“Musseque”, de Fábio Januário, leva-nos às periferias de Angola - CCVF

No sábado 23 de novembro, às 21h30, a dança volta a sentir-se no Centro Cultural Vila Flor com “Musseque”, de Fábio Januário, um dos projetos vencedores da 2ª edição do Projeto CASA, uma iniciativa promovida pel’A Oficina/Centro Cultural Vila Flor, O Espaço do Tempo e o Cineteatro Louletano com o intuito de estímular as novas criações nas áreas da dança, do teatro e de cruzamentos disciplinares e um contributo para o desenvolvimento sustentável do percurso de artistas, nas referidas áreas.

“Musseque”, mais do que uma coreografia para quatro bailarinos (Fábio Januário, Selma Mylene, Júnior Dias e Elvis Carvalho), é um reencontro com as memórias de Angola, um regresso aos musseques — os bairros das periferias — e às vivências de um país marcado pela guerra civil e pelo nascimento do kuduro, expressão de resistência e transformação. 

 

Antes de ser uma peça para quatro bailarinos, “Musseque” é casa, é encontro, é um estar. É de onde saíram há muito tempo e para onde voltam em memória, e em corpo, através do kuduro. Aos corpos pede-se o ritmo, a precisão, a resistência para que, na turbulência de uma guerra, se encontre um pedaço de liberdade. Durante a Guerra Civil de Angola, o Kuduro foi uma música e uma dança marginalizada por muitos, mas adorada pelo povo. Aos quatro intérpretes em palco pede-se agora a continuidade do que se viveu e sentiu, tornando numa dança do presente as vivências já passadas, mas não esquecidas. No palco revisitam-se os bairros das periferias de Luanda — os musseques — que são casa, os discursos que são revolução e os corpos que são resistência, num ritmo alucinante de movimentos que são resiliência de quem continua para lá da guerra. 

 

Esta peça procura ainda retratar a força feminina numa cultura com tantos requisitos masculinos. São várias as questões que importam responder e “Musseque” é uma procura no presente dessas mesmas respostas ao dar a conhecer um estilo que surge como um comprimido com tempo limite para nos distrair. “Esta obra fala de um período muito conturbado nas vidas dos angolanos: a guerra civil. Retratamos como se vivia nos bairros (musseques), como o kuduro era visto pela sociedade e como era dançado. O kuduro era um “comprimido” com tempo contado pois nunca se sabia quando é que as tropas iriam chegar. Foi também uma força de resistência, um estilo cru que conta uma luta pela liberdade que continua a criar novas formas até hoje.”, partilha Fábio Januário a propósito do processo criativo por trás deste espetáculo, as suas influências culturais e o impacto da dança na sua trajetória artística, tendo a sua pesquisa incidido sobre o Kuduro e outras danças urbanas, bem como na área da dança contemporânea.

 

Artista nascido em Angola (Luanda, 1988) e a viver em Portugal há mais de 20 anos (desde 2002), Fábio (Krayze) Januário terminou em 2015 a sua licenciatura em Dança pela Escola Superior de Dança. Desenvolveu os seus conhecimentos em danças urbanas (hip-hop, house, popping, locking). Dá workshops e masterclasses de Kuduro com frequência em Portugal e em países como França, Suíça, Eslováquia, Bélgica e Hungria. Simultaneamente, ensina com regularidade em escolas na área de Lisboa. Como bailarino já trabalhou em diferentes festivais (NOS ALIVE, Rock in Rio, Meo Sudoeste e Sol da Caparica) e com diferentes artistas (Buraka Som Sistema, Benjamin Prins, Piny, entre outros). Desde 2022, é intérprete na peça “Carcaça” de Marco da Silva Ferreira. Em 2023, através do Ou.kupa com curadoria da Piny, criou esta sua primeira peça, “Musseque”. 

 

Com direção artística e criação de Fábio (Krayze) Januário, interpretação e cocriação do próprio juntamente com Selma MyleneJúnior Dias e Elvis Carvalho (Grelha), e acompanhamento artístico Marco da Silva Ferreira e Piny“Musseque” foi o projeto selecionado, no domínio da dança e cruzamentos disciplinares, na mais recente edição do Projeto CASA, tendo-se destacado pela pungência discursiva, pela singularidade da abordagem e pela importância em contribuir para o fomento, para a visibilidade e para a sustentabilidade de formas e práticas estéticas historicamente afastadas dos principais circuitos artísticos. 

 

Após a recente estreia no Cineteatro Louletano, “Musseque” ganha nova vida já no próximo sábado, 23 de novembro, no palco do Pequeno Auditório do CCVF. 
Os bilhetes têm um custo de 7,5 euros (ou 5 euros com desconto), podendo ser adquiridos online em oficina.bol.pt e presencialmente nas bilheteiras dos equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG) ou a Loja Oficina (LO), bem como nas diversas entidades aderentes da BOL.

18.11.2024 | por martalanca | dança, Fábio Januário, musseque