Davi Kopenawa destaca, no documentário Escute: A Terra Foi Rasgada, a importância de continuar a denunciar e a construir alianças, não só com outros povos originários, mas também com parceiros não-indígenas, tanto no Brasil como fora: “Pessoal não fiquem tristes. Nós ainda estamos vivos. Não é hora de chorar. É hora de lutar. De continuar a viajar, denunciar. (…) Eu preciso do meu povo vivo e que permaneça no seu lugar. (…) Eu estou-me sentindo forte, porque nós estamos unidos. Estamos fazendo a aliança para ficar uma luta só. Sem luta, ninguém vai sobreviver”.
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20.11.2024 | por Anabela Roque
O filme de Bodanzky é o que mais expõe os conflitos sociais gerados pela atividade clandestina e ecoa a urgência do seu combate. O documentário revela como o garimpo afeta, de forma catastrófica, o meio ambiente e a saúde dos povos originários através da contaminação por mercúrio - metal usado ilegalmente pelos garimpeiros na extração do ouro.
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08.11.2024 | por Anabela Roque
No Manifesto apresentado no Festival de Cinema de Berlim, os líderes indígenas reclamavam: “Mais pajés, mais Céu, mais espíritos, mais floresta, mais vida. Menos ódio. Menos intolerância. Menos racismo.” E deixavam claro que “precisamos superar a impossibilidade de conviver em igualdade nas nossas diferenças, e passar a partilhar o mundo com outros seres vivos, outros viventes, viver e se olhar e se reconhecer no olhar do outro, com reciprocidade, com respeito aos humanos e respeito também aos não-humanos, uns ao lado dos outros, vivendo juntos em nossas diferenças”.
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17.09.2024 | por Anabela Roque
A divulgação das circunstâncias do combate travado na floresta é uma chamada à mobilização global pela Amazónia, no sentido de equilibrar as forças para que este bioma deixe de ser a região com o maior nível de conflitos e assassinatos no Brasil e para que documentários como O Território e Somos Guardiões, gravados em pontos geográficos distantes e com povos indígenas distintos, não tenham guiões tão semelhantes.
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05.08.2024 | por Anabela Roque
O lastro nefasto da política de destruição da floresta amazónica que ignora os seres que a habitam, humanos e não-humanos perdura no tempo. Em determinado momento da viagem, o realizador regista uma conversa entre os indigenistas Candor e Pereira sobre o processo traumático vivido pela população indígena, durante o regime da ditadura militar (1964 – 1985). Jair recorda que em tempos do Plano de Integração Nacional da Amazónia “o contato era mal feito” e Pereira recorda a lógica de então: “Amansa [os indígenas] que lá vai a estrada! Amansa que lá vem não sei o quê…”.
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08.07.2024 | por Anabela Roque
A gravidade do problema, como a ciência do Sistema Terra há tempos alerta, é de simples entendimento: as atividades predatórias, em vetores múltiplos de atuação na região amazônica – com forte influência do capital em demandas que transcendem as fronteiras – impactam no processo de ruptura deste complexo sistema, levando a uma irreparável destruição da Amazônia, com impactos sentidos à escala planetária.
Mukanda
16.10.2023 | por vários
Uýra - A Retomada da Floresta, realizado por Juliana Curi, é a primeira longa-metragem brasileira documental sobre uma artista trans indígena amazónica e é uma obra que contribui para superar imaginários preponderantes e para o reconhecimento da diversidade das identidades amazónicas.
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02.10.2023 | por Anabela Roque
O filme Segredos do Putumayo, do realizador brasileiro Aurélio Michiles, centra-se no universo do ciclo da borracha na Amazónia peruana do início do século XX, e pretende pôr em foco o sistema de mão-de-obra escrava indígena e o consequente genocídio dos povos originários provocados por este negócio. O relato da tragédia é conduzido por um cônsul britânico, o irlandês Roger Casement (1864-1916), que viajou pelas margens do rio Putumayo para investigar as denúncias contra a Peruvian Amazon Company (PAC), empresa dirigida pelo peruano Julio César Arana em associação com investidores britânicos.
