Festival Tanto Mar em Loulé

O Festival Tanto Mar, coprodução “folha de medronho”/Câmara Municipal Loulé/Cineteatro Louletano, regressa para a sua 4ª edição, de 24 a 27 de Maio. A programação do Tanto Mar, é composta essencialmente por grupos internacionais, e sinaliza o caminho de ligação com grupos/intérpretes/individualidades de países onde se fala a língua portuguesa, procurando parceiros para a construção de uma corrente de intercâmbios, numa relação que se quer multívoca. A abertura do Tanto Mar será no dia 23 de Maio no icónico Café Calcinha, às 18h. De 24 a 27 de Maio, no Cineteatro Louletano, pelas 21h00, o Festival conta com espectáculos de Cabo Verde, Moçambique e Brasil e, pela primeira vez, teremos a presença de um grupo de nacionalidade portuguesa. O Tanto Mar é fruto de práticas artísticas desenvolvidas ao longo do ano pela “folha de medronho” - Artes Performativas de Loulé em vários países de expressão portuguesa.

PROGRAMA
24 DE MAIO DE 2023 - 21H00 | CINETEATRO LOULETANO
Quarto Império, pelo UmColectivo
Criação de Cátia Terrinca e Herlandson Duarte, a obra tem por base o livro “Caderno de Memórias Coloniais”, de Isabela Figueiredo, que a organização descreve simultaneamente como “uma obra literária e um documento que compilou factos, acontecimentos efetivamente ocorridos e presenciados pela então pequena Isabela, regressada de Moçambique na urgência da ponte aérea”.
O espetáculo gira em torno das memórias da atriz (cuja mãe veio de Cabo Verde em 1974), e de um bailarino que nasceu e cresceu em Cabo Verde e, num período pós-colonial, se mudou para um Portugal. Em cena, está também o livro onde está escrito o que não lhes foi contado. Uma forma de reconstruir o “silêncio de memórias que se foram rarefazendo na dor e na incompreensão”, ficando-se mais perto “da criança vestida de branco numa Lourenço Marques já extinta”.UmColetivoUmColetivo
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Interpretação: Cátia Terrinca e Bruno Huca
Dramaturgia: Cátia Terrinca, a partir de Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo
Desenho de Luz: João P. Nunes
Espaço Cénico: UMCOLETIVO
Figurinos: Raquel Pedro
Design: David Costa
Apoio à Encenação: António Revez
Co Produção Lêndias de Encantar
Agradecimentos: Helena Baronet, Ricardo Guerreiro Campos, Go Romaria Cultural
Apoios: Direção Geral das Artes, Direção Regional de Cultura do Alentejo
25 DE MAIO DE 2023 - 21H00 | CINETEATRO LOULETANO
Os Dias de Birgitt, pela Sikinada - Companhia de Teatro

A senhora tem vinte e um dias de vida”… foi dessa forma que ela recebeu a notícia, com um turbilhão de sentimentos…
Os Dias de Birgitt conta a história de uma mulher que, de um dia para o outro, é confrontada com essa inevitabilidade… de um dia para o outro é confrontada com uma doença terminal! Como lidar com essa nova condição? Uma abordagem contemporânea, no limite entre a sobriedade e o humor, de uma temática cada vez mais presente nas nossas sociedades.
SikinadaSikinada

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Texto Dramático: Mário Lúcio Sousa
Encenação: João Paulo Brito
Interpretação: Elisabete Gonçalves, Patrícia Leite, Raquel Monteiro
Cenografia: João Paulo Brito, José Pedro Bettencourt, João Brito Boss
Figurinos e Adereços: Elisabete Gonçalves, Zoia Delgado
Apoio a Movimento: Bety Fernandes, Carlos Oliveira
Banda Sonora Original: Ndu Carlos | Tema “Novo Amanhecer” de Antero Simas e Helio Cruz, interpretado por Tete Alhinho, no CD “Mornas ao Piano”.
Iluminação: Paulo Silva
Produção: José Pedro Bettencourt
Conceção Gráfica e Fotografia de Cartaz: César Schofield Cardoso
Fotografias do espetáculo: Queila Fernandes, Helder Paz Monteiro, Fernando Pina, Jorge Freitas e PepsClicks JPr
Teaser realizado por Neu Lopes, com imagens de Olavo Luz.
26 DE MAIO DE 2023 - 21H00 | CINETEATRO LOULETANO
Recados de lá_Revisitação, pelo grupo Lareira Artes
Dois homens desconhecidos  e traumatizados  encontram-se desesperados  num  abrigo como  fugitivos de  guerra. Em pleno cenário de tensão e devastação cada um vai  relatando as  suas  horríveis vivências, cada uma mais  dramática  que a outra. Os raptos, crianças soldados, estupros são  imagens bem vivas nos personagens.
Entre tensão  e revolta eles vão-se divergindo quanto às razões e possíveis soluções deste dilema em que estão condenados.
Na verdade Recados de lá_Revisitação  são  recados  e  gritos  ignorados  de milhares de inocentes vítimas de guerras sangrentas no mundo.

