Teodoro Obiang, o presidente de um país rico com população pobre
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo. Presidente da Guiné Equatorial desde 1979. Amado por muitos, odiado por tantos outros.
Líder. Ditador. Mercenário. Corrupto. Estratega. Idealista.
Teodoro Obiang nasceu a 5 de junho de 1942 na província de Acoácan, Guiné-Equatorial. Alistou-se no exército durante a época colonial. Em 1979, 11 anos após a independência, Teodoro executou o seu tio, Francisco Nguema, até então presidente do país. Desde então com a alternância de eleições de caráter fraudulento sempre com mais de 90% dos votos, Obiang tem-se conseguido manter no trono. 42 anos no poder. Tanto poder concentrado num só homem, um autêntico tirano. Pertence ao Partido Democrático da Guiné Equatorial, todavia o país está bem longe da democracia. Durante estes 42 anos, muito devido à riqueza proveniente das reservas de petróleo no país (entrou na OPEP em 2017), conseguiu criar uma esfera de influência política que lhe permite controlar o país. Com a busca incessante de petróleo pelos países do Primeiro e Segundo Mundo, como os EUA e a China, a Guiné-Equatorial conseguiu estabelecer acordos económicos que geram um círculo imensurável de riqueza. O poder legislativo, executivo e judicial estão indiretamente na mão do chefe máximo do país, é uma completa autocracia. Desde que todos tenham direito a uma fatia de bolo, estarão sempre contentes visto que existe muito nepotismo e clientelismo no país. A família do presidente encontra-se no seio governamental e vive uma vida luxuosa no meio de tanta pobreza.
A Guiné Equatorial é um país de África localizado ao longo do Golfo da Guiné e que possui quer territórios insulares quer territórios continentais. A sua capital é por enquanto Malabo, pois o presidente Teodoro Obiang mandou edificar uma nova capital, Oyala, Ciudad de La Paz, na região continental que está prevista ser acabada neste ano civil. A população é de cerca de 1.2 milhões de habitantes.
Uma das controvérsias mais gritantes, entre as múltiplas já reportadas na presidência de Teodoro Obiang, começa na questão linguística e na consequente atribuição de línguas oficiais. Segundo a constituição equato-guineense, existem três línguas com estatuto oficial: espanhol, português e francês. Guiné Equatorial foi uma colónia espanhola até 1968, então seria lógico adotarem o espanhol como língua nacional até numa perspetiva de reconhecimento internacional e maior facilidade numa futura parceria com outras ex-colónias espanholas e a própria Espanha. Mas a “red flag” começou com a entrada da Guiné-Equatorial na OIF em 1989 e na CPLP em 2014. Oficializaram o francês no papel que em termos efetivos, até hoje, não se fala no país. A CPLP aquando do pedido da entrada da Guiné-Equatorial, indiciou duas condições de aceitação: a abolição da pena de morte que é legal no país e a existência de estruturas de ensino formais de português. Apesar de nenhuma destas promessas ter sido cumprida, conseguiram entrar no organismo. A pena de morte permanece legal apenas sob suspensão com um despacho presidencial que, afinal, não tem valor vinculativo à luz do código penal e Constituição do país. Por outro lado, o ensino de português não se encontra ainda no sistema educativo do país e muito dificilmente estará num futuro próximo. Este presidente conseguiu manipular e ludibriar a sua entrada em duas entidades completamente importantes no panorama africano através de medidas que nunca efetivamente cumpriu. Um verdadeiro estratega.
A realidade dos habitantes equato-guineenses é desastrosa. Atualmente grande parte da população vive em barracas de ferro e metal com dificuldades de acesso a água potável e a saneamento básico nos arredores das grandes cidades, pois viver na cidade é muito caro e pressupõe um nível de vida muito acima do salário médio nacional. Malabo rivaliza com Luanda como uma das capitais africanas mais caras do continente. Os cidadãos além de viverem mal, vivem oprimidos, é quase impossível circular livremente na capital por exemplo, pois existe muita força de segurança na rua que impede os cidadãos de gravar um simples vídeo em via pública, tal como existem muitos postos de controlo. Se porventura tiverem alguma oportunidade de visitar este lindo país, verão as estradas praticamente desertas, pois só uma ínfima parte da população pobre - que constituiu a esmagadora maioria da população - tem meios suficientes para ter um carro por conta própria. Algumas famílias conseguem juntar dinheiro e emigrar para Europa, mas é raro pois as passagens de avião são extremamente caras e o dinheiro que se ganha, como já foi dito, é pouco. Muitos homens trabalham na construção civil e na carpintaria, por outro lado, as mulheres trabalham no ramo têxtil e no mercado informal vendendo bens essenciais – carne, peixe, fruta.
