Festival Passa a Palavra | Convite

As poetas Virgínia Dias e Raquel Lima serão as protagonistas de uma das seis conversas sobre os Ofícios da Palavra programadas no festival Passa a Palavra, que decorrerá em Oeiras, entre 15 e 18 de Outubro.

Afastadas por meio século e outras quantas circunstâncias, as duas mulheres levantam voo e fundam raízes numa poesia oral, ou escrita para ser dita, para contar, cantar, pensar, transformar.
A conversa, terá lugar no dia 18, domingo, às 15h, na Livraria-Galeria Verney, seguir-se-á, no mesmo local, às 17h, o lançamento de Como um pedaço de terra virgem de Virgínia Dias, com a participação Ana Sofia Paiva, Cristina Taquelim, Domingos Morais, Manuel da Silva Ramos, Marta Ramos e Nuno Pacheco.

Com excepção dos “Jantares Narrados”, a participação em todas as actividades é gratuita, mediante inscrição através do email: insc.passapalavra@gmail.com. Lugares limitados.
Muito gostaremos de vos ver por lá!

Virgínia e RaquelVirgínia e Raquel

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Virgínia Dias (Peroguarda, 1935)
Começou a fazer poemas antes de saber escrever. Inspirava-se nos poetas populares, nos contos da avó, nas peças de teatro que via ao seu colo e que imitava às escondidas no dia seguinte. Inspirou-se sobretudo na injustiça, o grande mote da sua poesia. Na violência da professora da primária, a quem dedicou as primeiras quadras escritas na lousa da escola, na fome e no frio das crianças, no inferno da ceifa e do suão, na humilhação do manajeiro, no salário de miséria, na escola interrompida aos 11 anos para trabalhar no campo, esse campo que é ao mesmo tempo a sua prisão e a sua paixão.
Aos 40 anos o marido descobriu-lhe poemas guardados em gavetas. Tinha vergonha de ser poeta sem métrica. Ocasionalmente, participou em concursos nos quais arrebatou prémios e menções honrosas. Pierre-Marie Goulet filmou-a cantando e dizendo poemas seus na triologia iniciada com o filme Polifonias. A sua poesia, essencialmente oral, foi sendo publicada e recolhida, primeiro por Paulo Lima, depois por Marta Ramos. Passados mais 40 anos, está finalmente reunida nesta antologia quase completa, à qual se junta um CD de poemas ditos entre canções e histórias da vida, com vista sobre a planície e todo o universo que dali se vislumbra.
Reportagem RTP do lançamento em Peroguarda, por Ana Luísa Rodrigueshttps://www.rtp.pt/noticias/cultura/virginia-dias-camponesa-e-poetisa-alentejana_v1192196

Raquel Lima (Lisboa, 1983)Lisboeta das duas margens do Tejo e do Atlântico, de mãe angolana, pai santomense, avó paterna senegalesa e trisavó materna brasileira. Poeta, performer e arte-educadora, Raquel Lima fixa em Ingenuidade Inocência Ignorância (BOCA e Animal Sentimental, 2019) parte de um percurso de dez anos de poesia essencialmente oral, movimento que a levou a mais de uma dezena de países na Europa, América do Sul e África. Durante esse período, apresentou o seu trabalho em eventos de literatura, narração oral, poetry slam, spokenword, performance e música. A transdisciplinaridade com que aborda arte, memória e sociedade, atenta às desigualdades sociais e aliada a uma vontade de encontrar e compreender as suas raízes, levou-a a regressar à academia, onde desenvolve a sua investigação focada em oratura e escravatura em São Tomé e Príncipe no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Alguns artigos e entrevistas: Público, por Carla Fernandeshttps://www.publico.pt/2020/05/18/culturaipsilon/noticia/ingenuidade-inocencia-ignorancia-palma-mao-1916161 TSF, por Nuno Domingueshttps://www.tsf.pt/portugal/cultura/um-livro-de-poesia-escrita-para-ser-ouvida-11640339.html Antena 2, por Luís Caetanohttps://www.rtp.pt/play/p1299/e442966/a-ronda-da-noite

Lançamento: Como um pedaço de terra virgem

Obra de uma vida, esta antologia quase completa é simultaneamente a estreia editorial de Virgínia Dias, aos 84 anos, depois de meia-dúzia de poemas publicados em revistas e edições colectivas. O áudio de 64 minutos que a acompanha junta gravações realizadas em 2018 com outras gentilmente cedidas por Pierre-Marie Goulet da triologia que iniciou em 1997 com o filme Encontros. O registo em forma de conversa testemunha o modo especial como a autora encadeia poemas, canções e as estórias que lhes estão na origem. A edição conta com prefácio de José Mário Branco e fotografias de António Cunha e Luís Ferreira Alves.

Apoio: Direção Regional de Cultura do Alentejo

Não esperem ver rosas na minha poesia
Não esperem ver rosas na minha poesia.
Não tenho rosas. Na terra do canteiro que
a vida me destina só se criam papoilas.
Nem esperem vê‐la em trajes de cetim,
é riscado e chita o que tenho à mão.
Nem vê‐la a passear nas ruas da cidade,
em citações filosóficas de sábios doutores. Nem de nome os conheço.
Nunca subi à cidade nem a cidade desceu à minha
aldeia. Conheço sim o mendigo, o maltês,
figuras trágicas de desespero e sofrimento, sempre envoltas numa resignação que doía, doía.
Conheço os varejadores, as azeitoneiras,
os almocreves, o semeador, o ceifeiro, a mondadeira,
gente de cujo gesto mágico brota o pão.
Virgínia Dias

12.10.2020 | par martalanca | Como um pedaço de terra virgem, convite, Livraria-Galeria Verney, Passa a Palavra

"Os Pretos do Sado" - Isabel Castro Henriques | Convite

Sessão de apresentação da obra: 15 Out. 2020 às 18h

Apresentação: Doutor Jorge Fonseca

Este estudo pretende dar a conhecer a história de homens e de mulheres oriundos do continente africano, trazidos como escravos e que foram instalados durante séculos no território do Vale do Sado, provavelmente a partir de finais do século XV. Mas o espaço temporal deste trabalho estende-se através dos séculos seguintes, procurando nas dinâmicas económicas, sociais e políticas da história de Portugal, os elementos que permitem compreender a sua presença ligada a culturas extensivas como a do arroz a partir do século XVIII e a sua consolidação como comunidade estabelecida, afirmando uma identidade alentejana e portuguesa, que exclui hoje quaisquer marcas culturais significativas de um passado africano. 

Autora: Isabel Castro Henriques nasceu em Lisboa em 1946, tendo-se licenciado em História em 1974, na Universidade de Paris I – Panthéon-Sorbonne. Em 1993, doutorou-se em História de África na mesma universidade francesa, com uma tese consagrada ao estudo da Angola oitocentista, numa perspectiva de longa duração. Professora Associada com Agregação do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, introduziu os estudos de História de África em 1974, orientou teses de mestrado e doutoramento e ensinou durante quase 40 anos História de África, História do Colonialismo e História das Relações Afro-Portuguesas, desenvolvendo hoje a sua investigação histórica sobre África e sobre os Africanos no CEsA/ISEG-Universidade de Lisboa. Além de trabalhos científicos de natureza diversa, como projectos de investigação, programas museológicos, exposições, documentos fílmicos, colóquios e congressos, seminários, conferências, publicou dezenas de artigos e livros centrados nas temáticas históricas africanas.

Para mais informações consulte: http://www.edi-colibri.pt/Detalhes.aspx?ItemID=2481

08.10.2020 | par martalanca | convite, ISABEL CASTRO HENRIQUES, Jorge Fonseca, lançamento livro, Os pretos do sado

UMA VOZ Gustavo Ciríaco com Isabél Zuaa e Domenico Lancellotti

Brotéria
30 de setembro, 21:30

Entrada gratuita mediante reserva até dia 29 de setembro através do e-mail atelier@efabula.pt.
O uso de máscara é obrigatório e estarão garantidas todas as normas de distanciamento social e higienização do espaço.
Lotação: 25 pessoas.

