O Barulhamento do Mundo
Para além de apresentar realizações culturais africanas da contemporaneidade, o AFRICA.CONT inclui também nos seus propósitos a reflexão, provocando-a a partir de diferentes campos da criação cultural. Desta vez, e em colaboração com o projeto ARTAFRICA, vão cruzar-se a imagem e a palavra.
Os filmes e instalações cinematográficas que vamos ver na secção MIGRAÇÃO, RACISMO E O PODER DA IMAGEM – REPRESENTAÇÕES CRUZADAS ÁFRICA/EUROPA [na CARPE DIEM e no CLUBE FERROVIÁRIO], bem como o livro de Édouard Glissant de que vamos lançar a primeira edição em português, o filme documentário que co-financiamos e apresentamos em estreia nacional, a performance e os debates que organizamos na secção PARA ALÉM DA TOLERÂNCIA [no INSTITUT FRANÇAIS DU PORTUGAL] pretendem abrir um espaço para uma outra imaginação da humanidade.
No contexto da globalização que vivemos, como escapar ao duplo impasse que representam, por um lado uma pax romana imposta pela força e que uniformiza o mundo, e por outro a anarquia identitária que estimula guerras de nações e de dogmas? « Não teremos o direito e os meios para viver uma outra dimensão de humanidade ? »
MIGRAÇÃO, RACISMO E O PODER DA IMAGEM – REPRESENTAÇÕES CRUZADAS ÁFRICA/EUROPA
MIGRAÇÃO, RACISMO E O PODER DA IMAGEM – REPRESENTAÇÕES CRUZADAS ÁFRICA/EUROPA
Retrospetiva de cinema
CLUBE FERROVIÁRIO | 13, 14 e 15 outubro
MNEMOSYNE
Instalação de John Akomfrah
CARPE DIEM ARTE E PESQUISA | INAUGURAÇÃO 21 outubro, 18h00
22 outubro – 19 novembro
4ª - Sáb., 13h – 19h
FORA DE CAMPO: ARQUIVO DE CINEMA DE MOÇAMBIQUE
Instalação de Catarina Simão
CARPE DIEM ARTE E PESQUISA | INAUGURAÇÃO 26 novembro, 16h00
30 novembro – 28 janeiro 2011
4ª - Sáb., 13h – 19h
PARA ALÉM DA TOLERÂNCIA
INSTITUT FRANÇAIS DU PORTUGAL | 25 outubro | 19h00-23h00
POÉTICA DA RELAÇÃO, de Édouard Glissant
Lançamento do livro. Edição portuguesa pela Sextante/Porto Editora
ÉDOUARD GLISSANT, UM MUNDO EM RELAÇÃO, de Manthia Diawara
Documentário, 2010, 51min [estreia nacional]
A RELAÇÃO PARA ALÉM DA TOLERÂNCIA
Mesa Redonda com Manthia Diawara, Miguel Vale de Almeida, Manuela Ribeiro Sanches e José António Fernandes Dias
CAIXA PRETA, um espectáculo de André e. Teodósio com Diogo Bento
Performance
Mais informações | www.africacont.org
MIGRAÇÃO, RACISMO E O PODER DA IMAGEM – REPRESENTAÇÕES CRUZADAS ÁFRICA/EUROPA
MIGRAÇÃO, RACISMO E O PODER DA IMAGEM – REPRESENTAÇÕES CRUZADAS ÁFRICA/EUROPA
Retrospetiva de cinema
CLUBE FERROVIÁRIO | 13, 14 e 15 outubro
Utilizando múltiplos registos e géneros – o documentário, a ficção, o musical ou o filme-ensaio –, a presente retrospetiva pretende divulgar obras que se destacam tanto pelas suas qualidades cinematográficas, como pela sua capacidade de estimular o debate sobre migração, racismo e o poder da imagem, ou seja: sobre o modo como as imagens – e o seu poder na disseminação de estereótipos – podem também contribuir para o seu questionamento.
A migração e a mobilidade - nomadismos aparentemente universais - têm sido temas correntes em vários campos, do artístico, ao mediático, ao académico, segundo um consenso apressado, a unir, sob uma vaga noção de hibridização ou multiculturalismo, experiências muito distintas que vão do nomadismo cómodo dos privilegiados ao racismo que segrega tanto imigrantes recentes oriundos do continente africano, como europeus de origem africana, também em Portugal.
