Festival Tanto Mar, Loulé. Consolidar, na diversidade, as afinidades entre povos falantes do português
Ao lançarmos a edição zero do Tanto Mar em co-produção com a Câmara Municipal de Loulé, sabíamos que a mesma seria um teste à nossa capacidade organizativa nas suas várias vertentes. A “folha de medronho”, como colectivo, tem uma existência recente (foi fundada em finais de 2017) e as fragilidades inerentes à ausência de um núcleo profissional permanente. No entanto e como contra-ponto, há experiências individuais sólidas em diversos domínios, assim como há uma herança de relações cúmplices no meio artístico nos PALOP´s - para o qual está vocacionado o Festival - e institucional que nos induziu a partir à aventura.
Ouvindo-nos e ouvindo quem tínhamos de ouvir (instituições, grupos, convidados e amigos), o balanço global da primeira edição, ou edição zero, o panorama pareceu-nos positivo, adequado às nossa projecções e motivador para continuarmos. Por isso aqui estamos novamente com as águas de Março sem alterar a estrutura geral do Festival, organizativa e artística, não foi alterada. O tempo continua a ser de testar e robustecer, perceber e transformar variáveis em invariáveis, para dar passos consistentes.
Assim mantemos os dois eixos principais do “Tanto Mar”: completar a oferta regional e também desenvolver, ao longo do ano, directa ou indirectamente, trabalho de cruzamento de experiências entre os criadores dos países onde o português é a língua oficial, de preferência tentando que estas experiências, e os seus resultados, encontrem em Loulé, a médio/longo prazo, o palco europeu privilegiado, e o espaço físico para um futuro arquivo do material do labor necessário para chegar ao efémero do palco, como por exemplo, cartazes, livros, programas e audiovisual.
Se o primeiro objectivo começa a fixar-se na agenda regional e nacional – com a articulação de datas e espectáculos com o Festival Internacional de Teatro do Alentejo -, a segunda intenção ganhou mais corpo com a participação da “folha de medronho” em três festivais (no FITA/Portugal, no CIT/Angola e no Festluso/Brasil) e em São Tomé e Príncipe, a convite para relançarmos as actividades de Formação e Criação de artes performativas e contribuir para o desenho futuro festival internacional naquele país. Outro sinal neste objectivo de estabelecer laços e cumplicidades substanciou-se no convite que me foi feito (como Director do “Tanto Mar”), para ser Curador da programação internacional do festival CIT/Luanda/Angola assim como um outro convite feito à actuadora /encenadora Tânia Farias(Porto Alegre/Brasil), para com o seu grupo co-produzir em Loulé um espectáculo com a “folha de medronho”, e ainda um segredo bem guardado entre Maputo/Moçambique e Loulé…
Como escrevia o ano passado, nesta procura de cruzamentos e intercâmbios, não nos move qualquer tentativa de homogeneização, muito menos hegemonização cultural. Antes e sempre a procura da colisão criativa de narrativas e contra-narrativas, que substanciam a longa história e consolidam, na diversidade, as afinidades entre povos falantes do português.
João de Mello Alvim