Olhares externos Dori Nigro e Melissa Rodrigues

10.11.2023 | por martalanca | artes, autoria, autoridade