Inserida no programa O BARULHAMENTO DO MUNDO, a terceira edição da retrospetiva Migração, racismo e o poder da imagem (Lisboa 2009 e Nápoles 2010) pretende oferecer uma oportunidade para refletir sobre estas temáticas no contexto da Europa pós-colonial.
A iniciativa não se cinge, porém, a esta perspectiva europeia, pretendendo-se também abordar representações cruzadas da África/Europa, ou seja, um “mundo em relação” (Édouard Glissant), considerando as histórias entrelaçadas de ambos os continentes, sob distintos pontos de vista.
Justapondo filmes de proveniência diversa, alguns realizados em África, outros na diáspora, pretende-se, assim, assinalar os temas comuns, bem como as distintas formas de os abordar, consoante diferentes experiências, desde as imigrações nas décadas de 1950 e 1960, até às nossas contemporâneas.
Num momento em que a Europa se encontra numa crise de identidade ímpar e o mundo se redefine a vários níveis, assistindo-se a uma condenação simplista do multiculturalismo, ao recrudescer dos mais diversos tipos de nacionalismos e etnocentrismos, bem como a um despertar de reivindicações inesperadas no continente africano, que outros modos mais inovadores e exigentes existem para se pensar os desafios da nossa contemporaneidade, um “mundo em relação”?
CLUBE FERROVIÁRIO | 13, 14 e 15 outubro
13 de outubro
19h00 APRESENTAÇÃO
19h30 Juju Factory, Balufu Bakupa-Kanyinda, 97 min.
21h30 Reflexão/conversas. Cinemas africanos: contextos de realização, circuitos de distribuição. Com Balufu Bakupa-Kanyinda, Lydie Diakhate, Pedro Pimenta
14 de outubro
19h00 Soltanto il mare, Dagmawi Yimer, Giulio Cederna e Fabrizio Barraco, 50 min.
20h00 Reflexão/conversas. Migração/ modernidade. Olhadas a partir da Europa e de África. Com Alessandro Triulzi, Dagmawi Yimer, Manthia Diawara.
22h00 Essaha [La place], Dahmane Ouzid, 113 min.
15 de outubro
16h30 Viagem a Portugal, Sérgio Tréfaut, 75 min.
18h00 Reflexão/conversas. Poéticas e políticas da modernidade: arquivos e experiências da migração. Com John Akomfrah, Manthia Diawara, Sérgio Tréfaut
19h30 The Nine Muses, John Akomfrah, 92 min.
21h00 ENCERRAMENTO - Da Europa à África e de volta: Manthia Diawara, John Akomfrah, Balufu Bakupa-Kanyinda, Sérgio Tréfaut, Livia Apa, Mamadou Ba, Manuela Ribeiro Sanches e José António Fernandes Dias
JUJU FACTORY
13 outubro | 19H30
Ficção, República Democrática do Congo, 2006, 97’
Realização e argumento: Balufu Bakupa-Kanyinda
Kongo Congo vive em Bruxelas no bairro ‘africano’ de Matonge, sobre o qual tem que escrever um livro. À medida que as páginas e os dias vão passando, o escritor e o editor divergem e afrontam-se. O editor quer uma espécie de guia turístico embelezado, suavizado e apimentado com ingredientes étnicos. O escritor inspira-se numa visão que o persegue dia e noite, de almas complexas e atormentadas, com que se cruza a cada esquina. Ao mesmo tempo, Kongo Congo persegue os fios invisíveis que o reconduzem à história do Congo e aos seus fantasmas. Como sobreviver a este caos da história? Com um «jujú». Com a fé em si mesmo. E com o amor de Beatriz.
Balufu Bakupa-Kanyinda nasceu em Kinshasa em 1957, estudou sociologia, história e filosofia em Bruxelas antes de se formar em cinema em França, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Escritor e poeta, é autor de textos de reflexão e análise sobre cinema africano que também lecciona. Em 2006/2007, foi professor convidado da New York University em Accra, Gana.
