O escritor mineiro Leandro Muller acha divertido quando lê na imprensa que é carioca. «Tudo bem, afinal, os mineiros acham que Juiz de Fora faz parte da zona do Grande Rio», brinca. Conterrâneo do grande escritor Rubem Fonseca, Leandro cresceu em Volta Redonda, interior do estado do Rio, morou no Porto, Barcelona e Roma. Hoje, vive na capital fluminense, mas já está arrumando as malas para voltar a Portugal. Ele acaba de ganhar uma bolsa do programa Criar lusofonia, do Centro Nacional de Cultura de Portugal, e vai ficar 4 meses no país para escrever um romance.
Mas qual a importância de saber de onde ele, eu ou você somos? Para o escritor, cada vez faz menos sentido determinar um espaço geográfico específico a nossa existência. «Hoje em dia somos de toda parte. Alguns chamam de globalização, mas eu prefiro chamar de desterritorialização. É sobre isso que vou escrever, por meio da narrativa de dois imigrantes brasileiros, com elementos de fundo de um movimento real - conhecido como “Mães de Bragança” – liderado por mulheres portuguesas que protestavam contra prostitutas brasileiras naquela cidade do nordeste de Portugal, em 2003.
O livro ainda não tem título nem previsão de lançamento, mas deve estar no mercado em 2012. Além de Leandro, foram selecionados pelo programa o português Paulo Ramalho, com o projeto O outro lado da ilha, que será desenvolvido em São Tomé e Príncipe, na África, e o luso-brasileiro Thiago Camelo, com um romance sobre a cidade, que também será escrito em Portugal.
Desde 1995, Criar lusofonia já contemplou escritores como os angolanos José Eduardo Agualusa e Ondjaki, o cabo-verdiano Germano Almeida e os portugueses Possidónio Cachapa e Pedro Rosa Mendes, entre outros. O objetivo é criar oportunidade de contato aprofundado entre criadores no espaço lusófono.
revista PESSOA