Carta Aberta à RTP — Para que 'Meu Caro Amigo Chico' possa ser visto

Meus caros amigos,

A memória é uma forte aliada da criação plena. A memória individual ajuda-nos a processar as experiências do passado, abrindo caminhos de pensamento que nos transformam e fazem crescer. O mesmo acontece com a memória colectiva: é através dela que se abrem diálogos plurais e reflexões com o poder de regenerar a sociedade no presente — se não a conhecermos, estaremos condicionados a repetir os mesmos erros e os mesmos padrões.

Foi assim que, em 2005, surgiu a ideia para o documentário musical Meu Caro Amigo Chico (2012), um filme de produção independente e sem qualquer financiamento público. O filme, que junta músicos portugueses e brasileiros, apresentando a relação musical entre Portugal e Brasil, foi feito através de parcerias e com o apoio generoso de toda a equipa técnica e artística, recorrendo também a algum material de arquivo da RTP, entre outros.

O filme foi exibido em festivais nacionais e internacionais desde 2012, do IndieLisboa à Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e ao Festival Atlântico - Philharmonie Luxembourg, entre outros. A 25 de Abril de 2020, em contexto da pandemia de Covid-19, foi exibido extraordinariamente online, em sinal aberto e sem fins lucrativos, felicitando Chico Buarque pelo Prémio Camões. A exibição atravessou o Atlântico e alcançou mais de 60 000 espectadores e centenas de milhares de reações numa só semana. Desde então, tem sido ainda mais pedido pelo público, instituições e pela comunidade universitária dos dois países.

Planeado para estrear no canal RTP Música, que nunca chegou a existir, foi finalizado em 2012 com o princípio de que a RTP seria parceira: ficou acordada a cedência de arquivos RTP e a contrapartida da primeira janela exibição e uma futura negociação destas condições. No entanto, desde 2012, não foi mais possível a contratualização com a RTP, sendo repetidamente adiada pelo canal. Agora, a RTP já não cede os direitos do uso comercial do arquivo e abdicou do seu privilégio de exibição, contrariando o acordo inicial, demonstrando pouco ou nenhum interesse, fazendo propostas a custo zero ou de verbas simbólicas e sem acordo de arquivo.

O filme ficou suspenso, e o licenciamento das obras musicais e restantes arquivos impossibilitado. Suspensos estão também, há mais de 9 anos, o pagamento à equipa técnica, a possibilidade de recuperação de investimento, candidaturas a apoios, e outras exibições do filme fora do circuito de festivais.

Restou uma estrutura de produção fragilizada, agravada pela pandemia, reduzida aos autores do filme. Ficámos perante um dilema ético: exibir o filme, desrespeitando os profissionais da cultura nele envolvidos, ou não exibir. Sabemos da extrema importância da boa prática profissional para a estabilidade do sector cultural, por isso, temos escolhido não o exibir em defesa da equipa técnica e artística do documentário, excepto em situações extraordinárias sem fins lucrativos de celebração da Cultura (2020), e com o apoio de todos os artistas retratados.

A RTP tem a responsabilidade de atuar eticamente no mercado audiovisual, honrando os compromissos assumidos e defendendo os conteúdos de produção original em língua portuguesa. A RTP tem também um papel de apoio ao sector cultural, obrigações perante os produtores e criadores independentes de língua portuguesa, e perante os músicos. Pode e deve ser a principal aliada e interessada em manter viva e acessível a Cultura e a memória colectiva de um país — neste caso, Portugal e Brasil.

É por isso que exigimos à RTP uma rápida resolução deste impasse, que temos vivido com perplexidade, incompreensão e frustração ao longo dos anos. Pedimos à RTP que cumpra o nosso acordo inicial, autorizando a cedência do Arquivo para este projecto e negociando uma verba de exibição digna, possibilitando o licenciamento e a exibição comercial do filme a todo o seu público mundial. É para isso que fazemos filmes: para serem vistos. É também para isso que defendemos a RTP: para que os mostre e os dê a conhecer.

Pedimos à RTP que colabore activamente com a nossa comunidade e que facilite o acesso ao seu Arquivo aos mais diversos agentes da Cultura e da Educação, agora e no futuro, evitando a repetição destas situações. O Arquivo RTP é uma parte essencial da memória audiovisual do nosso país e do nosso referencial de memória colectiva, permitindo-nos manter vivo o diálogo sobre democracia, liberdade, pós-memória e cultura.