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19.06.2023 | por Anabela Roque
Cerca de 40 mil pessoas deixaram de viver “no entre mundos”. Belo Monte deslocou-as, tornou-as “expatriados do seu próprio país no próprio país, submergiu-lhes as terras e as vidas. “Belo Monte é um mostruário de horrores. É também uma linha de montagem de conversão explícita de gente floresta em pobres”. Da fortuna da floresta passaram à pobreza das periferias da cidade de Altamira e de outras áreas urbanas, realojados em complexos habitacionais precários, sem árvores, sem rio. Tornaram-se o que não queriam ser, habitantes de lugares estranhos, forasteiros numa (des)organização social que os amputou.
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09.02.2023 | por Anabela Roque
A arte de Uýra Sodoma é plástica, mutável, transitória. É tanto destrutiva e quanto regenerativa, como também o são as transformações contínuas da ecologia úmida e proliferativa da floresta tropical. Replica e altera as forças e formas do território onde nasceu. Sua exploração contínua não é guiada pelo desejo de domínio mas pelo encanto do reimaginar. As formas que Uýra Sodoma cria a partir de seu próprio corpo são enredadoras e deslumbrantes. No centro delas, um olhar agudo escava e revela o está oculto sob os escombros da conquista colonial e sua história sem fim.
Corpo
02.12.2022 | por Sonia Corrêa
No início da década de 1970, quando Jorge Bodanzky começou a filmar o real nos territórios amazónicos, o Regime Militar brasileiro (1964-1985) promovia um imaginário irreal sobre Amazónia, com o fim de desmatar a floresta, explorar as suas terras, integrá-las num projeto colonizador megalómano. Para chamar os colonos de todo o Brasil, as campanhas da ditadura vendiam a Amazónia como uma “terra sem homens para homens sem terra” ou como “um deserto verde”. Oficialmente, a “Revolução chegava à selva” mas, de facto, o que se implementava era uma sanha destruidora que não se deteve até aos dias de hoje.
Enquanto militares e empresários ampliavam fronteiras colonialistas, Bodanzky abria fronteiras através do cinema, com o registo da degradação social e ambiental em curso.
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12.07.2022 | por Anabela Roque
As palavras do líder e porta-voz do povo indígena Yanomami, Davi Kopenawa Yanomami, são amazónicas; estão no livro A Queda do Céu, estão nos filmes em que participou, acompanham a exposição retrospetiva da fotógrafa Claudia Andujar, estão nos meios de comunicação social e nas redes sociais. São palavras que transmitem um conhecimento profundo dos mitos ancestrais e de como estes podem atuar na contemporaneidade; são advertências e denúncias, que se transformam em manifesto e, por vezes, em profecia. Kopenawa dirige-as ao povo da mercadoria, mas não são para trocar por estas, sugerem uma inversão de sentido no pensamento dos não-indígenas em direção à Natureza e à Amazónia, em particular.
Afroscreen
06.06.2022 | por Anabela Roque
Para falar da importância, não só de contar mais histórias sobre Amazónia, mas sobretudo de contá-las a partir de outras perspetivas, com o intuito de construir narrativas livres de contextos colonizadores, de estigmas e estereótipos, realizou-se, entre os dias 23 e 27 de novembro, em Manaus, na capital urbana situada no meio da floresta amazónica, um encontro internacional que juntou - presencial e virtualmente - múltiplas vozes. Com o cruzamento de experiências pretendeu-se estimular a criação e comunicação dessas novas narrativas, sobretudo no cinema, mas não só.