SOLTANTO IL MARE
14 outubro | 19H00
Documentário, Itália, 2011, 50’
Realização: Dagmawi Yimer, Giulio Cederna e Fabrizio Barraco
Gravado em Lampedusa (Itália) em 2010, quando a ilha deixava de ser notícia e concluído no início de 2011, quando a chegada de novos imigrantes começava a ocupar de novo os cabeçalhos de todos os meios de comunicação, o filme propõe um olhar cruzado sobre duas realidades que, em Lampedusa, raramente dialogam entre si: a realidade de um imigrante, Dagmawi Yimer, desembarcado clandestinamente na ilha em 2006, e a realidade dos próprios habitantes. Soltanto il Mare pretende ser, antes de mais, uma homenagem à ilha de Lampedusa por parte de quem, como Dagmawi, lhe deve a sua vida. Mas propõe, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre o dever moral da ajuda num lugar dividido entre uma crise humanitária internacional, que Lampedusa não pode enfrentar sozinha, uma guerra muito próxima e outros problemas locais, como a sua situação cronicamente periférica.
Dagmawi Yimer chegou a Itália a 30 de Julho de 2006, onde lhe foi conferido o estatuto de refugiado, com base na cláusula de “protecção humanitária”. Em 2007 frequentou o curso de vídeo dirigido por Andrea Segre, cujo resultado é o documentário Il Deserto e il mare (2007). Em 2008 assina, juntamente com Andrea Segre e Riccardo Biadene o filme-documentário Come un uomo sulla terra e, em 2010, o documentário C.a.r.a. Italia.
Fabrizio Barraco trabalha na área do documentário como montador, operador de câmara e realizador. É autor de Memoria dei Sapori (2009), projecto de pesquisa antropológica, e de Alla destra del padre (2008) sobre os pescadores do mar Adriático entre vários outros trabalhos.
Giulio Cederna é autor do projecto de vídeo Different Perspective com Angelo Loy e John Muiruri e de vários documentários, entre os quais, Tv Slum (2003) Sillabario Africano (2005), Millennium News (2009). Criou, em conjunto com Marco Baliani, o projecto teatral Pinocchio Nero e é também autor do livro Le avventure di un ragazzo di strada (Giunti, 2005).
ESSAHA/LA PLACE
14 outubro | 22H00
Ficção, Argélia, 2010, 113’
Realização: Dahmane Ouzid
Numa nova cidade residencial, um problema divide os moradores: que fazer com “A Praça”, um terreno abandonado situado mesmo no centro? Os projectos são os mais diversos: criar um espaço verde, uma mesquita, um centro comercial… Não há consenso. É o impasse. Uma minoria de homens de negócios corruptos inventa manobras para se apropriar do terreno, enquanto a maioria silenciosa se afunda na indiferença. Mas os jovens, para fugir ao quotidiano enfadonho, sonham com uma vida melhor, com o amor, com um visto…
Dahamane Ouzid nasceu em Tizi Ouzou (Argélia) em 1950, formou-se no Instituto Cinematográfico de Moscovo (VGIK). Trabalha depois no Instituto Nacional do Cinema Argelino (Office National du Cinéma Algérien, ONCIC), onde faz as suas primeiras experiências cinematográficas, estreando-se com as curtas-metragens Bon voyage, bonnes vacances (1982), Caricatures (1989), tendo também participado na co-produção senegalesa-argelina Camp de Thiaroye (1987) de Sembène Ousmane. Em 2007, lança-se na comédia musical com Essaha, uma série para a televisão que se transformará na sua primeira longa-metragem.
VIAGEM A PORTUGAL
15 outubro | 16H30
Ficção, Portugal, 2011, 75’
Realização, argumento e produção: Sérgio Tréfaut
Viagem a Portugal é um filme político sobre os procedimentos de controlo de estrangeiros nos aeroportos europeus e sobre o tratamento desumano, aceite como prática comum nos dias de hoje, a que os imigrantes são submetidos. Maria, uma médica ucraniana, aterra no aeroporto de Faro, em Portugal, com um visto de turismo. Entre todos os passageiros do seu avião, Maria é a única a ser detida e interrogada pela polícia de estrangeiros e fronteiras. A situação transforma-se num pesadelo quando a polícia percebe que o homem que espera Maria no aeroporto é senegalês. Imigração ilegal? Tráfico humano? Tudo é possível. Viagem a Portugal é um filme inspirado numa história real.