A acústica é um ramo da Física que estuda o som, um fenómeno em ondas causado pelos mais diversos objetos, cuja propagação dá-se através dos diferentes estados físicos da matéria. Sendo emitido a partir de uma fonte sonora qualquer, o som encontra em seguida à sua emissão uma série de anteparos que lhe causam difração, reflexão ou absorção. É este encontro da materialidade sonora com as demais materialidades físicas que a acústica aborda. Cada ambiente arquitetónico conta com um conjunto diversificado de possibilidades de interação do som com a matéria. Assim como um morcego utiliza a sua sonda para adivinhar a natureza do ambiente por onde circula, a acústica revela um ambiente, sua natureza, seus espaços.

UMA VOZ toma o edifício da Brotéria como um imenso instrumento a ser tocado pela voz de uma mulher, usando a sua acústica como base de exploração sonora. Ao público, é designado um caminho a seguir em diálogo com essa voz que ora revela, ora esconde o espaço na sua articulação com o silêncio e com a nudez da arquitetura deste centro cultural. O projeto reúne o coreógrafo brasileiro Gustavo Ciríaco, a performer e cantora portuguesa Isabél Zuaa, parceiros de longa data, com o músico e compositor brasileiro Domenico Lancellotti. UMA VOZ é uma performance-concerto assombrada pelo afeto daqueles que partiram de modo trágico pela sua cor de pele, pelo seu género, pela sua identidade sexual, pela sua condição social, pelo seu posicionamento político, removendo-os das suas histórias e a nós dos seus mundos. A partir de composições originais e adaptadas, UMA VOZ investe no encontro do canto de Isabél Zuaa com a arquitetura para levar o público num passeio pelo cheios e vazios de uma nau.

Gustavo Ciríaco (Rio de Janeiro) é um coreógrafo e artista contextual baseado entre Lisboa e Rio. Com formação em Ciências Políticas, Ciríaco tem desenvolvido um conjunto multiforme de obras que põe o coreográfico a dialogar com os circuitos da experiência urbana,  as condições de visibilidade dos museus e  a ficção da experiência. Nas suas obras,  a dança, storytelling, a palavra cantada, o teatro e as artes visuais, convivem em  projetos expositivos e site-specific onde arquitetura, paisagem e ficção se encontram em performances marcadas pela partilha da experiência sensível. As suas obras foram apresentadas em importantes festivais, galerias e instituições nacionais e internacionais como Crossing the Line/N.Iorque; Casa Escendida/Madrid; Museu de Serralves/Porto; Mercat de Flors/Barcelona; Alkantara, Culturgest, TNDM II, ZDB, Museu Berardo/Lisboa; Ferme de Buisson, Paris Quartier d’Été/Paris; Tanz im August/Berlim; Al-Mammal Foundation/Jerusalém; Prague Theatre Festival/Praga; Vooruit/Ghent; Tokyo Wonder Site/Tóquio; Digital Art Center/Taipei; CENEART/Cidade do México; Panorama, Tempo Festival, CCBB/Rio de Janeiro; Arqueologías del Futuro/Buenos Aires; Bienal SESC de Dança, Itaú Cultural/São Paulo; Salón 44/Pereira; Walk & Talk/Ponta Delgada; London Festival, BAC, Laban Centre, Chelsea Theatre/Londres; NottDance/Nottingham; Arnolfini /Bristol; Metropolis /Copenhague; NAVE/Santiago; FIDCU/Montevidéu; FADJR /Teerão; Danzalborde /Valparaíso; San Art Gallery/Ho Chi Min, Bellas Artes Projects/Manila, entre outros. Destaca-se entre  as suas obras a caminhada Aqui enquanto caminhamos /2006, Still – sob o estado das coisas/2007, Onde o horizonte se move/2012, Sala de Maravilhas/2012, Gentileza de um Gigante/2016. Em 2020, Ciríaco inicia a sua nova criação Cobertos pelo Céu, uma coleção de instalações interativas em torno de experiências de paisagens vividas por artistas de uma poética espacial autoral.

Direção e criação: Gustavo Ciríaco
Voz e interpretação: Isabél Zuaa
Direção musical e interpretação: Domenico Lancellotti
Canções: António Pedro Lopes, Eden Ahbez, Gustavo Ciríaco e Nathan Marques/Crispin
Consultoria de luz: Santiago Tricot

14.09.2020 | par martalanca | Gustavo Ciríaco, Isabél Zuaa

3rd Text Africazc CHAMADA DE ARTIGOS

Contemporary perspectives on visual arts and culture

Edição especial: Africa/Brasil

Data limite para submissões: 15 de dezembro de 2020 

Data de publicação: julho de 2021

3rd Text Africa (originalmente Third Text Africa) convida para o envio de artigos sobre o tema “Africa/Brasil”, a serem publicados em julho de 2021.


Nós estamos particularmente interessados em estudos de caso e estudos comparativos que abordem os seguintes tópicos:

  • Reflexões artísticas sobre o tráfico negreiro, a escravidão e seus efeitos;
  • Relações entre artistas e outros agentes dos campos artísticos da África e do Brasil no contexto da emancipação política das nações africanas, durante e após a Guerra Fria;
  • Trocas entre artistas e outros agentes em relação a instituições como museus e escolas ou a eventos como festivais de arte e bienais;
  • Outros diálogos entre África e Brasil no contexto do atual processo de globalização.

Diretrizes para submissões

  • Os textos podem ter o formato de ensaios, entrevistas ou resenhas. Ensaios visuais também são benvindos.
  • Os textos não podem ultrapassar 7.000 palavras, incluindo as notas.
  • Textos em português e inglês são benvindos.
  • Os autores devem seguir as regras de estilo de ASAI (disponível mediante solicitação)

Os responsáveis por esta edição são Roberto Conduru (Southern Methodist University, Dallas), Mario Pissarra (ASAI) e Awam Amkpa (New York University).

Sobre 3rd Text Africa (originalmente Third Text Africa3rd Text Africa é uma revista online, com acesso livre, revisada por pares e publicada pela Africa South Art Initiative.

  • 3rd Text Africa tem um particular interesse em promover a reflexão a partir da África e do Sul global, mas considera todas as submissões, desde que ofereçam novas perspectivas e sejam relevantes para o tema da edição.
  • 3rd Text Africa procura ser accessível a uma audiência mais ampla que a tradicionalmente alcançada por revistas acadêmicas e recebe contribuições não apenas de acadêmicos, mas também de curadores, artistas, críticos, educadores e outras pessoas atuantes nas artes.
  • 3rd Text Africa tem publicado edições temáticas desde 2009. Fundada por Rasheed Araeen como um veículo para ampliar o escopo da revista Third Text, 3rd Text Africa tem sempre operado independentemente da revista matriz.

Para mais informações: https://asai.co.za/third-text-africa/

Para esclarecimentos sobre esta edição:

Prof Roberto Conduru rconduru@mail.smu.edu

Dr Mario Pissarra mario@asai.co.za

Prof Awam Amkpa awam.amkpa@nyu.edu

Para submissões para esta edição: admin@asai.co.za

04.09.2020 | par martalanca | Africa, Third Text

BUALA no Público

Este é o ano das comemorações de 10 anos de BUALA. Saímos no Público a 25/5, data específica de lançamento (dia de África). 

“Faz esta segunda-feira dez anos. Foi a 25 de Maio de 2010, para assinalar o dia de África, que foi lançada a plataforma e portal Buala (www.buala.org), com uma abordagem transdisciplinar, onde as esferas político-sociais e as artísticas se tocam, numa lógica onde tanto se sistematizam actividades culturais em sociedades contemporâneas, em particular os contextos pós-coloniais, como se lança um olhar reflexivo sobre as mesmas.

Tudo começou quando a investigadora portuguesa Marta Lança, a timoneira e editora do projecto, em diversas viagens a lugares como Luanda, Maputo ou São Tomé, era confrontada com a dificuldade, sobretudo dos jovens, no acesso à informação e conhecimento produzido sobre os seus próprios contextos. Por outro lado, em Portugal, sentia que alguns aspectos da criatividade daqueles territórios não eram conhecidos. Mas não só. Também as práticas e o pensamento africano ou afrodescendente no território português não detinha visibilidade, ou a imagem oferecida era distorcida. É a partir dessa triangulação que a Buala nasce.   

