Lino Damião, as paixões da alma
O artista plástico angolano Lino Damião realiza, a partir do dia 23 deste mês, na cidade de Aveiro, em Portugal, uma exposição individual denominada Batidas Coloridas.
Tem um percurso que se mistura com tintas, telas, pincéis, exposições e concertos de jazz. E neste andar pela vida foi-se cruzando com alguns nomes sonantes do universo da Arte na baixa luandense.
Começou no Xicala- uma visão menos turística que a mítica Ilha de Luanda. Quando se preparava para saltar dos calções para as blues-jeans vivia já sintonizado com a Fotografia que o pai Paulino Damião exercia com mestria no Jornal de Angola.
Logo após a Independência de Angola avança para o curso de Desenho, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura, na Escola Experimental “Barracão”, para as bandas do Casuno, Cidade Alta.
Estava dado o primeiro passo. Decide, nessa altura, ser pintor.
A formação continuou pelo ensino médio, pela vida.
Nesta procura permanente de novos horizontes descobriu que os becos têm saídas e outras cores e amplitudes estão – muitas vezes- ao alcance da ambição.
Sempre à volta dos “mais velhos” torna-se frequentador assíduo e amigo dos mestres Viteix e António Ole- referências incontornáveis da Arte em Angola.
Passa muitas longas horas na Galeria Humbihumbi, a catedral das exposições em Luanda nos anos 80, liderada pelo saudoso Tirso Amaral.
Não tenho qualquer receio em afirmar que Lino Damião é actualmente um dos mais empenhados e criativos estilistas da sua geração. Atento aos múltiplos quotidianos vai ao encontro de uma realidade circunstancial, das experiências do dia-a-dia, que testemunha nas suas derivas expressivas com uma subjectividade carregada de afectos em que a intensidade das cores aponta caminhos luminosos e o interior de um sonho.
Nas suas telas as tintas que se ocultam e desocultam umas às outras estão traços e gestos carregados de grande força lúdica, de carácter, muitas vezes dissonantes como o Jazz que ama.
Autor de um processo pictórico forte e carregado das cores vivas de Angola começa a ver engordar o seu currículo existencial e artístico, dentro e fora-de-portas, como no caso vertente.
Este fazer agilizado e cheio de referências telúricas fazem-me desejar viajar pelos seus quadros cheios das paixões do autor.
Jerónimo Belo, crítico de Jazz, no País