TOCHAS, fotografias de Vasco Célio
Exposição I 14 de maio a 19 de Junho, Terça a Sábado das 15h às 19h I MIRA FORUM, Porto
Diz-se que há cerca de dois séculos os habitantes de São Brás de Alportel, perante a aproximação de uma frota invasora e do perigo do saque, da destruição e da morte, socorreram-se de um ardil: à noite, ao longo da costa de frente ao mar, de tochas acesas nas mãos e outras enfileiradas cravadas no chão, convenceram o inimigo de que eram muitos e preparados, levando-o a cancelar o desembarque e a seguir caminho. Desde então, este evento passou a ser festejado com alegria e exuberância, também com religiosidade, tendo a tocha original sido substituída pela simbólica tocha floral.
Nos anos de 2012 e 2017, Vasco Célio retratou as centenas de homens de S. Brás de Alportel que empunham as suas tochas floridas na procissão pascal da Ressurreição. Desse trabalho resultou uma exposição de nove fotografias à escala real e com dimensões aproximadas de 160 cm por 135 cm e que em maio se apresenta na galeria Mira Forum, no Porto, com curadoria de Sara Goulart e apoio da DGArtes, Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Ironic Art Nation, Buala, Artadentro, Stills e Largo Residências.
Sobre TOCHAS:
O tratamento artístico de TOCHAS atendeu a uma lógica de enquadramento frontal, simples, do tipo de retrato clássico, em plano aproximado. Célio propôs-se fotografar o maior número de homens possível, a olhar para a câmara, agarrando a sua Tocha de flores. Feitos com uma câmara de médio formato e luz artificial, garantia de iluminação homogénea, mesmo durante as diferentes horas do processo, e contra a parede caiada da igreja local, estes retratos captam o olhar atento em confronto e, simultaneamente, em pose de orgulho pessoal e do trabalho executado — as TOCHAS. Este trabalho, realizado em momentos distintos, resultou em mais de 500 retratos, conseguidos com a ajuda de 4 assistentes. Durante as cerca de três horas que antecedem a procissão, onde circulam e são exibidas as TOCHAS, o fotógrafo teve de garantir o maior número de retratos realizados. Para a exposição pensada e produzida em 2018, foram escolhidos 9, na fórmula clássica de ampliação à escala 1/1, resultando em imagens com uma lógica espacial dialética, assumida com o espectador, que por vezes se deixa confundir com o realismo que essas dimensões comportam. Levar este projeto ao Porto tem a intenção não só de dar a conhecer a obra em questão, mas também de promover um conjunto de reflexões que a mesma suscita: as dicotomias de papéis de género nas comunidades do interior; a produção artística em contextos de territórios periféricos; magia e realismo nas representações da história e das tradições.