Concentração: contra a violência policial

Luta contra a violência policial perpetuada há mais de 3 década nos bairros e contra a classe social desfavorecida. Questionamos o tipo de policia e a sua actuação; e exigimos direito a ter direitos, a não ser espancados, e a ocupar espaços públicos na nossa comunidade.

Não obstante a consciência colectiva negra de que nós, estudantes e trabalhadores negros e negras, somos as principais vítimas da brutalidade da Polícia nos bairros, sublinhamos que essa mesma violência é também infligida, de forma sádica e independentemente da cor, a todas e todos aqueles que percorrem esse espaço geográfico e sociológico denominado “ghetto”. Esta atitude indiscriminada de extrema violência da polícia para com estudantes e trabalhadores brancos e brancas nos bairros, tem como objectivo veicular a mensagem de que, quem quer que se aproxime do espaço ghetto – subentenda-se, o espaço natural dos negros −, será tratado tal e qual qualquer outro negro do ghetto! Esta violência é mais uma forma de fragmentar a sociedade pois só fortifica, entre os estudantes e trabalhadores brancos, uma tendência de apartheid, historicamente construída e reproduzida, e intrínseca a esta organização política e económica das sociedades onde vivemos. A constatação, leva-nos a considerar imperativo a unidade na acção de todas e todos aqueles que moram nos bairros e a solidariedade militante dos restantes trabalhadores para com esta luta.

 

Ler aqui a descrição do mais recente ataque ocorrido na Cova da Moura. 

10.02.2015 | par martalanca | concentração, Cova da Moura, Plataforma Guetto, repressão policial

A razão e o sentido de dois motins

Tal como em 5 de Fevereiro de 2008, Maputo viveu ontem um dia de barricadas de pneus ardendo nas ruas, pedradas a carros e montras, cidadãos mortos pelas balas das forças policiais.

Também como nesse Fevereiro, o motim foi convocado em rede por SMS e boca-a-ouvido, alastrando em bola de neve de um bairro popular a outro, à medida que o fumo das barricadas vizinhas ia sendo avistado.

Como em 2008, o móbil imediato dos protestos foi a brusca subida de preços. Então, dos “chapas”, periclitantes carrinhas que servem de transporte público à esmagadora maioria. Agora, da água, electricidade, pão e arroz - sua base alimentar.

Em ambos os casos, ainda, os aumentos ameaçam as próprias perspectivas de subsistência de uma população que precisa de toda a sua criatividade e desenrascanço para, simplesmente, se manter no fio da navalha. Mas, para esses pobres, mais irritante ainda do que os aumentos foi - em 2008 e, muito provavelmente, agora - verem neles uma desconsideração, por parte de quem decide, para com as suas dificuldades e necessidades mais elementares.

Moçambique passou, com o fim da guerra civil, de um regime socializante e paternalista para uma política ultraliberal que trouxe o aumento do desemprego e das elites económicas, coincidentes ou ligadas às elites políticas. Trouxe também a erosão do controle local da população através de instituições partidário-estatais que, se podiam cometer abusos, também podiam canalizar as necessidades e reclamações populares.

O sentimento que hoje grassa nos bairros populares do Grande Maputo é o de uma incerteza global quanto ao futuro e à própria subsistência e, face ao poder político, a sensação de que as suas dificuldades se tornaram irrelevantes para os poderosos e de que não existem canais por onde as suas necessidades e protestos possam ser canalizadas de forma eficaz.

Esta situação e visão permitem que motins como o de ontem possam ser sentidos como a única forma válida de protesto. E que possam ocorrer sempre que uma nova medida política ameace a sua subsistência, enquanto vêem desfilar perante si o que consideram ostentações de riqueza e desigualdade.

Não quer isto dizer que quem protesta violentamente pretenda pôr em causa o Governo ou o partido que o ocupa desde a independência. Maputo é um baluarte da Frelimo e a maioria dos manifestantes de ontem terá votado nela o ano passado.

Só que a visão dos direitos e deveres entre governantes e governados predominante nesses bairros populares não coincide com o hábito europeu (e das elites políticas locais) de aceitar que basta a um Governo legítimo tomar decisões legais para que também elas sejam legítimas.

Estas pessoas consideram, antes, que o poder instituído não deve ser ameaçado, mas, em contrapartida, tem que garantir o essencial de bem-estar e dignidade às pessoas que governa. O governante pode “comer mais”, mas não “comer sozinho”, à custa da fome dos outros. Assim, por muito que o poder seja considerado legítimo, uma sua decisão pode ser ilegítima, se quebrar esse dever.

Ou seja, os amotinados de ontem (tal como os de 2008) protestavam contra uma decisão política concreta e protestavam contra a forma como o poder político é exercido. Afinal, protestavam contra aquilo que consideram uma quebra do “contrato social” que estabelecem com o poder instituído a que se submetem. Uma quebra que, com a repetição de motins no essencial iguais, afirmam já não tolerar.

Claro que, a cada novo motim bem sucedido (e o de 2008 era um claro motivo de orgulho nos bairros pobres), mais se reforça a imagem popular de que essa é a única forma eficaz de protesto. O que coloca o Governo moçambicano perante um difícil dilema: ou não cede às reclamações e aumenta exponencialmente a repressão policial, arriscando o apoio financeiro internacional de que depende, ou se torna mais “tradicionalmente” africano, considerador e dialogante, fragilizando com isso as suas práticas mais autoritárias e os actuais padrões de concentração de riqueza.

 

Paulo Granjo, Antropólogo, ICS-UL Público, 2/9/10

03.09.2010 | par martalanca | greve, Maputo, motins, repressão policial

Solidariedade com os grevistas de Maputo

CONCENTRAÇÃO em frente à EMBAIXADA DE MOÇAMBIQUE

amanhã, sexta dia 3, às 12h /

av. de berna, 7 lisboa

02.09.2010 | par martalanca | greve, Maputo, repressão policial