The Square

16.01.2014 | par martalanca | Egipto, praça

A Libertação pela Revolução

A revoluçao tunisina, como aliàs a egípcia, foi desencadeada pelos jovens das camadas mais desfavorecidas da sociedade, oriundos muitas vezes das regiões mais pobres do pais. No entanto, mesmo antes destas revoluções terem resultado na demissão ou na fuga dos respectivos ditadores, os americanos (oportunistas como são), através da influência sobre os tecnocratas em exilio (formados no seu território), fizeram tudo para recuperar os frutos dos sacrifícios do povo. Estes tecnocratas, agora em função nas altas instâncias do Estado aproveitam-se da tranformação do regime, guardando os seus interesses intactos assim como os dos seus protectores oficiais.

Nada de novo, nada de complexo, nada de insólito (as maneiras de agir dos americanos já foram desmontadas de A a Z).


O mais interessante disto tudo, nem são tanto os mecanismos pelos quais os tecnocratas dos novos regimes sao submetidos à influência do poder americano, mas o processo pelo qual as reivindicações de base destas revoluções foram reduzidas, pelo intermediário entre outros dos media, ao simples ideal de Liberdade à maneira ocidental. O slogan em comum destas duas revoluções abrangia um espectro muito mais amplo de projecto de sociedade como a justiça, a dignidade e a independência nacional. Esta última reivindicação, longe de se esgotar nas fronteiras de um Estado-Nação, diz respeito acima de tudo a uma soberania nacional (do povo, da cultura arabo-muçulmana) anti-imperialista. Em países com um passado colonial pesado e cujas formas e organização social autóctone foram destruídas, a liberdade como bem absoluto individual só faz sentido se a colectividade « maitrise » os seus próprios valores (a todos os níveis) : « Faire sauter le monde colonial est désormais une image d’action très claire, très compréhensible et pouvant être reprise par chacun des individus constituant le peuple colonisé. ” Frantz Fanon
Hoje, na Tunísia pós-eleitoral, os franceses foram desonrados e os islamistas Ennahda (força liberal) constituem um prolongamento do poder dos países do eixo petrodollar. No Egipto, em particular, o exército está associado aos americanos desde a presidência de Muḥammad as-Sādāt em 1970 até aos « negociatas » e políticos corruptos de Hosni Moubarak. A uma semana das eleições, o povo ocupa novamente a Praça « Tharir » (praça Emancipação/Libertação) consciente do papel da ingerência americana no exército e nos seus aliados políticos (protesto que começa a alastrar-se por outras regiões). O exemplo máximo desta ingerência são as armas (made in USA) utilizadas hoje para punir o povo na praça (ouvido numa entrevista a um manifestante). As reivindicações destes novos ocupantes insistem sobretudo em dois pontos : criar um organismo apto a julgar os políticos e « negociatas » corruptos ; criar uma presidência civil contra a oligarquia militar.
As previsões eleitorais são óbvias : os islamistas liberais (partido da Liberdade e da justiça) vão sair vencedores no Egipto. Partido da mesma tendência do Ennahda na Tunisia, ou seja, agentes políticos do movimento dos « irmãos muçulmanos » diferente do movimento islamista jihadista anti-americano. Excusado seria dizer que o partido da liberdade e da justiça faz aliança com os militares. Estes mesmos que o povo quer desarmar.
Enquanto o governo provisório já se demitiu, os militares abriram retoricamente um antecedente perigoso : « um milhão, dois milhões na rua não representam o povo egípcio ». Os indignados em Madrid ou em NY também não…. Não somos de facto os 99%.

Shift no Spectrum

22.11.2011 | par martalanca | Egipto, liberdade, primavera árave. revolução, Tunisia

Sessão especial seguida de debate: A Cidade dos Mortos, LISBOA

Numa altura em que o mundo árabe, e em particular o Egipto, passam por grandes alterações políticas, sociais e económicas, o filme A Cidade dos Mortos, de Sérgio Tréfaut, é um ponto de partida para uma conversa sobre a vida e a morte na necrópole do Cairo.

17 de Abril (domingo), 19h00 no Cinema City Classic Alvalade (Av. Roma, 100, Lisboa), com a presença do realizador Sérgio Tréfaut e de Ashraf Fakhoury

apresentado por Sandra Monteiro (Le Monde diplomatique — ed. port.)

A conversa a seguir à sessão das 19h tem entrada livre. Os bilhetes para o filme estão à venda na bilheteira. 


Sinopse

A Cidade dos Mortos, no Cairo, é a maior necrópole do mundo. 
Um milhão de pessoas vivem dentro do cemitério – em casas tumulares ou nos edifícios que cresceram em redor. Dentro do cemitério há de tudo: padarias, cafés, escolas para as crianças, teatros de fantoches… 
A Cidade dos Mortos estende-se por mais de dez quilómetros ao longo de uma auto-estrada, mas não deixa de ser uma aldeia, com mães à caça de um bom partido para as filhas, rapazes a correr atrás das raparigas, disputas entre vizinhos.
Preparado e rodado ao longo de cinco anos (2004-2009), este filme procura dar a ver a alma invisível do cemitério.