Sérgio Tréfaut nasceu no Brasil em 1965, filho de pai português e de mãe francesa. Depois de um mestrado em filosofia na Sorbonne (Paris) iniciou a sua vida profissional em Lisboa, onde trabalhou como jornalista e assistente de realização. Torna-se gradualmente produtor e realizador. Os seus documentários foram exibidos em mais de 30 países e receberam diversos prémios internacionais. Os principais títulos são: Outro País (1999), Fleurette (2002), Lisboetas (2005) e A Cidade dos Mortos (2009). Lisboetas foi o primeiro documentário português a estar três meses consecutivos em cartaz. Dirigiu durante vários anos o Doclisboa Festival Internacional de Cinema e foi presidente da Apordoc (Associação Portuguesa de Documentários).
THE NINE MUSES
15 outubro | 19H30
Documentário/Ensaio, Reino Unido, 2010, 92’
Realização: John Akomfrah
Passados vinte e dois anos sobre a Guerra de Tróia, Ulisses ainda não regressou a casa e Telémaco parte em busca do pai. Assim começa a epopeia clássica A Odisseia, ponto de referência narrativa para The Nine Muses, a notável meditação de John Akomfrah sobre o acaso, o destino e a redenção. Constituído por nove capítulos musicais onde material de arquivo é justaposto a imagens originais, o filme narra de forma idiossincrática as histórias das migrações para a Grã-Bretanha depois da segunda guerra mundial. As imagens dialogam com textos de uma vasta gama de autores (James Joyce, John Milton, Friedrich Nietzsche, William Shakespeare, Sófocles, Dylan Thomas, Matsuo Basho, TS Elliot, Li Po, Rabindranath Tagore, entre outros) e com uma densa e extraordinária banda sonora que inclui compositores e intérpretes diversificados (Arvo Pärt, Franz Schubert, Frank Purcell, os Gundecha Brothers, Leontyne Price, entre outros). The Nine Muses será exibido no MOMA (Museum of Modern Art) em Nova Iorque, poucos dias antes da presente retrospectiva.
John Akomfrah nasceu em Accra (Gana) em 1957, sociólogo, é uma das figuras mais influentes da cena cultural negra britânica dos anos 1980. Como artista, conferencista, escritor, crítico e realizador, o seu trabalho é considerado um dos mais distintos e inovadores produzidos na Grã-Bretanha contemporânea. Foi co-fundador em 1982 do Black Audio Film Collective com o objectivo de abordar questões relacionados com a identidade negra britânica e dirigiu um vasto leque de trabalhos aclamados pela crítica – filmes de ficção, instalações cinematográficas, vídeos experimentais, documentários e videoclips de música. O trabalho de Akomfrah constitui um questionamento e uma reflexão sobre o documentarismo, como já se pode verificar na obra polémica com que se estreou, Handsworth Songs (1986), onde explora criticamente as convenções do filme documentário, com sete prémios internacionais, entre os quais o John Grierson Award For Documentary (UK), em 1987.
Entre outros filmes, refiram-se Testament (1988), Seven Songs for Malcom X (1993), Last Angel of History (1995) Oil Spill – The Exxon Valdez Disaster (2009), The Genome Chronicles (2009). Akomfrah foi membro do Arts Council Film Committee e do British Film Institute e atualmente é membro da Film London. Reconhecido como um dos pioneiros do cinema digital no Reino Unido, Akomfrah foi premiado em 2000 com o prestigiado Gold Digital Award do Cheonju International Film Festival (Coreia do Sul) pela “utilização mais impressionante da tecnologia digital”.