Por respeito ao trabalho dos profissionais da cultura, do cinema e audiovisual, dos músicos, autores, intérpretes e técnicos; pelo público; por esta e por outras obras em situação semelhante, manifestamos o nosso apoio a este filme.

28 de outubro de 2021

 

Os autores,

Joana Barra Vaz — Realizadora / Argumentista / Produtora
Maria João B. Marques — Argumentista
Rui Pires — Montador / Argumentista

 

Para subscrever, enviar email para meucaroamigochico@gmail.com

com Nome + Profissão + País + “Subscrevo”

Subscritores serão atualizados diariamente.

 

A equipa artística e técnica do filme,

Catarina Viana -— Artista / Ilustrações e Lettering

Gil Chagas — Chefe de Produção, Projecto Marginal / Assistente de Realização

Hugo da Nóbrega Cardoso — Câmara / Apoio Produção

Ivânia West — Câmara / Ass. Realização

Ivo Tomás Costa — Ass. Realização

José de Castro — Banda Sonora

Lisa Persson — Câmara

Maria Helena Viegas — Ass. Produção / Catering

Mário Dias — Dir. Som

Pedro Pereira  — Produção, Projecto Marginal / Produtor, Portugal

Tiago Miguel Nicolau Alves — Câmara

Tiago Raposinho — Dir. Som / Mistura de som

Vanda Noronha — Fotografia de Cena

Vasco Monteiro — Montagem

 

Artistas e Músicos participantes no filme, 

Ana Brandão / Real Combo Lisbonense — Atriz, Músico

Jacinto Lucas Pires / Os Quais — Escritor, Músico

João Afonso — Músico

José Eduardo Agualusa — Escritor

João Cabrita / Sérgio Godinho — Músico, Portugal

JP Simões — Músico

Luanda Cozetti de Freitas / Couple Coffee  — Músico

Sérgio Nascimento  / Sérgio Godinho — Músico

Norton Daiello / Couple Coffee — Músico, Portugal

Nuno Prata — Músico

Nuno Rafael  / Sérgio Godinho — Músico

Marco Armés / Feromona — Músico

David João Linhares dos Santos / Bernardo Barata — Músico

 

Entidades subscritoras,

APORDOC — Associação pelo Documentário

APTA  — Associação Portuguesa de Técnicos de Audiovisual - Cinema e Publicidade

A.R.A. — Assistentes de Realização e Anotadores

Latoaria — Associação Cultural, Portugal

19.11.2021 | por Alícia Gaspar | carta aberta, Chico Buarque, cultura, meu caro amigo chico, prémio Camões, RTP

Exibição do documentário "Zé da Guiné" na RTP2

“Zé da Guiné” – estreia na RTP2, no dia 18 de fevereiro pelas 21:00H.

“Zé da Guiné” – screen on RTP2 on February 18 by 21:00 h.

 

Um jovem africano, Zé da Guiné, chega a Lisboa à procura da cidade abundante, mundo maravilhoso, onde todos os sonhos se podem realizar.
A cidade na época, meados dos anos 70, só é abundante no movimento e nas palavras. Não havia outra riqueza, a tal riqueza da cornucópia que ele esperava.
Tenta habituar-se à ideia, no que é facilitado pelo tamanho e movimento da urbe. Percebe a oportunidade e faz o que melhor sabe fazer e que a experiência ensina a qualquer africano: fazer o novo com o velho. Trava conhecimento com todos os protagonistas das novas correntes, desde as artes à comunicação social, e deles fica amigo. Reinventa a moda e inventa a noite. É o Brown, é o Souk, é o Rockhouse, são as Noites Longas, é o Bebop.
Lisboa ganha a noite, uma noite colorida, onde todos os quadrantes e todas as capelas se encontram e se reconhecem nas míticas sextas feiras das Noites Longas. Lisboa, cresce e orgulha-se das suas gentes de tantos sítios e de tantos credos. Antes do Zé da Guiné as noites eram escuras, frias e metiam medo.
Um quarto de século depois o que resta de tudo isto?

Produção: José Manuel de S. Lopes
Realização/Guião: José Manuel de S. Lopes

 

Trailer do documentário:

06.02.2012 | por joanapires | Bairro alto, RTP, Zé da Guiné