12.04.2011 | par franciscabagulho | cinema, Egipto, Sérgio Tréfaut

Egyption Revolution

Duncan Sharp Sky News

21.02.2011 | par martalanca | Egipto, Revolta no Egito, Revolution

O dia em que a multidão foi maior do que o Cairo

Paulo Moura, Cairo

Venceram. Era impossível, mas venceram. A praça Tahrir estava cheia quando rebentou a notícia, sob a forma de gritos - “Alah U Akbar!” E todos souberam o que era. Não pela frase, mas pelo modo arrebatado, incandescente, como foi gritada. “Alah U Akbar!”, e as multidões que ainda faziam fila nos checkpoints junto aos tanques lançam-se a correr loucas sobre a praça. Ao princípio parece uma guerra, um novo ataque dos provocadores, uma carga da polícia ou do exército, mas é apenas alegria. Violenta como tiros de canhões.
fotografia de Alexandra Lucas Coelho, na praça Thrair, 11/2/2011fotografia de Alexandra Lucas Coelho, na praça Thrair, 11/2/2011“Egipto livre! Egipto livre!”, gritam grupos que correm em comboios rumo ao coração de Tahrir. “O povo venceu”, gritam outros. “Nós somos o povo do Egipto”. E tambores explodem em ritmos desenfreados, música, foguetes, o ulular das mulheres árabes. Há sorrisos em todos os rostos. Sorrisos estranhos, que parecem brotar de uma nascente lídima e cristalina da consciência humana.
“Estou aqui de alma e sangue”, diz Zeinob, 26 anos, médica. “Estou aqui pela dignidade do meu país. Com orgulho nele. Orgulho que o mundo nos esteja a ver neste momento. Pensavam que os povos árabes eram desorganizados, incultos e violentos? Pois o que me dizem agora?”
Zeinab sabe que se seguem tempos difíceis, mas tem confiança absoluta no futuro. “Recuperámos a nossa dignidade. Depois do que aconteceu nesta praça, nunca mais ninguém nos poderá humilhar”.
“Bem vindo ao século XXI”
Mahmoud Halaby, 46 anos, publicitário, acrescenta: “Somos um povo pacífico. Aguentámos este ditador durante 30 anos: querem melhor prova?” E Khaled Kassam, 23 anos, médico, diz: “Os governantes que vierem a seguir sabem que terão de tratar este povo de forma diferente. Vamos observar a transição passo a passo. Se as coisas não evoluírem na direcção certa, faremos ouvir a nossa voz. Egipto, bem-vindo ao século XXI”. Mahmoud acredita que os militares vão cumprir a promessa de transformar o regime. “Com Mubarak no poder não seria possível, mas agora sim. O regime é como uma serpente. Se lhe cortarmos a cabeça, não pode sobreviver”.
Tahrir nunca teve tanta gente. Chegam cada vez mais, aos milhares. Já não cabem, apertam-se, misturam-se, unem-se num organismo desmesurado e vivo, a revolver-se de júbilo, como uma crisálida em plena transformação. A multidão é maior do que a praça, do que a cidade. Maior e mais poderosa do que se julgava.
“É uma surpresa. Para mim é uma surpresa. Nunca pensei, nunca sonhei que vencêssemos”, diz Ahmed Shamack, 21 anos, estudante de engenharia. “Acho que nunca ninguém acreditou verdadeiramente. Sabíamos que tinha de acontecer, mas não o imaginávamos. Por isso agora é tão maravilhoso”.
Farah Faouni, uma rapariga de 23 anos e olhar negro e intenso como o de uma sacerdotisa de Ísis aproxima-se para dizer, lentamente: “Sinto o doce aroma da liberdade”. E depois acrescenta: “Vamos avançar. Vamos construir neste lugar um país democrático e livre. Ninguém nos poder impedir. Este é o nosso tempo.”
Um velho de barbas e longa túnica chora ruidosamente, de braços no ar. Mulheres sozinhas, perdidas na multidão, têm os olhos cheios de lágrimas. Há rostos tisnados, rugosos, sujos, chorando e rindo ao mesmo tempo. Alguns procuram desesperadamente um jornalista para lhe contar a sua vida. Como se o pudessem fazer pela primeira vez, em liberdade. Só agora se permitindo olhar para si próprios e ver-se na sua miséria e grandeza. Chorar é o primeiro apanágio da liberdade. O primeiro direito. “Eu não tenho trabalho. Não tenho segurança social, não tenho seguro, não tenho uma casa decente, não tenho assistência médica para a minha família, diz Sherif Assan, 41 anos, rodeado dos seus quatro filhos, Radua, Mohamed, Zwad e Tamema. Esta tem dois anos e está às cavalitas dele. Os outros, de 3, 4 e 6 anos, estão à volta da mãe, que tem o rosto coberto pelo hijab negro. “Não temos nada. A minha família merece mais do que isto”.