THE NINE MUSES, John Akomfrah | http://www.youtube.com/watch?v=xegOksDquyo
RETROSPETIVA DE CINEMA | CLUBE FERROVIÁRIO | 13, 14 e 15 outubro
BIOGRAFIAS PARTICIPANTES – REFLEXÃO/CONVERSAS
Alessandro Triulzi é professor de História da África Subsariana e director do programa de doutoramento em Estudos Africanos na Università degli Studi di Napoli “L’Orientale”. Desenvolveu pesquisa no Gana, na Etiópia e na África do Sul. É coordenador do projecto Confini: i saperi dell’Africa in movimento por conta da Fundação Lettera 27 de Milão. Entre as muitas publicações da sua autoria figuram: Uomini in armi. Costruzioni etniche e violenza politica (com M. Buttino e M.C. Ercolessi, Napoli, 2000); Remapping Ethiopia (con W. James, D. Donham, O.Kurimoto, Oxford, 2002); Dopo la violenza. Costruzioni di memoria nel mondo contemporaneo (Napoli, 2005); Il ritorno della memoria coloniale (dossier Afriche & Orienti 1, 2007) e Come un Uomo sulla Terra (Roma, 2009).
Livia Apa ensina língua e literatura portuguesa na Università degli Studi di Napoli “L’Orientale”, exercendo a sua actividade de investigação entre Itália e Portugal. Foi responsável pelo projecto cultural “Mabooki” em Lisboa. Organizou com Maria Alexandre Dáskalos e Arlindo Barbeitos a antologia Poesia Africana de Expressão Portuguesa, Editorial Lacerda - Academia das Letras Rio de Janeiro, 2004, com Mario Zamponi Il colore rosso della Jacaranda, Aiep, San Marino, 2005 e Angola e Mozambico, scritture della guerra e della memoria, Aracne, Roma, 2006. Em 2010 publicou Abitare la lingua-Riflessioni sulla lingua portoghese in Angola, Thinkthanks, Napoli, 2010. As suas áreas de investigação são os estudos culturais da área lusófona, as literaturas africanas, o cinema africano, e a relação língua - poder nos países africanos de língua oficial portuguesa.
Lydie Diakhaté, nascida em Nice, França, é produtora independente e crítica de arte especializada em artes e culturas de África e da diáspora africana. É também fundadora das K’a Yelema Productions em Paris e co-fundadora e co-directora do The Real Life Documentary Festival em Accra. Entre outras iniciativas, organizou com Manthia Diawara o ciclo African Screens: New Perspectives in African Cinema, uma iniciativa do AFRICA.CONT que decorreu em Lisboa, em 2009, sendo também autora do volume publicado em correlação com o evento, Cinema Africano - Novas Formas Estéticas e Políticas, Lisboa: Sextante 2011.
Mamadou Ba, activista de direitos humanos, nasceu em 1974 no Senegal. Licenciou-se em Língua e Cultura Portuguesa pela Universidade Cheikh Anta Diop de Dakar. Membro da Direcção Nacional do SOS Racismo, é um dos fundadores da Rede Anti-Racista (RAR) e da ENAR – European Network Against Racism – a cujo Conselho de Administração pertence em representação de Portugal. Participou em várias publicações do SOS Racismo sobre a temática do racismo e da imigração.
Manthia Diawara, nascido no Mali, é professor de literatura comparada e cinema, bem como director do Institute of African American Affairs na New York University. É fundador e editor de Black Renaissance/Renaissance Noire, uma revista bilingue que publica ensaio, ficção, recensões e trabalhos de arte relacionados com a África e a diáspora negra. Das suas publicações destaque-se: African Cinema: Politics and Culture (Indiana University Press, 1992), Black American Cinema (Routledge, 1993), In Search of Africa (Harvard University Press, 1998), We Won’t Budge (Basic Books, 2003) e mais recentemente Cinema Africano - Novas Formas Estéticas e Políticas, Lisboa: Sextante 2011, no âmbito do African Screens: New Perspectives in African Cinema que co-organizou com Lydie Diakhaté. Diawara é ainda realizador de vários documentários: Rouch in Reverse (1995), Diaspora Conversations (1999), Bamako Sigi Kan (2001), Conakry Kas (2004), Who’s Afraid of Ngugi? (2007) e Maison Tropicale (2008), resultado da sua colaboração com Ângela Ferreira no contexto da Bienal de Veneza de 2007.