Lareira Artes Lareira Artes

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Texto e encenação: Diaz Santana
Orientação artística: João de Mello Alvim
Interpretação: Crimildo, Kopito, Matlava e Santana Dias Santana
Figurinos: Ooutro d´Santana
Luz e som: João Mello Alvim
Fotos: Charles Alberto
Agradecimentos: Kuxa Ka Dambo e Casa da Cultura de Maputo
27 DE MAIO DE 2023 - 21H00 | CINETEATRO LOULETANO
M.E.D.E.I.A, pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
Retoma uma versão antiga e pouco conhecida do mito, trazendo uma mulher que não cometeu nenhum dos crimes de que Eurípides a acusa. Por mais de dois mil anos, Medeia, uma das mais poderosas mulheres da mitologia grega, é acusada de várias atrocidades, tais como o fratricídio, o infanticídio, e é esta imagem que foi imposta à consciência ocidental que a Tribo vem negar. O mito é questionado e reelaborado de maneira original, para analisar o fundamento das ordens de poder e como estas se mantêm ou se destroem. Medeia é uma mulher que está na fronteira entre dois sistemas de valor, corporizados respectivamente pela sua terra natal, e pela terra para a qual foge.  Ambas as sociedades, Corinto e Cólquida, respectivamente, apresentam na sua história um sacrifício humano fundamental, que serviu para a estabilização do poder patriarcal. Medeia é uma mulher que enxerga seu tempo e sua sociedade como são. As forças que estão no poder manifestam-se contra ela, chegando mesmo à perseguição e ao banimento, ela é um bode expiatório numa sociedade de vítimas.
Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Roteiro, Encenação, Cenário, Iluminação, Figurinos: Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
Autores/as: Christa Wolf, Rosa Luxemburg, Heiner Müller, George Tabori, Anna Akhmatova, Eurípides, Helga Novak
Música: Johann Alex de Souza
Preparação Vocal: Leonor Melo
Produção: Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
Atuação: Tânia Farias
Operação de Luz: Lucas Gheller
Operação de Som e Video: Paulo Flores

Festival Tanto Mar 
Diretor: João de Mello Alvim
Direção de Produção: Alexandra Diogo
Assistência de Produção: Lina Brito
Assessoria Comunicação Social: Beatriz Teodósio
Acompanhamento dos Grupos: Lina Brito
Técnico de Audiovisual: Flávio Martins
Vídeo: João Catarino
Assistência de Camara: Mariana Vasconcelos
Fotografia: João Catarino
Webdesign: Ana Rodrigues
Marketing Digital: 3WX
Ligação com as Comunidades: Miguel Velez
Revisão de Textos: Sara Vicente
Paginação: Andreia Domingos e João Pedro Rodrigues
Apoio Geral: Egas Simão, Fernando Brito, Mariana Teiga, Ana Poeta, Augusto Martins

24.05.2023 | por martalanca | Festival Tanto Mar, Loulé, lusofonia, teatro

Festival Tanto Mar, Loulé. Consolidar, na diversidade, as afinidades entre povos falantes do português

Vila Vox, foto Medeia NegraVila Vox, foto Medeia NegraAo lançarmos a edição zero do Tanto Mar em co-produção com a Câmara Municipal de Loulé, sabíamos que a mesma seria um teste à nossa capacidade organizativa nas suas várias vertentes. A “folha de medronho”, como colectivo, tem uma existência recente (foi fundada em finais de 2017) e as fragilidades inerentes à ausência de um núcleo profissional permanente. No entanto e como contra-ponto, há experiências individuais sólidas em diversos domínios, assim como há uma herança de relações cúmplices no meio artístico nos PALOP´s - para o qual está vocacionado o Festival - e institucional que nos induziu a partir à aventura.

Ouvindo-nos e ouvindo quem tínhamos de ouvir (instituições, grupos, convidados e amigos), o balanço global da primeira edição, ou edição zero, o panorama pareceu-nos positivo, adequado às nossa projecções e motivador para continuarmos. Por isso aqui estamos novamente com as águas de Março sem alterar a estrutura geral do Festival, organizativa e artística, não foi alterada. O tempo continua a ser de testar e robustecer, perceber e transformar variáveis em invariáveis, para dar passos consistentes.

Assim mantemos os dois eixos principais do “Tanto Mar”: completar a oferta regional e também desenvolver, ao longo do ano, directa ou indirectamente, trabalho de cruzamento de experiências entre os criadores dos países onde o português é a língua oficial, de preferência tentando que estas experiências, e os seus resultados, encontrem em Loulé, a médio/longo  prazo, o palco europeu privilegiado, e o espaço físico para um futuro arquivo do material do labor necessário para chegar ao efémero do palco, como por exemplo, cartazes, livros, programas e audiovisual.

Se o primeiro objectivo começa a fixar-se na agenda regional e nacional – com a articulação  de datas e espectáculos com o Festival Internacional de Teatro do Alentejo -, a segunda intenção ganhou mais corpo com a participação da “folha de medronho” em três festivais (no FITA/Portugal, no CIT/Angola e no Festluso/Brasil) e em São Tomé e Príncipe, a convite para relançarmos as actividades de Formação e Criação de artes performativas e contribuir para o desenho futuro festival internacional naquele país. Outro sinal neste objectivo de estabelecer laços e cumplicidades substanciou-se no convite que me foi feito (como Director do “Tanto Mar”), para ser Curador da programação internacional do festival CIT/Luanda/Angola assim como um outro convite feito à actuadora /encenadora Tânia Farias(Porto Alegre/Brasil), para com o seu grupo co-produzir em Loulé um espectáculo com a “folha de medronho”, e ainda  um segredo bem guardado entre Maputo/Moçambique e Loulé…

Como escrevia o ano passado, nesta procura de cruzamentos e intercâmbios, não nos move qualquer tentativa de homogeneização, muito menos hegemonização cultural. Antes e sempre a procura da colisão criativa de narrativas e contra-narrativas, que substanciam a longa história e consolidam, na diversidade, as afinidades entre povos falantes do português.

João de Mello Alvim

21.02.2020 | por martalanca | Festival Tanto Mar, Loulé