Há mais de 20 dias que a Amazónia arde e o cheiro de morte é o de todxs nós
Como consequência de queimadas não autorizadas e da desflorestação ilegal, as recentes divulgações do INPE- Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais do Brasil apontam que a desflorestação da Amazónia cresceu 88% em Junho e 278% em Julho em relação ao ano passado. A Amazónia arde, e com ela toda a sua biodiversidade, as tecnologias dos seus povos originários e a nossa possibilidade de combater as alterações climáticas galopantes.
A Amazónia para Bolsonaro é mais uma vaca para abate no agronegócio. O seu governo segue uma política de destruição e de extermínio vertiginosas. Desmonta orgãos de fiscalização e de pesquisa, como aconteceu com a demissão apressada de Ricardo Galvão da direção do INPE após divulgação dos dados reais sobre desmatamento, desacreditando os dados do estudo. Assiste impávido à saída de investimentos milionários da Noruega e da Alemanha do Fundo Amazónia. Tenta alterar a Constituição Brasileira que regula a demarcação de terras indígenas. Chegou a incentivar grupos de fazendeiros do Sudeste do Pará a anunciar o “dia do fogo”, coordenando uma queima em massa de áreas em processo de desflorestação.
A vida no planeta tal como a conhecemos depende da floresta amazónica! Em São Paulo, a cidade recebeu os sinais de fumo desta destruição, ficando com o céu cinzento e escuro às 15h. O mundo assiste à destruição a céu aberto de uma das principais fontes de armazenamento de co2 e de produção de oxigénio (por isso conhecemos a Amazónia como “pulmão da terra”), cujos “rios voadores” transportam a água e geram chuvas farta e irrigam regiões distantes. O coração verde da Terra arde. Quem somos nós enquanto tudo arde?
Os governos internacionais devem agir. Sabemos que o desmatamento de mais de 20% deste bioma põe em risco o seu sistema geo-climático. O climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas sobre a Amazónia, assumiu que se o aquecimento na região passar de 4oC – já chegou a 1,5oC –, teremos uma mudança do bioma para savana. Para além disso, é importante lembrar que a floresta amazónica, embora vista como paisagem natural ou mero reduto de riquezas a serem extraídas, é uma efervescente malha cultural e social, cujas florestas secundárias e a incomparável biodiversidade são geridas e salvaguardadas desde tempos imemoriais por povos indígenas. Estes povos e as suas tecnologias de preservação têm sido apagadas da história em prol de uma imagem da Amazónia pristina e fonte de recursos desaproveitados. Em suma, só é possível dizer que temos esta riqueza porque os povos indígenas a têm protegido do saque.
Por isso, nós, sociedade civil, posicionamos-nos e achamos importante dizer basta!
Exigimos um posicionamento do Governo Português perante estes crimes contra a humanidade e o planeta.
Apelamos ao boicote de todos os produtos provenientes do agronegócio brasileiro e ao cancelamento da vinda de Jair Bolsonaro a Portugal no começo de 2020.
Defendemos a entrega incondicional dos territórios indígenas aos seus povos, demarcando as suas terras e fiscalizando essas demarcações contra as invasões ilícitas de madeireiros, garimpeiros e tentativas de grilagem!
WE ARE NATURE DEFENDING ITSELF
Assinam este comunicado:
Forum Indígena de Lisboa
Anonymous for the voiceless I Associação de Combate à Precariedade - Precários Inflexíveis Abraço Animal - santuário de resgate de Cavalos I Academia Cidadã I Assembleia Feminista de Lisboa I BUALA I Casa Ninja I Consciência Negra I Climáximo I Campanha Linha Vermelha I Climate Save Portugal I Eco Roots I Femafro I GAIA - Grupo Acção Intervenção Ambiental I GRUPO DE CAPOEIRA BERIMBAU DE OURO I Habita I Leve-leve – Colectivo Denise Viana I INMUNE - Instituto da Mulher Negra em Portugal I Pela Democracia Brasil
Montijo Animal Save I NARP – Núcleo Anti Racista Porto I Ni MAIWÃ – Floresta Mundo I Panteras Rosas – Frene Combate à LesBiGayTransfobia I Reflorestar Portugal I Solidariedade Imigrante – Associação para a defesa dos direitos dos imigrantes I SOS Racismo I STOP Despejos I Teia da Terra