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12.02.2011 | par martalanca | Egipto, Hosni Mubarak, revolução, Tahrir

Ao 18º dia o faraó caiu

A mensagem durou pouco mais de 20 segundos e pôs fim a 30 anos de poder de Hosni Mubarak, o faraó do Egipto. Ao fim de 18 dias de protestos, o regime cedeu, depois de na véspera Mubarak ter dado o seu último estertor.

A fúria de quinta-feira, dia em que Mubarak falou aos egípcios para dizer que não ia abandonar o seu cargo, apesar de anunciar uma série de cedências, foi substituída por uma explosão de alegria em todo o Egipto.

Nas ruas do Cairo, Alexandria, Suez e de muitas outras cidades egípcias já estavam milhões de pessoas que depois das orações começaram a desfilar, voltando a gritar “Vai-te! Vai-te!”. 

Milhares juntaram-se à frente do Palácio Presidencial, mais milhares à porta do edifício da televisão estatal. Os militares que protegiam ambas as instalações mantiveram as suas posições, sem hostilizar os manifestantes. Há mesmo notícias de confraternização e gestos de solidariedade para com aqueles que gritavam “Nem Mubarak, nem Suleiman!”.

No país circulava a notícia de que Mubarak e a família tinham abandonado a capital e viajado para Sharm el-Sheikh, a estância turística do Mar Vermelho. Muitos pressentem “um bom sinal”. Pouco depois a televisão estatal anuncia para breve um “comunicado importante e urgente” da presidência egípcia. 

E o comunicado surge ao cair da noite no Cairo: “Em nome de Deus, o misericordioso, cidadãos, durante as difíceis circunstâncias que o Egipto atravessa, o Presidente Hosni Mubarak decidiu deixar o cargo de Presidente e encarregou o Conselho Supremo das Forças Armadas de administrar o país. Que Deus ajude toda a gente”, afirmou o vice-presidente, Omar Suleiman, na curta declaração transmitida na televisão estatal.

O país explode de alegria. Na praça Tahrir, filmada em directo pelas televisões, o barulho da vitória é ensurdecedor. “No Cairo, os condutores estão a buzinar, há disparos de tiros para o ar”, contou o correspondente da BBC Jon Leyne na capital egípcia. Havia pessoas aos saltos: “Temos um ex-Presidente!”, gritam. “Conseguimos!”.

“Este é o melhor dia da minha vida”, reage o opositor Mohamed ElBaradei. “O país foi libertado depois de décadas de repressão”. Agora, o Nobel da Paz espera uma “bonita” transição de poder. 

Por seu lado, a Irmandade Muçulmana saúda o “grande povo do Egipto e o seu combate”. Issam el-Aryan, porta-voz da maior força da oposição, banida mas tolerada no regime de Mubarak, disse que a Irmandade “celebra o momento e segue o caminho”.

“Consenso nacional” – é este o apelo de Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe e ex-ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, face à “mudança histórica” trazida com a renúncia do Presidente Hosni Mubarak. Moussa surgiu nesta revolução como uma das figuras que poderá assegurar a liderança de um eventual governo de transição e não descartou a possibilidade de ser candidato à presidência.

Em comunicado, o Exército diz que vai anunciar medidas para uma fase de transição após a queda do Presidente demissionário. Depois de “saudar os mártires” que morreram na revolução, os militares garantem não se vão substituir à “legitimidade desejada pelo povo”. 

O Conselho Superior das Forças Armadas declara, no comunicado, que o Exército vai “definir os passos que vão ser seguidos”, sublinhando ao mesmo tempo que não há outro caminho em frente para além do legítimo “a que as pessoas aspiram”.

“O comunicado militar é óptimo”, escreve no Twitter Wael Ghonim, o executivo da Google que se tornou uma figura-chave dos protestos. “Confio no nosso Exército.”

O ministro da Defesa saúda a multidão em frente ao palácio presidencial no Cairo. Mohamed Hussein Tantawi é, segundo fonte militar, o chefe do Conselho Superior das Forças Armadas, a quem Mubarak passou o poder. De Suleiman e de outras figuras do Partido Nacional Democrático não há sinal. 

Mubarak partiu, mas durante a noite eram muitos os analistas que faziam a mesma pergunta: e os militares, também vão largar o poder que controlam há quase 60 anos? 

Na rua, a festa continuou. 

 

Público

12.02.2011 | par martalanca | Egipto, Hosni Mubarak

Why fear the Arab revolutionary spirit?

The western liberal reaction to the uprisings in Egypt and Tunisia frequently shows hypocrisy and cynicism.

Article by Slavoj Žižek (The Guardian)

04.02.2011 | par ritadamasio | Egipto, Egypt, Revolta, Revolution, Tunisia

"Bravest girl in Egypt" translated into English

 You can now read and understand the slogans of the demonstrators. Translated by Iyad El-Baghdadi, subbed by Ammara Alavi. 

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02.02.2011 | par martalanca | Egipto