A ler
21.12.2021 | por Anabela Roque
Este tipo de elaboração é em grande parte viabilizada pelo trabalho desenvolvido no âmbito do projeto Vídeo nas Aldeias. A abrangência destas ações atua em vários sentidos: não só permite pensar o universo indígena através da sua auto-representação, como igualmente promove uma inversão do olhar que nos oferece a possibilidade de percebermos como, nós, brancos, somos vistos na perspetiva ameríndia. Coloca-nos ao espelho e mostra-nos o que muitas vezes evitamos ver.
Afroscreen
30.05.2021 | por Anabela Roque
São tempos de fogo e crime. A Amazónia arde e o mundo reduz a indignação a lamentos inconsequentes. Os povos indígenas estão praticamente sozinhos na luta contra o colapso. Em 2018, começaram a exigir a proteção institucional de uma terra ancestral na América do Sul que une os Andes, a Amazónia e o Atlântico. O “Caminho da Anaconda”, assim lhe chamam, é um corredor ecológico, espiritual e cultural. Por aqui serpenteiam espíritos e voam rios.
A ler
23.09.2020 | por Pedro Cardoso
Durante uma de suas mais recentes estadias junto aos indígenas Wari’, em 2014, Aparecida Vilaça conta que ficou impressionada com aquilo que então considerava ser uma novidade: viu diversas fotografias de seus amigos e parentes Wari’ que preenchiam na parede lateral de um quarto. Era o quarto de Paletó, seu pai indígena, de quem Aparecida foi se aproximando e criando essa relação de parentesco a partir de 1986.
Mukanda
07.12.2019 | por Fábio Zuker
Exigimos um posicionamento do Governo Português perante estes crimes contra a humanidade e o planeta. Apelamos ao boicote de todos os produtos provenientes do agronegócio brasileiro e ao cancelamento da vinda de Jair Bolsonaro a Portugal no começo de 2020. Defendemos a entrega incondicional dos territórios indígenas aos seus povos, demarcando as suas terras e fiscalizando essas demarcações contra as invasões ilícitas de madeireiros, garimpeiros e tentativas de grilagem!
Mukanda
25.08.2019 | por Fórum Indígena de Lisboa
O Arquivo Fotográfico mostra Visão Yanomami, exposição no âmbito da Lisboa Capital Ibero Americana da Cultura 2017 que revela o quão intensa foi a ligação entre a fotógrafa brasileira e os ameríndios yanomami. É um namoro que já dura há mais de 40 anos.
Vou lá visitar
13.04.2017 | por Sérgio B. Gomes
Há desde retratos feitos durante o transe xamânico até um conjunto de ações que o fotografado desempenha para a câmera. A busca é por aquilo que é pessoal em cada retratado, incluindo rosto e corpo, mas também ornamentos que conferem pessoalidade na construção do indivíduo.
Vou lá visitar
06.02.2017 | por Instituto Inhotim
Enfim, o fim do mundo não é um assunto multicultural, mas sim multinatural. Claramente, fé nos híbridos não é o suficiente. O mesmo se poderá dizer do elogio da diferença. Em contraste com os discursos do inhumano ou do anti-humano, será possível sugerir, como acontece em sociedades animistas, que tudo é humano? Será tal palavra sequer relevante para lá do sentido histórico que lhe foi atribuído a partir do Renascimento? Manter essa palavra implicaria não apenas uma humanidade para lá da espécie, mas também para lá da modernidade. Mas isso seria um oximoro: uma humanidade amoderna? Quem sabe no fim do dia estas sejam as perguntas erradas. Mas sejamos claros, reconhecer a agência dos não-humanos não faz de nós animistas. O animismo é simplesmente a palavra antropológica para a crença em uma humanidade outra à qual os modernos têm sido fieis. E, no entanto, as ontologias não são fixas, elas mudam e se transformam, confrontam-se e negociam-se entre si. É isto que, de um ponto de vista multinaturalista, o fim do mundo quer dizer: entrar na cosmopolítica.
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18.10.2016 | por Isadora Neves Marques