Hoje, diz ela, “apesar da ainda manifesta dificuldade na análise do passado colonial português, tem-se vasculhado nos arquivos e nas memórias e produzido conhecimento sobre o colonialismo, a ditadura, a guerra e a resistência, tanto nas ciências sociais como nas artes.” A Buala tem contribuído para isso. Na actualidade se os cenários do pós-colonialismo se tornaram num objecto recorrente nas práticas artísticas ou nas humanidades, isso também se deve ao portal. “Quando imaginei um espaço como este foi também para complexificar o conhecimento sobre realidades enquadradas numa história comum mal contada – a construção do ‘espaço lusófono’ – para emancipar estas relações para lá de notas folclóricas, saberes académicos ou evasivos discursos políticos que não equacionam reparações ou pedidos de desculpa.”

FotoA Buala, diz Marta Lança, é uma “ferramenta de reflexão, construída a várias vozes, que obedece a uma ‘curadoria aberta’, com metodologia de trabalho informal e persistente.”Foi a partir das suas diversas vivências, operando com autores firmados e emergentes, cruzando discursos, tempos e lugares, que Marta Lança se foi questionando sobre a “falta de universalidade da produção teórica e artística.” Foi aí que resolveu criar digitalmente a Buala. “Tivemos um apoio inicial da Casa das Áfricas e da Gulbenkian”, recorda. “E depois 8 anos sem apoios, até termos tido um pontual da DGartes e um apoio em 2019-20 da Câmara de Lisboa”, que não sabe se irá ter continuidade no futuro imediato. Apesar da sua orientação, assume que a Buala é uma “ferramenta de reflexão, construída a várias vozes, que obedece a uma ‘curadoria aberta’, com metodologia de trabalho informal e persistente.”

Na sua visão só é possível uma abordagem pós-colonial que seja “polifónica”, colocando em realce “enfoques históricos, geográficos, políticos e culturais.” Sendo assim, tenta definir, a Buala é esse “lugar de encontro, gerador de visibilidade e de fricções, incentivando discursos que abarcam realidades e urgências diversas.” Artigos sobre as violências e acontecimentos dos impérios coloniais, as culturas transnacionais ou textos a partir de exposições, filmes, teatro ou conferências são comuns. Por ali passa, com assiduidade, o debate sobre a descolonização dos museus, o activismo da cultura visual e a restituição do património africano, ou as questões indígenas, negras, queer e lutas interseccionais.

Numa frase, existe essa ambição de sistematizar e atribuir sentido a conhecimento que é interpelador, contribuindo para outras formas de pensar o mundo. Nesta segunda-feira, reflectindo esse posicionamento transdisciplinar, lá encontramos inúmeros depoimentos de gente tão diferente como Marta Mestre (curadora), Miguel Vale de Almeida (antropólogo), Elísio Macamo (investigador), Iolanda Évora (psicóloga social), Djaimilia Pereira de Almeida (escritora), Ery Cláver (cineasta angolano), Monica Musoni (artista),  Kiluanji Kia Henda (artista), Filipa César (artista), António Pinto Ribeiro (investigador) ou Luaty Beirão (músico).”

tp.ocilbup@onaicnalebv

04.09.2020 | par martalanca | 10 anos, buala, dia de áfrica, portal

FANTASMAS DO IMPÉRIO, de Ariel de Bigault, estreia no Indie

Sessão no Indie: dia 28/8 I 19h na Cinemateca Portuguesa. 

Fantasmas do Império explora o imaginário colonial no cinema português desde o início do  século XX. 100 anos de cinema… Aos documentários e ficções que sustentam o enredo imperialista, contrapõem-se filmes e olhares contemporâneos. 

Sete cineastas portugueses – Fernando Matos Silva, João Botelho, Margarida Cardoso, Hugo Vieira da Silva, Ivo M. Ferreira, Manuel Faria de Almeida, Joaquim Lopes Barbosa - abrem os cofres da memória cinematográfica colonial, dialogando com dois actores, Ângelo Torres, são-tomense, e Orlando Sérgio, angolano. Perscrutam o passado, real, reinventado ou recalcado que ainda hoje assombra as memórias: os mitos das descobertas, a ficção imperial, a fábrica da epopeia colonial, as máscaras da violenta dominação. José Manuel Costa, director da Cinemateca, e Maria do Carmo Piçarra, pesquisadora, trazem perspectivas na história da produção cinematográfica. 

Juntando fragmentos cinematográficos heterogéneos e pontos de vista diversos, Fantasmas do Império foca as variações de olhares, especialmente sobre “o outro”, o “colonizado” de outrora, porém perene concidadão e conterrâneo da nossa comum humanidade. Jogando com ecos, contrapontos, contrastes entre situações, imagens, diálogos, músicas, o filme propõe um enredo de imaginários e atitudes, de memórias e emoções. 

Fica a interrogação sobre a persistência dos fantasmas no presente e no futuro cinematográfico…

Documentário 2020. 112 min, Cores e P&B. HD. 16:9. 5.1

Produção Ar de Fimes (Portugal) e Kidam (França)

23.08.2020 | par martalanca | Ariel de Bigault, cinema, Fantasmas do Império

Antes de mais e depois de tudo, poemas de Regina Guimarães

O DO AMOR 

Espaço sem portas, sem estradas, o do amor.

O primeiro desejo dos amantes é serem velhos amantes.

E começarem assim o amor pelo fim.

 

O LIVRO DOS MORTOS

Entra sim mas não repares

no estado em que a casa está.

Não repares no que vês por mim

já não vale a pena

o estado, a casa é pequena,

e os olhos sempre cruéis.

Se entrares fica então sabendo

que o corpo só de si fala

se de pés e mãos atadas

e se paisagem correndo

tapar todas as entradas.

Não passes além da porta

e escolhe um ponto de vista

que te dê razão de sobra

para não seguires em frente

- quem irá adivinhar que não mandas, obedeces,

que escutas e não te ouvem?

Não entres, nem que quisesses

não poderias galgar o estorvo

que significa chegar

sem ser convidado.

Existe um pacto do corpo

com o espaço e com o tempo

no primeiro o corpo pára

no segundo julga andar.

Em vez de quereres entrar

onde nem porta nem fecho

repara no que há lá dentro

e não esqueças que a nudez

vestida como castigo

e usada no pensamento

por desgosto delirante

viria a ser castigada.

Ou seja: se não entrares

darás a subentender

que só de livre vontade

que só por vontade tua

ficas no olho da rua.

Quem sai da mira dos deuses

passa a ser presa dos homens.

Ou alvo em movimento.

Do livro Antes de mais e depois de tudo, a primeira antologia de poemas escolhidos de Regina Guimarães. Um livro breve e pensado para oferecer, tanto quanto possível, uma visão panorâmica da extensa e singularíssima obra poética da autora. A apresentação é no domingo, 30 de Agosto, às 16h00, no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no âmbito do programa oficial da Feira do Livro do Porto. Com a presença de Regina Guimarães e Ana Deus, para uma conversa com os leitores e leitura de alguns poemas do livro.
Evento no facebook.

23.08.2020 | par martalanca | poesia, Regina Guimarães

Foco Africano – INDIELISBOA 2020: PROGRAMA

25 Agosto a 5 de Setembro 

Competição Internacional

27, Quinta | 21h30 | Capitólio | Cinema ao Ar Livre

29, Sábado | 21h30 | Culturgest 

Baamum Nafi | Nafi’s Father 

Mamadou Dia

Senegal, fic., 2019, 109’

A primeira longa de Mamadou Dia chega-nos duplamente premiada no Festival de Locarno (Leopardo de Ouro Cineastas do Presente e Melhor Primeiro Filme). Rodado na sua cidade natal, Matal no Senegal, esta é a história de dois irmãos, Tierno e Ousmane, que se zangam por causa do casamento dos seus dois filhos. O primeiro quer casar o seu rapaz com a filha do segundo, a bela Nafi. O que está em causa é o alastrar do fundamentalismo numa pequena comunidade.

