Uma forte rajada sobre a cidade do Rio de Janeiro anunciava à noite o desfecho de uma lenta agonia…
No sábado, dia 10 de julho, Paulo Moura ainda conseguiu reunir forças para tocar uma última música – “Doce de Côco”, de Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho – com seu parceiro de longa data Wagner Tiso, ao lado de sua mulher Halina, o filho Domingos, o sobrinho Gabriel, amigos e admiradores, e alguns pacientes da Clínica São Vicente, maravilhados com aquela inusitada e comovente celebração musical, organizada pelos músicos Cliff Korman e Humberto Araújo.
Uma réstia de sol fazia da folhagem das jaqueiras um cenário cintilante para a varanda do hospital.
O maestro, sereno e sorridente, vestia uma camisa azul e cobria as pernas inchadas e inertes com um manto púpura.
Lembrei-me da última estrofe de um poema que lhe dediquei alguns anos atrás, homenagem diminuta e insuficiente frente à imensa alegria que sua música me proporcionara e ao doce convívio que tive o privilégio de gozar:
mistura e manda
o maestro
pra lá
das bandas
do rio
preto:
aéreo conduz
e sopra
por onde zoar
o pássaro azul
púrpura
Ele se foi na calada da noite, sua memória, no entanto, não há de se calar jamais em nossos corações e ouvidos. Paulo Moura não passou, não passará: virou pássaro alvissareiro… para todos e para sempre.
André Vallias
Rio, 13 de julho de 2010
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