“Reckoning with Violent Pasts: Rethinking the Memorial and the Monument”, por Marita Sturken (NYU), conceituada especialista em cultura visual e estudos de memória, no dia 20 de Maio, segunda-feira, às 18h, na NOVA FCSH, Auditório B2 (Torre B).
Enfrentando Passados Violentos: Repensando o Memorial e o Monumento
Por toda a Europa e nas Américas, as décadas que se seguiram aos anos 1980 foram, em grande medida, entendidas como tendo produzido um “boom de memória” – uma época de produção significativa de memoriais, museus de memória e projetos de arte memorialista, que, de certa forma, constituem uma espécie de ajuste de contas com a violência do século XX: a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, o terrorismo de Estado na América do Sul, a Guerra do Vietname e o 11 de setembro nos Estados Unidos. Na maior parte dos principais lugares de memória que então surgiram, o modernismo e o minimalismo predominaram esteticamente. Muitos dos projetos de memória mais radicais (na Alemanha e na Argentina) incorporaram explicitamente, na sua conceção, uma crítica à memorialização, utilizando tácticas da arte concetual para questionar a ideia de que um memorial é apenas um local a ser visitado, fora da vida quotidiana.
Nos últimos 15-20 anos houve uma mudança neste boom de memória (durante o qual muitos círculos eleitorais e comunidades competiam para ter os seus próprios memoriais) para uma discussão mais ampla e transnacional sobre os legados da monumentalização e o papel da memória como ativismo. Mais recentemente, em particular desde a manifestação global de indignação contra as injustiças raciais no auge da pandemia, o acerto de contas com os passados coloniais e os legados de séculos de escravatura tem-se voltado cada vez mais para as paisagens imperiais e coloniais da monumentalização – demolição de monumentos, vandalização e exigência da sua remoção. Após décadas de debate sobre muitos destes monumentos a passados racistas, em 2020 alguns começaram a cair. Parece que o monumento, em particular o monumento a passados coloniais e racistas, já não pode, em muitos destes contextos, manter-se de pé.
Esta palestra analisa esta mudança: do boom memorialista (com os seus contra-memoriais e estética minimalista) para a desmonumentalização; da adesão e reformulação simultâneas da memorialização para o questionamento e rejeição do monumento. Considerando o contexto transnacional do boom de memória (em particular na Alemanha, nos EUA, na Argentina e no Chile) e dos movimentos de desmonumentalização (em particular na África do Sul, na Inglaterra e nos EUA), esta palestra visa elucidar as consequências de como o impulso de memorialização se começou a deslocar, finalmente, para a memória dos passados imperiais e coloniais, questionando a monumentalização do império e dos regimes esclavagistas e exigindo um enfrentamento dos legados da escravatura.
Marita Sturken é Professora Catedrática no Departamento de Media, Cultura e Comunicação da Universidade de Nova Iorque e conceituada especialista nos campos da cultura visual e dos estudos de memória. É autora de “Terrorism in American Memory: Memorials, Museums, and Architecture in the Post-9/11 Era” (New York University Press, 2022); “Practices of Looking: An Introduction to Visual Culture” (com Lisa Cartwright, Oxford University Press, 2018, 3ª ed.); “Tourists of History: Memory, Kitsch, and Consumerism From Oklahoma City to Ground Zero” (Duke University Press, 2007), que ganhou o prémio Transdisciplinary Humanities Book Award 2007-2008 atribuído pelo Institute for Humanities Research da Arizona State University; “Tangled Memories: The Vietnam War, the AIDS Epidemic, and the Politics of Remembering” (University of California Press, 1997); e “Thelma & Louise” (British Film Institute Modern Classics series, 2000; re-editado em 2020). Os seus livros foram traduzidos para japonês, chinês, coreano, checo e hebraico, tendo artigos publicados em espanhol e português. Em 2023, foi-lhe atribuída a prestigiada Guggenheim Fellowship. site da professora
Entrevista a Marita Sturken por Inês Beleza Barreiros (in Buala, 21/10/2021).
Ciclo de Conferências do Pensamento Crítico Contemporâneo | 16 e 17 maio
O primeiro Ciclo de Conferências do Pensamento Crítico Contemporâneo será inaugurado nos dias 16 e 17 de Maio (FLUP, sala António Teixeira Fernandes, Torre B, 4.° piso), através da realização de duas conferências integradas. Trata-se de uma excelente oportunidade para aprofundar debates sobre passados violentos contemporâneos com grandes especialistas no tema.
Reckonings with violent pasts: rethinking the memorial and the monument
Marita Sturken, New York University | 17 de maio | 15h
“Olhando para o contexto transnacional do boom da memória (em particular na Alemanha, nos EUA, na Argentina e no Chile) e para os movimentos de desmonumentalização (em particular na África do Sul, em Inglaterra e nos EUA), a conferência pretende explorar as consequências da forma como o impulso para a memorialização se começou a voltar, finalmente, para a memória dos passados imperiais e coloniais, para questionar a monumentalização do império e dos regimes escravistas, e para as exigências de um acerto de contas com os legados da escravatura”.
Primo Levi e as escritas da História: a literatura do testemunho e a representação do Holocausto
Pedro Caldas, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro |16 de maio | 16h
“Um evento limite é aquele capaz de desafiar as nossas formas habituais de entender e sentir os fenómenos históricos. Muito mais do que um documento sobre os campos de extermínio, a obra de Primo Levi convida-nos a refletir sobre a escrita da história e da temporalidade.”