Nafi’s Father, de Mamadou DiaNafi’s Father, de Mamadou Dia

27, Quinta | 21h30 | Culturgest

1, Terça | 21h30 | Cinema São Jorge

Eyimofe| This is My Desire

Arie Esiri, Chuko Esiri

Nigéria, Estados-Unidos, fic., 2020, 115’

Todos os anos Nollywood, a Hollywood nigeriana, produz cerca de mil filmes. Destes quase nenhuns viajam para fora de África. Caso diferente para a primeira longa metragem dos irmãos gémeos Esiri que, a partir de duas histórias, em certo sentido também elas gémeas, abordam o desejo de sair para o Ocidente. Mofe, um homem que faz reparações numa fábrica e Rosa, empregada de bar e cabeleireira, procuram uma saída da colorida e aprisionante capital, Lagos.

Retrospectiva Ousmane Sembène

25, Terça | 21h30 | Cinemateca

5, Sábado | 19h | Cinemateca

BOROM SARRET

Ousmane Sembène

Senegal, doc., 1963, 20’

É já com quarenta anos e com vários romances publicados que Sembène começa a filmar. Nesta sua segunda curta, considerada por muitos historiadores como um dos primeiros filmes realizado por um negro em África, seguimos um condutor de carroça pelas ruas pobres e desoladas de Dakar.

+

LA NOIRE DE…

Ousmane Sembène

Senegal, França, fic., 1966, 65’

A longa-metragem inaugural de Sembène é tida como o primeiro filme de um realizador da África subsariana a ter atenção internacional. Baseado num conto homónimo do autor, ela acompanha a vinda, de Dakar para a Riviera francesa, de Diouana, uma jovem senegalesa, contratada como babysitter por um cosmopolita casal francês. Este é um trajeto de silenciosa rebelião, na passagem dos sonhos ilusórios por uma vida melhor a uma realidade de exploração.

LA NOIRE DE..., Ousmane SembèneLA NOIRE DE…, Ousmane Sembène

+

TAUW

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1970, 24’

Tauw e Ouman são irmãos. Tauw, o mais velho, procura, em vão, um emprego. Ouman, 11 anos, procura, em vão, apoios para o seu líder religioso. Diferentes fases de crescimento, o moderno e o tradicional em confronto, nas ruas de uma Dakar em mudança após a independência.

29, Sábado | 15h30 | Cinemateca

4, Sexta | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

CAMP DE THIAROYE

Ousmane Sembène, Thierno Faty Sow

Senegal, Argélia, Tunísia fic., 1988, 157’

Talvez a grande obra-prima de Ousmane Sembène e o grito mais intenso de condenação das injustiças do colonialismo. No rescaldo da 2ª Guerra Mundial, os soldados senegaleses regressam da Europa e, antes do retorno a casa, são colocados no acampamento militar de Thiaroye. Perante as más condições de acomodação e a redução de pagamento, os soldados revoltam-se e são massacrados às mãos do exército francês. Vencedor do prémio especial do Júri em Veneza.

27, Quinta | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

3, Quinta | 15h30 | Cinemateca 

CEDDO

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1977, 120’

Ceddo é o nome dado aos últimos detentores do espiritualismo africano antes da chegada do islamismo e cristianismo. Numa aldeia senegalesa do séc. XVII, o rei Demba War cede às pressões do líder islâmico e os ceddo raptam a sua filha para prevenir a conversão forçada à nova religião. Este “micro épico”, como foi apelidado, foi à época censurado e conta-se que Sembène distribuía, à saída dos cinemas, panfletos que descreviam as cenas removidas.

CEDDO, Ousmane SembèneCEDDO, Ousmane Sembène

29, Sábado | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

2, Quarta | 15h30 | Cinemateca

EMITAÏ

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1971, 103’

Durante a 2ª Guerra Mundial, as forças colonialistas francesas do governo de Vichy requisitam o bem mais precioso que têm os habitantes da aldeia senegalesa de Efock: o arroz. A minoria étnica dos Diola reorganiza-se para a resistência: enquanto os anciãos rezam a Emitaï, o Deus do trovão, as mulheres, mais pragmáticas, escondem a colheita. Esta história de silenciosa resistência esteve censurada 5 anos após a sua estreia em toda a África francófona.

31, Segunda | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

8, Terça | 19h | Cinemateca

FAAT KINÉ

Ousmane Sembène

Estados Unidos, fic., 2001, 120’

Quase uma década após o seu último filme, Sembène assina o que seria o primeiro volume de uma planeada trilogia sobre o heroísmo quotidiano da mulher africana. Faat Kiné é mãe solteira numa Dakar moderna, plena de contradições e aspirações de mudança. Vive com os seus dois filhos, de dois ex-maridos, tendo de lidar não apenas com a pressão social da sua condição, mas também lutar pelas suas aspirações profissionais num mundo dominado pela condição patriarcal. 

28, Sexta | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

7, Segunda | 15h30 | Cinemateca

GUELWAAR

Ousmane Sembène

França, Alemanha, Senegal, Estados Unidos, fic., 1992, 115’ 

Esta comédia de enganos começa com a morte de Guelwaar (que significa “o nobre”), padre e ativista católico. Quando a família vem reclamar o corpo à morgue apercebe-se que este desapareceu e que foi enterrado por engano num cemitério muçulmano. Sátira a uma África atolada pelos pequenos conflitos, por uma burocracia paralisante e pelos dogmas e crenças religiosas em confronto. A ironia fina e os pequenos detalhes revelam toda a mestria de Sembène.

1, Terça | 15h30 | Cinemateca

5, Sábado | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

MOOLAADÉ

Ousmane Sembène

Senegal, França, Marrocos, Tunísia, Camarões, fic., 2004, 124’ 

O último filme de Sembène e segundo de uma planeada trilogia sobre o heroísmo da mulher africana. Numa pequena vila senegalesa, Collé Ardo, a segunda mulher de um próspero agricultor, prepara o casamento de sua filha. Eis que resolve acolher quatro meninas que procuram refúgio na sua casa para escapar ao ritual de “purificação”, que consiste na sua excisão genital. Tal atitude inicia um conflito que divide irremediavelmente os membros da sua comunidade.

2, Quarta | 19h | Cinemateca

5, Sábado | 15h30 | Cinemateca

NIAYE

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1964, 35’

Inspirado em factos reais, Niaye narra através de um griot - um contador de histórias africano - o caso de uma jovem cuja inesperada gravidez vem escandalizar a comunidade e agitar os valores tradicionais de uma pequena vila senegalesa.

 +

MANDABI

Ousmane Sembène

França, Senegal, fic., 1968, 90’

Um homem senegalês de meia idade, desempregado, vive com as suas duas mulheres e filhos em Dakar. Quando recebe um vale postal vindo do seu filho, trabalhador em Paris, começam os problemas burocráticos para o levantar. Sembène foca-se, pela primeira vez, na corrupção da vida quotidiana do seu país, cumprindo o sonho de fazer um filme todo falado em língua Wolof. O olhar crítico valeu-lhe a censura no Senegal e um prémio internacional da crítica no Festival de Veneza.

2, Quarta | 21h30 | Cinemateca

11, Sexta | 19h | Cinemateca

XALA

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1975, 123’

Nos anos pós-independência, no Senegal mantém-se a influência ocidental. Um ganancioso homem de negócios retira dividendos dessa situação e, como prova do seu sucesso, casa-se com a sua terceira mulher. Mas eis que, ao tentar consumar o casamento, se vê atacado por uma terrível xala, uma maldição que o deixa impotente. Baseada no romance que Sembène escreveu dois anos antes, esta é uma simbólica sátira acerca da impotência social e política do seu país.

Retrospectiva 50 Anos Forum Berlinale

26, Quarta | 15h30 | Cinemateca

3, Quinta | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

ELDRIDGE CLEAVER, BLACK PANTHER

William Klein

França, Argélia, doc., 1970, 75’ 

Após acusação de uma tentativa de assassinato, Eldrige Cleaver, militante do movimento Black Panther Party, exila-se na Argélia. O realizador e fotógrafo William Klein fará aqui o retrato de um homem multifacetado, escutando o seu discurso ativista sobre a revolução, a luta na América, os seus rivais políticos, como Nixon ou Reagan. Mas esta é também uma obra além da ideologia, o retrato de um revolucionário romântico, num exílio lírico e comovente. 