Manuela Ribeiro Sanches é professora auxiliar com agregação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Coordena no Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa o projecto Dislocating Europe. Post-Colonial Perspectives in Literary, Anthropological and Historical Studies que inclui o site ArtAfrica. Publicações recentes: Malhas que os impérios tecem. Textos anti-coloniais, contextos pós-coloniais. Lisboa: Edições 70, 2011; Europe in Black and White. Immigration, Race, and Identity in the ‘Old Continent’. Bristol: Intellect Books, 2011; “Portugal não é um país pequeno”. Contar o império na pós-colonialidade. Lisboa: Cotovia, 2006; Deslocalizar a “Europa”. Antropologia, arte, literatura e história na pós-colonialidade. Lisboa: Cotovia 2005.
Pedro Pimenta iniciou a sua carreira no Instituto Nacional de Cinema de Moçambique em 1977, tendo produzido, sozinho ou em colaboração, inúmeros documentários, curtas e longas-metragens, no seu país e noutros países africanos. Foi produtor da primeira longa-metragem da autoria de um realizador negro, Ramadan Suleman: Fools (1997).
Pedro Pimenta é o fundador e director do DOCKANEMA, festival de cinema documentário de Moçambique, cuja 6ª edição se realizou este ano, em Setembro, em Maputo.
José António Fernandes Dias é antropólogo, curador de exposições e programador cultural. Professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa na variante de Performance / Instalação do Curso de Arte Multimédia. Docente com regência das disciplinas de Cultura Material dos cursos de Design de Comunicação e de Design de Equipamento. Coordenador do Mestrado em Estudos Curatoriais da FBA-UL e da Fundação Calouste Gulbenkian. Autor de numerosos textos publicados em livros, revistas e catálogos, em Portugal e no estrangeiro, sobre antropologia e teoria da arte, museologia e curadoria de arte contemporânea, e estudos pós-coloniais. E autor e responsável do projecto Africa.Cont da Câmara Municipal de Lisboa.
MNEMOSYNE
Instalação de John Akomfrah
CARPE DIEM ARTE E PESQUISA | INAUGURAÇÃO 21 outubro, 18h00
22 outubro – 19 novembro
4ª - Sáb., 13h – 19h
Duração: 45 min | visionamentos de hora a hora
MNEMOSYNE é uma instalação que decorre do filme “The Nine Muses” (em exibição dia 15 de Outubro, no Clube Ferroviário).
“Eu tenho uma obsessão com filmes de arquivo: traços fantasmagóricos de momentos vividos que ocupam esse espaço único entre a história e o mito. Mas começo sempre pelas perguntas.”
E as perguntas para MNEMOSYNE foram as seguintes:
Como cumprir o que o historiador Carlo Ginzburg chamou de “a nossa obrigação para com os mortos”, sem sacrificar a nossa dívida igualmente premente para com os vivos?
E como fazer “ficções históricas” sobre pessoas cujas vidas foram profundamente marcadas pelo que o poeta Derek Walcott chamou de “ausência de ruínas”? Aqueles monumentos que dizem “eles também já viveram aqui”.
“MNEMOSYNE é a minha tentativa proustiana para sugerir o que algumas dessas «ruínas» podem representar para a Europa multicultural” John Akomfrah
Estruturado como uma fábula alegórica e vagamente inspirado pela ficção científica existencial, MNEMOSYNE é uma releitura idiossincrática, invulgar e estilizada da história da migração em massa para a Grã-Bretanha no pós guerra. O trabalho de John Akomfrah questiona a memória e sugere a possibilidade de infinitas reinterpretações dos acontecimentos históricos através do cruzamento de imagens de arquivo dos EUA e da Grã-Bretanha, com “retratos” contemporâneos de Inglaterra.
MNEMOSYNE| http://vimeo.com/25789744
FORA DE CAMPO: ARQUIVO DE CINEMA DE MOÇAMBIQUE
Instalação de Catarina Simão
CARPE DIEM ARTE E PESQUISA | INAUGURAÇÃO 26 novembro, 16h00
30 novembro – 28 janeiro 2011
4ª - Sáb., 13h – 19h
“A história do cinema em Moçambique revela uma total consciência do poder das imagens. (…) o Governo Moçambicano funda um Instituto de Cinema em 1975, após a Independência, e atrai a Moçambique realizadores e técnicos de vários países e os três maiores representantes das vanguardas cinematográficas, do Cinema Novo ao Cinéma-Vérité passando pela Nouvelle Vague: Ruy Guerra, Jean Rouch e Jean-Luc Godard.”
