Brasil, que futuros em disputa? Um alerta às eleições brasileiras e uma homenagem a José Saramago
Dia 26/10 (Quarta-feira), 18h30.
Entrada até o limite da capacidade do local.
Dois anos depois do lançamento do livro O Brasil Contemporâneo e a Democracia (Outro Modo, 2020), o Coletivo Andorinha – Frente Democrática Brasileira de Lisboa e a Livros Outro Modo promovem um encontro para reflexão e ação sobre a atual encruzilhada brasileira. No próximo dia 26/10, às 18h30, na Fundação José Saramago (Lisboa) será realizado o ato-debate Brasil: que futuros em disputa?, onde reúnem-se pensadores brasileiros e portugueses num alerta sobre as implicações da atual conjuntura.
Convidados já confirmados: João Pedro Stédile, Adelaide Gonçalves, Chico Diaz, Ana Chã, Susana Matos Viegas, Carlos Latuff, Ladislau Dowbor, Graziella Moretto, Pedro Cardoso, Fernando Walcacer, Isabel Araújo Branco, João Luís Lisboa, Danilo Moreira, Mabel Cavalcante, Pedro Cardim, Adriano Karipuna. Com inserções de Guilherme Boulos e mediação de Carlos Alberto Jr.
Ato-debate na Fundação José Saramago, presencial e online.
“Brasil, que futuros em disputa?”
Por Ariadne Araújo
No passado, nas aldeias grandes e pequenas desse mundo, um sino de bronze acordava o povo para acudir às catástrofes – as cheias dos leitos dos rios, os incêndios que se propagavam rapidamente, os desabamentos e derrocadas de pedras, os perigos vindos das mãos dos homens. Hoje já não tocam mais. Ou, pelo menos, não por isso. Os tempos são outros. Os perigos são outros. Os sinos também são outros. Os sinos de hoje, no dizer do escritor português José Saramago (1922-2010), Prêmio Nobel de Literatura, não repicam o badalo no bronze frio, mas, sim, em vozes – milhares delas, cada vez mais fortes. Vozes que ressoam alertas atuais e convocam o povo para novas urgências. Estes sinos contemporâneos são “os múltiplos movimentos de resistência e ação social, que pugnam pelo (re)estabelecimento de uma nova justiça”.
Sendo assim, às vésperas do segundo turno no Brasil, um repique de sinos-vozes vai ecoar na próxima quarta-feira, na Casa dos Bicos, ali na Rua dos Bacalhoeiros, bem no boliço do centro de Lisboa, onde hoje funciona a Fundação José Saramago. Em umas das salas desta velha casa, contruída no século 16, as vozes deste novo sino vão levar aos portugueses e aos brasileiros uma pergunta crucial para os tempos em que vivemos: “Brasil, que futuros em disputa?”. Sentado na primeira fila de bancos, haverá de estar o espírito desencarnado de Saramago, também homenageado por esse ato-debate, por sua obra e pensamento crítico. Nas narrativas e personagens de seus livros – de lembrança, os alentejanos Mau-Tempo e sua mulher Sara da Conceição -, a denúncia da exploração, do desemprego e da pobreza extrema dos trabalhadores rurais, em Portugal. Não teria o Brasil de agora e suas vidas severinas também um tantinho do Alentejo, do Levantado do Chão?
O escritor, que nunca aceitou a resignação, é “bússola” para estas vozes que, pela persistência e determinação, hão de “acordar o mundo adormecido” ou pelo menos transformar-lhes os sonhos. Como “pontes sonoras sobre rios e mares”, gritando que a atual encruzilhada brasileira não é um problema só nosso. Longe disso. Pois, o resultado das urnas no Brasil terá impacto planetário. Já que estão em jogo importantes questões ambientais com a situação do desmatamento da floresta Amazônica - aumentou assustadoramente desde que o presidente Jair Bolsonaro iniciou seu mandato -, e vem batendo recordes a cada novo mês.
O enfraquecimento das políticas de proteção ambiental, a defesa de implantação de mineradoras e alargamento de áreas destinadas à agricultura em zonas de floresta são, portanto, de interesse de todos. Por outro lado, uma coisa está ligada à outra, há a ameaça ao sistema democrático brasileiro. Problema que puxa o debate sobre a fragilização da democracia no mundo - minada por “estratégias de domínio”, nas palavras de Saramago. Interesses que “nada têm a ver com o bem comum a que, por definição, a democracia aspira”. Ou será que, como deixou proposto no prefácio do livro Terra, de Sebastião Salgado, teremos um dia de retirar o Cristo Redentor e, “no lugar dele, colocar quatro enormes painéis virados às quatro direções do Brasil e do mundo, e todos, em grandes letras, dizendo o mesmo: UM DIREITO QUE SE RESPEITE, UMA JUSTIÇA QUE SE CUMPRA”. Talvez.
Se Saramago será o sineiro desta reflexão, os sinos terão mistos sotaques, do Brasil e de Portugal, reunindo artistas, historiadores, antropólogos, economistas e pensadores da conjuntura brasileira. Porque, afinal, como nos lembram os escritos do dono da casa, votar só não basta. Temos de abrir os olhos, os ouvidos e a voz diante do poder econômico e financeiro mundial, a “real força que governa o mundo – e, portanto, o seu país e a sua pessoa”. E que, pela mesma via, transforma governos em meros “comissários políticos”. A Amazônia que o diga. Contra estas forças, que nos enrolam de propagandas e “açúcares”, temos o dever de multiplicar os sinos e as badaladas, que elas cheguem o mais longe possível. “Para que uma justiça pedestre, `companheira e quotidiana dos homens´, não seja declarada defunta”. E não tenhamos de pranteá-la, lamentando não ter acudido a tempo a catástrofe desta morte anunciada.
O Ato-debate “Brasil, que futuros em disputa?”, é uma iniciativa do Coletivo Andorinha e editora Livros Outro Modo, com apoio da Fundação José Saramago.
O debate terá transmissão ao vivo pela Internet (14:30h em Brasília; 18h30 em Lisboa), através do canal da Frente Internacional Brasileira contra o golpe e pela democracia (Fibra), com o link https://youtu.be/5y_E5odSKoU