Apresentação e debate da obra “Matchundadi” de Joacine Katar Moreira na UCCLA

Vai decorrer no dia 13 de agosto, pelas 16h30, a apresentação e debate da obra “Matchundadi: Género, Performance e Violência Política na Guiné-Bissau” de Joacine Katar Moreira, no auditório da UCCLA.

Com a chancela da Nimba Edições, o debate terá como oradores a autora Joacine Katar Moreira, o sociólogo Huco Monteiro e o jornalista Tony Tcheka.

A abertura da sessão contará com as intervenções do Secretário-geral da UCCLA, Vitor Ramalho, e do editor Luís Vicente.

Haverá um momento musical pelo músico guineense Guto Pires.

De referir que este evento decorre no âmbito da exposição “Olhares da Guinendade - Artes da Guiné-Bissau” patente na UCCLA - Mais informações aqui.

A sessão terá transmissão em direto da página do Facebook da UCCLA.

Sinopse:

«A cultura di matchundadi tem sido o motor da vida política guineense e sem a exacerbação e a institucionalização desta forma de masculinidade hegemónica, o sumo que tem regado a política guineense desapareceria. Entre tramas, traições, mortes, destituições, eleições, nomeações, transições políticas e golpes de Estado.»

[Joacine Katar Moreira]

Indispensável. Numa palavra seria esta a qualificação do livro de Joacine Katar Moreira que aqui se apresenta. E indispensável por múltiplas razões: porque permitirá à leitora e ao leitor aprender tanto como aprendi eu sobre a história contemporânea da Guiné-Bissau; porque desenvolve uma análise fina e sofisticada de como essa história foi e é, também, organizada por um dos processos primordiais de todas as sociedades humanas – o género; porque aponta claramente um dos elementos centrais, até aqui oculto de toda e qualquer análise sobre a realidade guineense, geradores da instabilidade e violência dos processos sociopolíticos da Guiné-Bissau – as formas de (hiper)masculinidade hegemónica que monopolizam a competição pelo poder estatal.

[Pedro Vasconcelos]

A cultura di matchundadi, hipermasculina, move-se dentro das estruturas do Estado, procurando fazer da matchundadi endémica uma matchundadi sistémica. Ou seja, procura institucionalizar um modus operandi e uma visão do mundo na qual impera a lei do mais forte, do mais poderoso e sobretudo do mais violento, ao mesmo tempo que esta hipermasculinidade traduz as características associadas aos homens e às masculinidades, tais como a redistribuição dos recursos, a protecção (e enriquecimento) do seu clã e a ameaça permanente aos adversários políticos. Assim, a cultura di matchundadi é altamente performativa mas com consequências que colidem com o ambiente democrático e a paz social, pois vive do mimetismo político e assenta no confronto constante, na demonstração de força de uns sobre outros.

[Joacine Katar Moreira]

Biografia da autora:

Joacine Katar Moreira é historiadora e política nascida na Guiné-Bissau em 1982. É Doutorada em Estudos Africanos, mestre em Estudos do Desenvolvimento e licenciada em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. Foi deputada independente do Parlamento Português durante a XIV Legislatura e candidata às eleições europeias em 2019. Feminista interseccional e anti-racista, as suas áreas de estudo são os Estudos de Género, a violência, a política e a descolonização. Mentora e fundadora do INMUNE - Instituto da Mulher Negra em Portugal, tem participado ativamente no debate público sobre o Colonialismo, a Escravatura e o Racismo. Como política a sua agenda pautou-se pelo alargamento dos Direitos Constitucionais, o combate ao racismo e à pobreza e pela luta contra as alterações climáticas.

02.08.2022 | por Alícia Gaspar | guto pires, huco monteiro, joacine katar moreira, luís vicente, masculinidade, matchundadi, novo livro, tony tcheka, uccla, vítor ramalho

Funaná, raça, masculinidade

O funaná é uma prática de música e dança que foi criada pela população camponesa da ilha cabo-verdiana de Santiago no período pós-escravatura do final do século XIX. Originado nas performances de tocadores de gaita e fero em sociabilidades familiares e comunitárias, foi proscrito por administradores e clérigos durante o período final do colonialismo português. Após a independência de Cabo Verde, o interesse de jovens músicos por esta história marginal motivou a criação de novas estéticas de música popular. Apesar de gradualmente aceite no quadro de uma cultura oficial crioula promovida pelo Estado, o funaná permaneceu uma prática icónica de uma masculinidade entendida enquanto “africana”. Este livro situa o funaná na história social e política colonial e pós-colonial. Questiona em particular de que modo este género de música e dança foi historicamente racializado e que legados deste processo persistem no presente.

Autor: Rui Cidra

Edição: Outro Modo, Le Monde diplomatique – edição portuguesa

2021 | Preço: 14€ (10% de desconto para assinantes)

02.08.2021 | por martalanca | Funáná, masculinidade, raça