28, Sexta | 15h30 | Cinemateca

SOLEIL Ô 

Med Hondo

França, Mauritânia, fic., 1970, 104’

O realizador e actor da Mauritânia, Med Hondo, espantou o mundo do cinema com este seu filme inicial (vencedor do Leopardo de Ouro em Locarno), rodado durante quatro anos e com um baixo orçamento. Esta é a luta de um emigrante mauritano em Paris, em face das precárias condições de trabalho, remuneração discriminatória, humilhação e indiferença. Um manifesto original, com influências do cinema verité, da montagem eisensteiniana, da sátira e do absurdo.

27, Quinta | 15h30 | Cinemateca

MONANGAMBEE

Sarah Maldoror 

Argélia, fic., 1969, 18’

Sarah Maldoror, cineasta maior da causa da libertação africana, assina aqui o seu primeiro filme. A denúncia da tortura no colonialismo português em Angola, bastando uma palavra com significado desconhecido para dar origem à violência.

+

PHELA-NDABA (END OF THE DIALOGUE)

Members of the Pan Africanist Congress

África do Sul, doc., 1970, 45’

Em 1970, membros do Congresso Pan-Africano formaram um colectivo cinematográfico. Um grupo de sul africanos exilados em Londres utilizou imagens de arquivo e vídeos filmados em segredo no seu país para realizar o que seria um dos primeiros filmes sobre o Apartheid.

Foco Mati Diop

29, Sábado | 21h50 | Cinema São Jorge

ATLANTIQUE

Mati Diop

França, Senegal, Bélgica, fic., 2019, 106’

Trabalhadores de uma obra na capital do Senegal não recebem há meses. Um deles, o jovem Souleiman, decide atravessar o oceano em busca de uma melhor vida. Ada, de 17 anos, apesar de prometida a outro homem, espera o regresso do seu amor. Inspirada na figura de Penélope, mas também em Romeu e Julieta, Atlantique é um conto de espíritos, traumas e crescimento. Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes de 2019. 

ATLANTIQUE, Mati DiopATLANTIQUE, Mati Diop

27, Quinta | 19h15 | Culturgest

MILLE SOLEILS

Mati Diop

França/Senegal, fic., 2013, 45’

Mille Soleils, vencedor do IndieLisboa em 2014, conta o regresso da realizadora ao Senegal, revisitando dois atores do filme Touki Bouki (1971), realizado pelo seu tio, Djibril Diop Mambéty. Memórias reais e liberdades de ficção, o cinema e/é a sua família.

20.08.2020 | par martalanca | cinema africano, Mati Diop, Ousmane Sembène, Sarah Maldoror

Estreia de Parto Sem Dor, de Maria Mire, no Indie

O filme de Maria Mire sobre Cesina Bermudes estará na Competição Nacional de curtas-metragens do Indie Lisboa Festival Internacional de CinemaSerá exibido no dia 26 de Agosto e no dia 3 de Setembro, no Cinema São Jorge em Lisboa. Programa do Indie.

O filme marca a estreia de Maria Mire na realização e é uma homenagem pessoal da realizadora à`médica obstetra Cesina Bermudes (1908-2001), pioneira da introdução do parto sem dor em Portugal e resistente anti-fascista, que ajudou no parto muitas mulheres na clandestinidade. Cesina Bermudes foi a primeira mulher portuguesa a doutorar-se em medicina.

 

 

Sobre o filme, realizado e produzido de forma completamente independente, a realizadora revela: “Perante a degradação da imagem da mulher no fnal da Idade Média, produziu-se e perpetuou-se no imaginário europeu que a prática de feitiçaria estava ligada à natureza feminina e, por extensão, que toda a mulher era uma feiticeira em potência. Queimadas nas fogueiras como seres demoníacos este movimento histórico anti-feminino para além da pesada repressão que infigiu, desprestigiou-as ao longo do tempo, só ficando para a História das feiticeiras, uma ideia de histeria, loucura e charlatanismo.

As acusações de bruxaria estavam, na sua maioria, associadas a práticas ancestrais de medicina empírica e recaiam violentamente sobre as curandeiras e as parteiras. Quais os resquícios desse tempo sombrio? Procuramos a resposta a esta pergunta na vida e na acção de Cesina Bermudes, uma importante médica obstetra que foi pioneira da introdução do parto sem dor em Portugal, assim como uma importante oposicionista ao regime do Estado Novo. Misturando-se a história de Cesina Bermudes com a história de Portugal do século XX.

Na preparação do flme, o mergulho histórico foi feito inicialmente através da leitura dos inúmeros textos científcos escritos por Cesina Bermudes, assim como da consulta a documentos históricos nos arquivos nacionais sobre o períododo fascismo e da realização de entrevistas a pessoas que foram suas pacientes, colegas ou que se ligaram a ela em algummomento da sua vida. Os inevitáveis buracos de uma história indirecta, as omissões constantes sobre a sua vida pessoal ou as considerações revestidas de aparente neutralidade ideológica sobre a sua militância política, que surgiram na pesquisa para este flme, tornaram-se reveladores do caminho que deveria tomar: uma conversa que começa no beiral de uma janela e que se prolonga através de uma intimidade imaginada. As imagens de uma viagem familiar são o pano de fundo desta história, na procura de novas e subtis poéticas que consigam identifcar actuais protagonistas para as conquistas de Cesina Bermudes.” 

Maria Mire

 

PARTO SEM DOR / Documentário / HD / 21’ / 2020

 

 

 

10.08.2020 | par martalanca | cinema, Maria Mire, Parto sem Dor

Podcast - Impérios, Colonialismo e Sociedades Pós-coloniais.

Está no ar o episódio piloto do podcast do Grupo de Investigação Impérios, Colonialismo e Sociedades Pós-coloniais. Disponibilizamos ao público um debate sobre iconoclastia anticolonial, memória do império português e descolonização.
O debate reuniu investigadores em história e antropologia e teve como principal objeto os protestos em torno à estátua do Padre António Vieira erigida em Lisboa, em 2017, bem como as reações públicas à sua pichagem a tinta vermelha e com a palavra “Descoloniza”, em junho de 2020. 
Gravado em 25 de junho de 2020, o debate contou com a moderação de Ricardo Roque e as intervenções de Annarita GoriÂngela Barreto XavierInês GalvãoIsabel Corrêa da SilvaKevin Carreira SoaresMafalda Soares da CunhaMarta MacedoMatheus Serva PereiraNuno Gonçalo Monteiro e Pedro Cardim.O episódio – “Descoloniza” Vieira – pode ser ouvido nas páginas do podcast nas plataformas: AnchorPocket Casts; e Spotify.Mais informações aqui.

11.07.2020 | par martalanca | Colonialismo e Sociedades Pós-coloniais, Impérios

Revista Língua-lugar: Literatura, História, Estudos Culturais

Língua-lugar é a mais recente publicação do Centre d’Études Lusophones da Université de Genève, em conjunto com a Universität Zürich, cujo objetivo é difundir as culturas e literaturas em língua portuguesa.

Neste número inaugural inclui-se um dossiê temático dedicado à reflexão sobre os discursos da Expo’98. Em complemento são apresentados os desenhos de Ângelo Ferreira de Sousa desconstruindo a mascote e os ideais da mesma exposição. São ainda tema a língua portuguesa vista na sua materialidade, marcada pelo lugar onde é falada, no ensaio de Eduardo Jorge de Oliveira, a linguagem e a contracultura brasileira no texto de André Masseno, o espaço da memória na experiência pós-imperial no artigo de Paulo de Medeiros recordando a obra de Luandino Vieira em relação com a de Djaimilia Pereira de Almeida. É dada a palavra a Lídia Jorge numa longa entrevista sublinhando a importância da literatura na res publica.

Javier del Real (Teatro Real) Ópera Corvo Branco · Javier del Real (Teatro Real) Ópera Corvo Branco ·   

Dossiê Temático: A Expo’98 e o Portugal pós-imperial em busca de uma narrativa nacional.