Desde o início dos anos 60 que o cinema Moçambicano foi utilizado simultaneamente como testemunho e participante da história da sua Independência. Um país desintegrado pelo colonialismo português procurou no Kuxa Kanema – “o nascimento do cinema” – o modelo de produção de cinema nacional que iria criar a nova imagem da Nação. Assim, uma grande parte dos filmes do Arquivo de Cinema de Moçambique contém imagens determinadas por esta estratégia oficial: consolidam medidas sociais e económicas, denunciam ameaças imperialistas e conflitos armados, ao mesmo tempo que encenam uma ideologia unificadora. Não é portanto paradoxal verificar como um cinema que descreve ao mesmo nível que opera é capaz também de prever a sua organização como arquivo de poder e a sua inscrição na história global das imagens. Como abordar a evidência operativa deste arquivo?
FORA DE CAMPO (Offscreen project) é uma exploração, não metafórica, da modelação política destas imagens e procura a cumplicidade daqueles que se dispõem a ver o Arquivo como agente activo na sua própria construção. O Politico é encontrado a cada nova apresentação do evento mediante o convite individual para contribuir no que é proposto: reconhecer nos registos o seu potencial de produção de um novo registo. Trata-se de uma montagem exaustiva, mas também inventiva das possibilidades do real para se manifestar sob topologias distintas e opostas, ainda que num mesmo quadro de composição: seja ele politico-histórico, herança colonial, reutilização ideológica, distância tecnológica ou seja uma proposta estética-arqueológica.
http://www.atelier-real.org/CatarinaSimoFORADECAMPO.htm
FORA DE CAMPO | http://vimeo.com/16781025
PARA ALÉM DA TOLERÂNCIA
INSTITUT FRANÇAIS DU PORTUGAL | 25 outubro | 19h00-23h00
“No panorama atual do mundo, a questão capital é saber-se como ser um eu mesmo sem sufocar o outro, e como abrir-se ao outro sem asfixiar o eu mesmo.”
(E. Glissant, Introduction à une Poétique du Divers, 1996)
Prosseguindo com o projeto editorial que integra o programa do AFRICA.CONT, publica-se agora o livro Poética da Relação de Édouard Glissant, inaugurando assim a nossa primeira incursão nos domínios da ensaística e das ciências sociais e humanas. O lançamento é acompanhado da estreia nacional de um filme documentário de Manthia Diawara - “Édouard Glissant, Um Mundo em Relação”, que co-financiamos; de um debate e de uma performance que o tomaram como ponto de partida.
Pretendemos assim chamar a atenção para uma obra e um autor muito pouco conhecidos entre nós, mas que têm um lugar cimeiro nos debates recentes, e nunca tão politicamente atuais, sobre o estudo crítico dos processos coloniais, dos seus efeitos e legados culturais nas sociedades e culturas colonizadas e colonizadoras, e sobre a interpenetrabilidade cultural que caracteriza o nosso mundo globalizado.
Ao procurarmos situá-lo, não podemos deixar de notar como as diferentes filiações nesse campo de estudos coincidem amplamente com as zonas de influência dos antigos, e resilientes, impérios coloniais – os mundos anglófono, francófono, hispanófono, e lusófono. Apesar das suas proximidades, surgiram com diferentes designações: “estudos pós-coloniais” dominantes, “crioulidade e crioulização”, “modernidade/colonialidade”, “mestiçagem”, e outras. Em qualquer dos casos se questionam se os respectivos pressupostos e desenvolvimentos têm um valor geral, ou se ficam circunscritos a particularismos históricos; com defensores de um ou outro ponto de vista. Mas curiosamente, os diálogos entre as diferentes correntes são inexistentes ou quase; e se os anglófonos partem exclusivamente das experiências coloniais e pós-coloniais anglo-saxónicas, o mesmo pode ser observado nos restantes casos; na América hispânica e no Brasil os estudos das relações interculturais coincidem com os processos de construção e definição das respectivas identidades nacionais; os espaços da francofonia (negritude, crioulidade, etc), ao contrário dos outros casos, mantêm o seu centro de gravidade em França; e entre nós, vive-se privilegiadamente na paróquia lusófona.