Quem se declara contra a governação de Teodoro Obiang, normalmente é perseguido, oprimido e executado. Aceitar a realidade do país é a melhor decisão a tomar se querem ficar seguros. São poucos os que ficaram para contar a história e os que ficaram, conseguiram fugir do país e dar um retrato totalmente realista e cruo de Obiang e dos seus compinchas. Como é possível alguém que viveu durante a época colonial e sentiu a realidade da subjugação e injustiça em primeira-mão ser agora capaz de fazer o mesmo, senão pior aos “seus”? Uma autêntica Coreia de Norte africana se me permitem a expressão. Obiang montou um país que vive de aparências para mostrar às pessoas de fora que ali vivem bem. Sim, vivem bem, mas apenas uma mão cheia de pessoas. Malabo parece uma cidade americana com redes hoteleiras, estradas alcatroadas, igrejas sumptuosas, praias paradísiacas, edifícios esplêndidos, mas, no entanto, as pessoas são paupérrimas. É triste, todavia é a realidade. Qual é a expectativa de vida para qualquer jovem que ali nasce? Para qualquer mãe ou pai que quer dar o melhor para os seus filhos? Será viver uma vida de sacrifício sem nunca proporcionar o melhor dos melhores aos seus?
Para se ter uma ideia concreta do que estou a tentar dizer: a conceituada revista Forbes considera Obiang um dos chefes de Estado mais ricos do mundo, porém a Guiné Equatorial está na lista dos países mais pobres do mundo. É o país africano com o maior PIB per capita do continente, no entanto a riqueza gerada não atinge sequer a população. Redistribuição da riqueza? Obiang não está familiarizado com esse termo com certeza. A ONU estima que metade da população não tem acesso a água potável e um quinto das crianças morrem antes dos cincos anos de idade. Redes televisivas conceituadas como a BBC, CNN, RTP realizaram artigos com base no testemunho a opositores políticos expatriados, pois como é óbvio, a imprensa é controlada e muitas das barbaridades ali cometidas, são abafadas pelo governo. As reportagens sobre acontecimentos mundiais como as “Primaveras Árabes” e Guerras na Síria são proibidas. Um autêntico predador da liberdade de imprensa. Não há uma imprensa independente, todos os jornalistas trabalham para o Estado ao abrigo do Ministério da Informação, ou melhor Ministério da Desinformação e Controlo, pois os jornalistas estão sempre sob vigilância governamental e apenas podem transmitir propaganda do partido de Obiang. Quem se atreve a fazer doutra maneira, é preso.
Como muitos presidentes africanos que conseguiram enriquecer à custa do povo, Teodoro Obiang é mais um ditador totalitário que segue o mesmo “exemplo” de outros tantos presidentes africanos que se aproveitam do poder e que não têm nenhuma preocupação com o desenvolvimento e crescimento do seu país natal, senão de encher os seus bolsos e dos seus próximos. Gira o disco e toca a mesma música. Vezes e vezes sem conta. Hoje tem 78 anos, porém quando não estiver no esplendor das suas capacidades, um dos seus filhos exercerá a sua função, e infelizmente, o ciclo se repetirá.
Fontes:
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-41077988
https://www.dw.com/pt-002/guin%C3%A9-equatorial-%C3%A9-o-mais-novo-membro-da-opep/a-38983003
https://www.forbes.com/sites/carlieporterfield/2019/09/30/auction-of-sup...
https://www.francophonie.org/guinee-equatoriale-960
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/portugues-na-guine-equatorial-e-uma-invencao_n104940
https://www.youtube.com/watch?v=CeQ5BEOtz04&t=293