O primeiro dossiê temático de Língua-lugar, coordenado por Pedro Cerdeira, reúne artigos de Pedro Martins, Marta Araújo, Nazaré Torrão e Octavio Páez Granados e Catarina Duff Burnay.

O dossiê revisita a Expo’98 e produtos culturais a ela associados, designadamente a ópera Corvo Branco e a telenovela Terra Mãe. Interrogando a forma como a exposição se apropriou do período histórico da expansão marítima, o dossiê pretende ser um contributo para o entendimento do impacto de iniciativas comemorativas e da construção da identidade nacional no Portugal contemporâneo. Para tal, convoca diferentes disciplinas, nomeadamente a história, as ciências da comunicação, as ciências da educação e os estudos literários. 

Regino Cruz Arquitectos, Pavilhão Atlântico.Regino Cruz Arquitectos, Pavilhão Atlântico.

Lançamento & Acesso

29 Junho 2020 / 18 h - 19h (CET)

Acesso Revista e Informações sobre o Evento

oap.unige.ch/journals/lingua-lugar

Apoios

ASSH-Académie suisse des sciences humaines et sociales 

Joint Seed Funding

Instituto Camões

Design: Igor Ramos

Contacto lingua-lugar-info@unige.ch

Morada física Rue Saint-Ours 5, 1211 Genève 4 

Morada postal Rue De-Candolle 5, 1211 Genève 4 

Facebook www.facebook.com/107870490912933

Desenho de Ângelo Ferreira de Sousa, My Friend Gil Desenho de Ângelo Ferreira de Sousa, My Friend Gil

26.06.2020 | par martalanca | língua, revista

FUTURE NOW! (RE)PENSAR A CULTURA

FUTURE NOW! é um espaço de diálogo e intercâmbio digital que pretende discutir a Cultura e as Indústrias Criativas num contexto de pandemia, que desenham um conjunto de novos paradigmas sociais a nível mundial.

FUTURE NOW! pretende juntar vozes operacionais do(s) sector(es) em espaços de partilha, cruzamento e questionamento sobre o futuro que tem presente uma série de novos contextos e protocolos cujos impacto socioeconómicos já se fazem sentir, exigindo ações a curto/médio e longo prazo, pensadas coletivamente.

A Plataforma

  • Do Que Um Ciclo de Conferências

FUTURE NOW! irá reunir várias vozes do sector cultural numa plataforma comum de diálogo live: a partir do zoom em directo para o Facebook e  o Instagram.

Será criado um site com: (1) um catálogo digital com informação sobre todos os participantes inscritos: oradores, público em geral e entidades parceiras; (2) audios em português, inglês e francês de cada um dos painéis; web docs de 3m introduzindo cada painel; resumos do dia; publicação final de um manifesto FUTURE NOW!

DECLARAÇÕES PÚBLICAS 

Pedro José-Marcellino 

(Cabo Verde/Canadá/Portugal) 

Cineasta, Cientita Político, Autor

FUTURE NOW! Creative Team 

Samira Pereira 

(Cabo Verde/Portugal)

Produtora e Programadora Cultural 

FUTURE NOW! Creative Team 

“Com o desconfinamento total a assomar, é crucial que tomemos um momento *agora* — antes que voltemos todos às nossas vidas — para refletir amplamente no que é, por certo, um momento de charneira para as Indústrias Criativas no mundo inteiro. Confrontadas já com uma crise existencial catastrófica causada pela pandemia COVID-19, este momento de pausa forçada é igualmente uma oportunidade ímpar para que nos detenhamos, re-avaliemos, reestruturamos, e agarremos o incrível progresso a nível de representação e diversidade advindo diretamente da discussão internacional em redor do movimento BLM, que acaba de — finalmente — fazer tremer os alicerces coloniais da nossa sociedade, e que construamos, portanto, algo mais robusto, e mais justo.

É chegado o momento de fazer desta indústria com tantas desigualdades, uma indústria que funcione para todos. Não haverá, porventura, melhor momento para insistir na diversidade de vozes do que o rescaldo e reconstrução de um ano que viu manifestações feministas, anti-fascistas, pró-LGBTQ2+, pró-imigração e direitos humanos, o #MeToo e o #TimesUp e finalmente o terramoto do COVID-19, reforçado pela benvinda explosão do protestos BLM no mundo inteiro, com a conseguinte consciencialização acelerada de um mundo sonolento (ou dormindo de sorrateira).

Juntem-se à conferência digital Future Now de 29 de Junho a 10 de Julho (Gratuito, via Zoom e nas redes sociais), para uma (retro)(pers)pectiva e discussão de futuros sobre estes e outros tópicos relacionados com as resiliências e vulnerabilidades nas Indústrias Criativas e dos profissionais da cultura, como estxs têm interagido com o mundo nos últimos 3 meses, e como se estão/virão a reinventar através deste processo.

Falemos do FUTURO. Agora.

De Cabo Verde para o mundo, colocando no centro as vozes africanas, realçadas por colegas e aliados do mundo.”

Abraão Vicente

Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas da República de Cabo Verde

“Pensar a cultura após a declaração da pandemia do COVID-19, das sucessivas declarações do Estado de Emergência e do impacto negativo sofrido no setor da cultura e das indústrias criativas é, agora, mais do que urgente.

As instituições públicas e o setor privado viram a paralização destes dois setores como uma oportunidade de criar outros caminhos para debelarem os novos desafios impostos.

Debater e encontrar as melhores soluções para o setor da cultura e das indústrias criativas têm sido uma das prioridades do Governo de Cabo Verde, através do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas. O mesmo departamento que apoia iniciativas da sociedade civil.

Nisto, surgiu já o Future Now - O setor cultural em Cabo Verde no contexto da COVID-19 e pós-pandemia. Uma conferência digital que reúne pensadores de vários quadrantes e de vários países com o fito de debater o novo paradigma social a nível mundial.

Neste contexto, o Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, reuniu-se, por videoconferência, com os promotores da conferência digital.

O grupo do FUTURE NOW! é formado pela especialista em comunicação, Samira Pereira (São Vicente), o grupo formado por Pedro José-Marcellino (P.J. Marcellino) politólogo e cineasta residente no Canadá (América do Norte), Edna Lopes, Cônsul HOnorária de Cabo Verde em Itália, Simoni Cruz, Estudante Universitária e membro do Conselho Diretivo da Associação Cabo-verdiana de Cabo Verde em Portugal, e Ivan Santos, Diretor da Cultura da Câmara Municipal da Praia (ilha de Santiago).

Samira Pereira explicou o cerne do Future Now que acontecerá em duas semanas, dividido em 27 painéis e conta com 130 oradores.

Uma iniciativa louvável que conta com total apoio do titular da pasta da cultura e das indústrias criativas. O governante acredita que para além de um período de reflexão é preciso um “call for action.” ”

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Participantes

Opening Address: H.E. Minister of Culture and the Creative Industries, Mr. Abraão Vicente 

Confirmed speakers:

Christine Semba (France/Germany) — Head, WOMEX Academy and WOMEX Special Projects

Paola Valdivieso (Colombia) — Cultural Manager | DJ Selector | Co-founder Loa Productora

Elena Vida (Italy) — Architect

Michelle Ngommo (Italy/Cameroon) — Chair, AfroFashion Association, Milano Afrofashion Week

Mário Lúcio (Cabo Verde) — Singer-Songwriter, Writer, Thinker (former Min. Culture CV)

Suzana Souza (Angola) — Curator

Guilherme Tavares (Brazil)  — Cultural Producer, Creative Director of Favela Sounds Festival

Prof. Maria Miguel Estrela (CV) — Researcher

Cláudia Leitão (Brazil) — Director, Observatory of Fortaleza, former Min. of Culture

José da Silva (CV/France) — CEO, Sony Music Africa

Ivan Santos (CV) —Director, Praia Municipality UNESCO Cities of Music

Nuno Andrade Ferreira (CV) — Journalist

Jeff Hessney (USA, CV) — Cultural Programmer, Anthropologist

Samira Pereira (CV) — Cultural Programmer, former Director, Nat. Palace of Culture