No lugar das indiferenças mútuas, às vezes só relativamente indiferentes, parece-nos que seguir as pisadas de Glissant pode levar-nos por um caminho mais interessante e fecundo. Se abordarmos o conjunto destas correntes como um arquipélago, seguindo o modelo de pensamento arquipelágico que propõe, será certamente possível reconhecer e proporcionar ligações litorais e de horizontes, sem que cada uma das ilhas abandone as suas especificidades, e idiossincrasias. Parafraseando Édouard Glissant, uma forma de pensamento mais intuitivo, mais frágil, exposto mas também disposto ao caos do mundo e aos seus imprevistos e desenvolvimentos.
Este livro abre a passagem para um arquipélago interpretativo cujos mares o Africa.Cont pretende continuar a navegar.
PARA ALÉM DA TOLERÂNCIA
INSTITUT FRANÇAIS DU PORTUGAL | 25 outubro | 19h00-23h00
19h00 POÉTICA DA RELAÇÃO, de Édouard Glissant
Lançamento do livro. Edição portuguesa pela Sextante/Porto Editora
Projecto co-financiado pelo AFRICA.CONT/CML
ÉDOUARD GLISSANT, UM MUNDO EM RELAÇÃO, de Manthia Diawara
Documentário, 2010, 51min | [estreia nacional]
Projecto co-financiado pelo AFRICA.CONT/CML
Manthia Diawara acompanhou Édouard Glissant no Queen Mary II, para uma travessia do Atlântico entre South Hampton (Reino Unido) e Brooklyn (Nova Iorque), uma rota que tantos escravos atravessaram. Uma viagem também pelo pensamento de Édouard Glissant, dividida em temáticas diferentes, que traz uma nova luz ao seu trabalho.
Poeta, filósofo e romancista Édouard Glissant (1928-2011), francês nascido na Martinica, é um dos principais pensadores contemporâneos no universo da crioulização, da diversidade e da identidade cultural. Desenvolve as teorias da Poética da Relação e de Todo-Mundo (Tout-Monde), nas quais o conceito de “relação” vem desconstruir a ideia de identidades fixas e unitárias, na defesa de uma nova dimensão da identidade na relação, um processo aberto interdependente, um sistema relacional que produz novas identidades, que acredita e valoriza a diferença e o direito à opacidade, sua e dos outros, reverso da mundialização uniformizante, um encontro onde despertamos o imaginário do mundo no outro.
Édouard Glissant é uma daquelas vozes excecionais que iluminam ou perturbam o trabalho e o pensamento daqueles que o cruzam pelo livro ou pela poesia. Nesta biografia intelectual, Manthia Diawara traça o perfil de Édouard Glissant e do seu conceito de Todo-Mundo. Uma voz que irá marcar o século XXI.
TRAILER | http://www.youtube.com/watch?v=hBfSKmo0mPQ
Realização Manthia Diawara | Câmara Karim Akadiri Soumaila | Som Didier Brudell, Karim Akadiri Soumaila | Montagem Laurence Attali | Assistentes Daman Diawara, Edgardo Parades | Assistente de Produção na Martinica Danielle Nollet | Música Jacques Coursil | Tradução Christopher Winks
A RELAÇÃO PARA ALÉM DA TOLERÂNCIA
Mesa Redonda com Manthia Diawara, Miguel Vale de Almeida,
Manuela Ribeiro Sanches e José António Fernandes Dias
22h00 CAIXA PRETA, um espectáculo de André e. Teodósio com Diogo Bento
Performance
“Tem o tempo a sua ordem já sabida; O mundo, não.” Camões
É com frequência que quem se dedica à aventura acabe por ir de encontro ao pior da experimentação.
Que afinal de contas o tempo dispendido em construção poderia ser inversamente calculado como anos andados à deriva.
Foi o que aconteceu a este ‘descobri dor’ que deu à costa na pior das manifestações do homem: uma caixa preta só comparável ao mercado dos escravos de Lagos.
A convite do AFRICA.CONT, eis a minha homenagem a Édouard Glissant.
Porque a caixa preta é também a caixa negra onde se visualizam os acidentes do percurso da humanização.
Um espectáculo de André e. Teodósio | Interpretação Diogo Bento | Produção Cristina Correia | Co-Produção AFRICA.CONT/CML e Teatro Praga