Mykki Blanco | Physical Therapy - LISBOA
Quinta, 6 de Setembro às 22h na ZDB
O conceito de androginia não é de todo uma novidade no mundo fértil da pop. De Bowie a Ariel Pink, a exteriorização física reforça a mensagem da expressão musical. No rap, pelo novidade que apresenta, a questão pode tomar outro relevo. Durante anos, o estilo de vida nesse meio foi estilizado e tornado cliché (até à exaustão). Um retrato que, desde logo, deixou pouco ou nenhum espaço para o surgimento de alguma excentricidade. Mykki Blanco surge então como uma das faces de uma jovem geração de rappers que procura agitar as águas . Algumas publicações mais mediáticas têm perdido algum tempo em redor de expressões limitadoras como queer rap, mas trata-se mais que isso. É a consciência de uma liberdade pessoal e criativa; um statement que já antes, e de forma menos explícita, tinha sido sugerido por Tyler, The Creator ou Lil B.
Em palco, Mykki é resultado da arte do transformismo mais puro, façanha que já lhe valeu destaque em revistas como a Vogue ou a Elle. Uma exaltação e devoção pelo feminino que recupera o espírito drag imortalizado por RuPaul ou Divine (diva do cineastra John Waters). Performer nato, autor de várias peças de teatro e ensaios, este performer de 24 anos acaba de editar o EP ‘Mykki Blanco & The Mutant Angels’, depois de uma prometedora mixtape que contou com a participação de gente como Teengirl Fantasy, Nguzunguzu, Gatekeeper, Brenmar ou Physical Therapy. Imprevisível, incisivo e genuíno, apregoa a crítica à atitude capitalista e mediática que os barões do rap genericamente tomaram. Em suma, uma das personagens mais vigorosas deste 2012, pela primeira vez por cá. É fácil adivinhar que ninguém ficará indiferente a esta passagem.
Noutras paisagens, não tão distantes quanto possam parecer, o comparsa Physical Therapy tem vindo a dominar discretamente as realidades paralelas da electrónica. Primeiro, através de serões épicos em alguns dos clubes mais fervilhantes em Nova Iorque; depois pela torrente de misturas e remisturas feitas com o coração e alma próprios de quem se fascina e gosta de fascinar. Seja isso aplicado ao r n’ b, à house, ao dubstep ou a qualquer êxito radiofónico de má fama. A extensão é imensa, dependendo mesmo da disposição momentânea. E porque, no fundo, Laurel Halo e Alicia Keys poderão conviver no mesmo set sem anomalias de maior. Em todo o caso, paira desde já a garantia de festividade apaziguadora, propícia a grandes despedidas de Verão. NA