Belarmino Kiwla Santos (Angola) — Building Society.org

Nuno Flores (Portugal) — Architect, Urban Planner

Redy Lima (CV) — Researcher, Sociologist

Renee Robinson (Jamaica) — Jamaican Film Commissioner, JAMPRO

Pedro José-Marcellino (CV/Canada) — Film/Cultural Producer, Political Scientist 

Janaina Alves Branco (CV) — ALAIM 

Mariana Duarte Silva (PT) — Lx Factory

Helena Moscoso (Portugal/CV) — Responsible Tourism Manager

Chris Benjamin (Jamaica), Vice-Consul in NYC, JAMPRO Trade & Investment Jamaica

Carlos Santos (CV) — Historian 

Miguel de Barros (Guinea Bissau) — Executive Director, Tiniguena. Equator Prize 2019

Angela Coutinho (CV/Portugal) — Professor/Researcher

 

Paulo Veiga (CV) — Cabo Verde Minister of the Sea Economy

Josina Freitas (CV) — Ministry of Culture representative 

Ivan Santos (CV) — Director of Praia UNESCO City of Culture, Municipality of Praia

Ana Gommel (CV) — Eco-Gourmand | Sumbia Café, hybrid cultural space 

Miriam Simas (CV) — Bombu Minino cultural organizaton 

Anayka Bettenncourt (Angola) — Zungueira Concept Store

Sueli Duarte (CV) — Art Educator 

Kwame Gamal Monteiro (CV) — Artist, Activist 

Rita Pedro (Portugal) — Philosopher

Marcela Lúcia Rojas (Colombia/Canada) — Artist, Art Educator, Art Therapist

Rita Rainho (Portugal) — Art Educator 

Lúcia Cardoso (CV) — Musician

Heitor Augusto (Brazil) — Founder, Nicho 54, Curator, Film Critic 

Abel Djassi Amado (CV) — Cultural Programmer/Producer

Gualter Monteiro (CV) — Artist, Producer 

Shakura S’Aida (USA/Canada/Switzerland) — Blues Singer, Activist

Guilherme Tavares (Brazil) — Favela Sounds

Solange Cesarovna (CV) — Cabo Verdean Society of Music 

 

Mário Bettencourt  (CV) — CV Associação of Producers

Paulo Lobo Linhares (CV) — Producer

Samira Vera-Cruz (CV) — Director, Parallax Productions

Pedro Soulé (CV) — Producer, Kriolscope

Sélim Harbi (Tunisia) — Filmmaker

Marta Lança (Portugal) — Researcher, Cultural Programmer, Editor, Buala.org 

Ana Cordeiro (CV/Portugal) — Director, Cabo Verde National Reading Plan

João Branco (CV/Portugal) — Theatre Director, MindelACT

Flávia Gusmão (CV/Portugal) — Actress

Sara Estrela (CV) — Theatre Director 

Chullage (Portugal/CV) — Playwright, Rapper, Activist, Sociologist, Griot Theatre 

Helardenson Duarte (Portugal/CV) — Actor

António Tavares (CV) — Dancer, Choreographer 

Šara Stranvovsky (USA) — Dancer, Educator

César Schofield Cardoso (CV) — Producer,  Multimedia Artist

Diogo Bento (CV/Portugal) — Photographer, Curator

 

Susana Souza (Brazil) — Visual Artist 

Alan Alan (CV) — Artist, Activist

Stephanie Silva (CV/Senegal) — Fashion Designer

Rosário da Luz (CV) — Activist 

Lorenzo i Bordonaro (Italy) — Artist, Activist

Adeline Bird (Canada/Tanzania) — Writer, Producer, Radio Host, Activist

Nathalie Younglai (Canada) — Screenwriter, Founder, BIPOC TV & Film

Celeste Fortes (CV) — Cultural Programmer, Professor, University of Cabo Verde

Anubha Momin (Canada/Bangladesh) — Writer, Producer, Activist 

Lolo Arkizi (Cabo Verde) — Producer/Director

 

 

 

 

 

 

 

 

25.06.2020 | par martalanca | FUTURE NOW!

As coisas fundadas no silêncio / Performances

A artista plástica Susana Mendes Silva, desenvolveu para As coisas fundadas no silêncio, o projeto expositivo “Como silenciar um poeta”. 

Com base na Sala Polivalente do Museu Nacional de Arte Contemporânea, o projeto inclui duas performances que se debruçam sobre a tradução de um poema da poeta Judith Teixeira para as outras duas línguas oficiais Portuguesas, a Língua Gestual Portuguesa e o Mirandês — “Tradução #1” e “Tradução #2” — e a leitura performativa da conferência “De mim”, publicada por Judith Teixeira em 1926.
“Tradução #1” - com Patrícia Carmo
3 de julho, sexta-feira 17:30 Estúdios Victor Córdon Duração: 2h
No sentido de contrariar a potência destrutiva do silenciamento em “Tradução #1” partiremos da tradução de um poema de Judith Teixeira para Língua Gestual Portuguesa.
- Não é necessária qualquer experiência anterior em LGP ou dança.
- Deverá chegar pelas 17:30.
- É necessário trazer roupa que permita os movimentos e seguir as instruções de participação dos estúdios: https://www.cnb.pt/evcsegurancacovid19/
- Participação gratuita para maiores de 18 anos, sujeita a inscrição.
- As inscrições podem ser feitas até ao dia 28 de junho enviando nome completo e data de nascimento para o e-mail atelier@efabula.pt
- Lotação 11 participantes.
“De mim” - com Marta Rema
3 de julho, sexta-feira
21:30 Rua das Gaivotas 6 Duração: 50 minutos
“DE MIM: Conferência em que se explicam as minhas razões sobre a Vida, sobre a Estética, sobre a Moral”, é um manifesto no qual a escritora se defende dos ataques e críticas a que vinha sendo sujeita desde 1923. Como afirma Fabio Mario da Silva, este texto é “acima de tudo (…) um discurso — para além de ter como destinatária a burguesia fútil e a sua conceção retrógrada de arte, defendendo que os artistas não se devem limitar às emergências dos mercados editoriais — de exaltação ao exótico e ao futurismo, que seriam sinónimos, naquela altura, para a sociedade portuguesa, de imorais, doidos e pagãos”. Não se sabe se este discurso terá sido alguma vez lido em público e por isso convocamos a sua presença fantasmática.
Participação gratuita para maiores de 18 anos sujeita a inscrição.
As inscrições podem ser feitas até dia 2 de julho para o e-mail atelier@efabula.pt Lotação de 25 participantes.
“Tradução #2” - com Alda Calvo
4 de julho, sábado 16:00 Rua das Gaivotas 6 Duração: 2h
No sentido de contrariar a potência destrutiva do silenciamento em “Tradução #2” partiremos da tradução de um poema de Judith Teixeira para Mirandês.
- Não é necessária qualquer experiência anterior em Mirandês ou em leitura de poesia.
- Participação gratuita para maiores de 18 anos sujeita a inscrição.
- As inscrições podem ser feitas até dia 2 de julho para o e-mail atelier@efabula.pt
- Lotação 20 participantes.
Susana Mendes Silva (Lisboa, 1972) é artista plástica e performer. O seu trabalho integra uma componente de investigação e de prática arquivística, que se traduz em obras cujas referências históricas e políticas se materializam em exposições, ações e performances através dos mais diversos meios de produção. O seu universo contempla e reconfigura contextos sociais diversos sem perder de vista a singularidade do indivíduo. A sua intimidade psicológica ou a sua voz são inúmeras vezes veículos de difusão e receção de mensagens poéticas e políticas que convocam e reativam a memória dos participantes e espetadores. Susana estudou Escultura na FBAUL e frequentou o programa de doutoramento em Artes Visuais (Studio Based Research) no Goldsmiths College, Londres, tendo sido bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. É Doutorada em Arte Contemporânea, pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, com a tese baseada na sua prática performativa – A performance enquanto encontro íntimo. É Professora Auxiliar na Universidade de Évora/DPAO no curso de Arquitetura Paisagista.

