Sobre o 7º Congresso Ibérico de Estudos Africanos
Com o título “50 anos das independências africanas: desafios para a modernidade”, o 7º Congresso Ibérico de Estudos Africanos (CIEA7) aconteceu no ISCTE/IUL em Lisboa, entre os dias 9 e 11 Setembro, organizado pelo Centro Estudos Africanos do ISCTE/IUL _ CEA e Centro Estudos Africanos da Universidade do Porto _ CEAUP.
O congresso iniciou-se com um murro na mesa. Depois das habituais formalidades inaugurais com as figuras competentes, a conferência de abertura, de Aminata Traoré, quebrou imediatamente o tom retórico das políticas ocidentais relativamente ao continente africano.
Aminata, que foi ministra da cultura do Mali, tece duras críticas ao neoliberalismo instalado globalmente e tem trabalhado sobretudo no seu país, no sentido de propor ferramentas e estratégias para a transformação social, económica, cultural e política que possam atenuar os efeitos dramáticos deste modelo económico dominante.
Escritora e activista maliana, Aminata Traoré é a coordenadora do Forum pour un Autre Mali (FORAM) e directora do Centro Amadou Hampaté Bâ (CAHBA).
Na sua conferência intitulada “O Ocidente tem o monopólio da modernidade? ”, Aminata fez uma leitura bastante negativa dos 50 anos das independências africanas afirmando “estamos aprisionados pelo mito da modernidade que conduziu ao empobrecimento da grande maioria dos homens e mulheres africanos, à ruptura dos laços sociais, à destruição do meio ambiente e à migração forçada. É tempo de reclamar uma modernidade africana, que nos reconcilie com nós mesmos, com o nosso meio ambiente e com o mundo.”
Depois de três dias de painéis vários sobre os grandes temas de reflexão nos estudos africanos, o congresso encerrou com outro murro na mesa. Em tom de questionamento, Elísio Macamo, sociólogo moçambicano, professor de estudos africanos na Universidade de Basileia, na Suíça, fez uma acutilante crítica aos pressupostos dos estudos africanos.
Na sua conferência intitulada “Os tempos da modernidade: Saber e lacunas epistemológicas nos Estudos Africanos ”, Elísio Macano desconstruiu minuciosamente o título do congresso e até o seu logotipo, impondo um ponto de ordem aos conceitos das ciências sociais nos estudos africanos.
Tanto as duas conferências citadas como os três dias intensos de comunicações organizadas em painéis, levaram a debate variadíssimas questões relevantes no contexto dos estudos africanos. De salientar a excelente organização do congresso. Dentro de dois anos há mais e desta vez será em Madrid.
As imagens que ilustram este artigo são parte integrante da exposição “Le Grand Saut”, organizada pelo Centro Amadou Hampaté Bâ (CAHBA), e proposta por Aminata Traoré no 7º Congresso Ibérico de Estudos Africanos. A exposição é um relato pictórico de seis jovens malianos que abandonaram a sua terra-natal para seguirem a rota do norte e após três anos de errância foram expulsos de Ceuta e reenviados para Bamako.