25.06.2020 | par martalanca | Performances, silêncio, Susana Mendes Silva

'Bustagate', de Welket Bungué

Bustagate com Isabél Zuaa e Cleo Tavares. // Um ano depois do incidente do Bairro da Jamaica (zona da margem Sul de Lisboa) eis o panorama escandaloso da violência e desigualdade social em Portugal. Eis um filme-intervenção póstumo à sua personagem imaginária, dedicado aos portugueses. // “Temos de entender quais são as questões sociais fraturantes da nossa sociedade. Somos brandos, e por isso acreditamos que a colonização de África, da América do Sul (…) foi uma missão importante que uniu a humanidade. Hoje grande parte da nossa riqueza deriva dos ganhos do nosso passado de violência, portanto devemos muito a esses povos agora ex-colonizados. LIVRES.”

Bustagate é um filme híbrido, que mistura textualidade e três narrativas visuais para contar e asfixiar o público, fingindo colocá-los no mesmo lugar que a nossa deflagrada heroína (a Sociedade). Bustagate, um ano depois do incidente do Bairro da Jamaica (zona da margem Sul de Lisboa). Através dos comentários do artista como agente político em nome do Ministério Público Português, Welket faz o recorte de um panorama escandaloso e desajustado de violência e desigualdade social em Portugal. Aqui está um filme-intervenção póstumo ao personagem imaginário aqui chamado Pretugal (personificando o Luís Giovani Rodrigues), dedicado ao povo português (aos tradicionalmente “nativos” e aos descendentes do continente africano que nasceram aqui). Esta criação segue o assunto principal do filme-manifesto (ou filme-intervenção) anterior Eu Não Sou Pilatus (Seleção Oficial DocLisboa - Competição Internacional, 2019).

 

05.06.2020 | par martalanca | Welket Bungué

Festival digital Latitude

De 4 a 6 de junho terá lugar o festival digital Latitude. O programa dedica-se, em performances artísticas e debates, à questão de como estruturas coloniais perduram até à atualidade e como podem ser ultrapassadas. Partindo de projetos artísticos e discursivos que foram iniciados e apoiados pelo Goethe-Institut durante os últimos anos, o Festival Latitude reúne posições internacionais das áreas da cultura, da ciência e da política e reflete sobre assimetrias e injustiças sociais, políticas e económicas que se foram perpetuando desde os tempos coloniais até aos nossos dias.

Film Archives, foto de Bruno CastroFilm Archives, foto de Bruno Castro

Entre estas iniciativas encontra-se o projeto Tudo passa exceto o passado, no âmbito do qual o Goethe-Institut Portugal organizou em Lisboa, em setembro de 2019, um workshop sobre arquivos cinematográficos e formas de lidar com material cinematográfico de origem colonial.
Num painel a realizar sexta-feira, dia 5 de junho, às 18h30, 15 dos participantes - artistas, cineastas, arquivistas e investigadores de 12 países diferentes - reunir-se-ão novamente para discutir o passado, o presente e, especialmente, o futuro das coleções coloniais em arquivos cinematográficos. O ponto de partida para o debate é a leitura coletiva de um apelo desenvolvido em conjunto para mudar a forma como os arquivos cinematográficos europeus lidam e permitem acesso a material de origem colonial.
O documento é o resultado dos debates durante o workshop de Lisboa, que tratou da relação entre arquivo e poder, bem como de diferentes estratégias artísticas com material de arquivo de origem colonial e material das lutas de libertação colonial. O documento, que será lido, comentado e discutido em conjunto pela primeira vez no contexto do Festival Latitude, reflete a diversidade de vozes e posições do workshop.
A participação gratuita realiza-se online através do livestream e do chat.
Pode consultar o acesso, links e outros detalhes sobre o festival aqui.  

FESTIVAL LATITUDEFESTIVAL LATITUDE
Leitura e debate com: Inês Beleza Barreiros (Historiadora Cultural, Lisboa, Portugal), Ganza Buroko (Agente cultural, Goma, Congo), Maria do Carmo Piçarra (Curadora, Lisboa, Portugal), Filipa César (Artista plástica, Berlim, Alemanha), Didi Cheeka (Cineasta, Lagos, Nigéria), Inadelso Cossa (Cineasta, Maputo, Moçambique), Fradique (Cineasta, Luanda, Angola), Sana Na N’Hada (Cineasta, Bissau, Guinea-Bissau), Yaa Addae Nantwi (Investigadora, Accra, Gana), Inês Ponte (Antropóloga, Lisboa, Portugal), Tom Rice (Professor Sénior de Cinema, Londres, UK), Tamer El Said (Cineasta, Cairo, Egito), Raquel Schefer (Investigadora, Paris, França), Catarina Simão (Artista plástica, Lisboa Portugal), Stefanie Schulte Strathaus (Curadora, Berlim, Alemanha) e Antje Van Wichelen (Artista plástica, Bruxelas, Bélgica).

TEXTO DE INÊS PONTE SOBRE O ENCONTRO ANTERIOR Arquivos, filmes e memórias: ingredientes para lembrar e esquecer o passado

 

 

 

02.06.2020 | par martalanca | arquivos, Goethe Institute Lisboa, Latitude

Elinga Teatro 1988/2018 de Paulo Azevedo

13 março, 01:35, na RTP1

Este documentário foi um dos nove vencedores da terceira edição do Programa CPLP Audiovisual - DOCTV III, programa que tem como meta facilitar o intercâmbio entre os países que falam português e a produção audiovisual nesses países. Fazem parte da iniciativa Angola, Cabo Verde, Moçambique, Portugal, Timor Leste, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe.O retrato do processo de produção, preparação teatral e a evolução da companhia que há mais 30 anos leva a arte teatral às gentes de Luanda

Este documentário conta a história de um edifício colonial que há trinta anos alberga a companhia com o mesmo nome. O Elinga fez sua missão mostrar teatro aos luandenses. Muitas peças do grupo e de vários outros grupos nacionais e internacionais passaram pelo Elinga, até como outras manifestações artísticas que vão da dança às exposições e concertos. Este edifício deu aos luandenses acesso a cultura e tem importância na história contemporânea de Angola e da cidade de Luanda.
É feito um retrato do dia de todos os que trabalham no Elinga: os auxiliares de limpeza, os técnicos, os atores, a subdiretora, o diretor e encenador, desde o momento em que ali chegam e até ao final do noite. O momento dos ensaios a montagem de um novo espetáculo. As suas histórias de vida e a sua perspectiva que o teatro é um barómetro da sociedade angolana.
O documentário avança com delicadeza e levanta questões sobre a destruição do espaço e o desterro do Elinga Teatro, o seu tempo de vida e a sua dinâmica, as questões arquitectónicas e históricas, e a sua preservação no coração de uma nova Luanda.

12.03.2020 | par martalanca | documentário, Elinga Teatro

Tchiloli, de René Tavares - Luanda

12.03.2020 | par martalanca | René Tavares, tchiloli

Índie Lisboa: O cinema como arma: de Berlim ao Senegal destruímos muros e levantamos vozes.

A retrospectiva integral da obra do realizador senegalês Ousmane Sembène, os filmes da realizadora Mati Diop, e uma celebração dos 50 anos do Fórum da Berlinale, são algumas novidades da 17.ª edição do IndieLisboa, em 2020. Uma triangulação de vozes tantas vezes abafadas ao longo da história política, social e cinematográfica que agora revisitamos num diálogo com ecos também no programa de filmes recentes do festival, a revelar no dia 2 de Abril.

Em co-programação com a Cinemateca Portuguesa, o IndieLisboa apresenta a retrospectiva integral da obra do pai do cinema africano, Ousmane Sembène, um cinema marcado pelo feminismo, a luta de classes, contra a europeização da cultura do Senegal e a brutalidade do colonialismo. Com Sembène inicia-se uma viagem vinda de dentro, um contraponto à visão europeia que domina a produção cinematográfica. São filmes que operam uma reparação fílmica e histórica, que não se contentam com estereótipos, não procuram a estetização. Um cinema sem calculismo ou medo de uma nova linguagem e que respira livre.

Mati DiopMati Diop

Para marcar os 50 anos da secção Fórum do festival de Berlim, Berlinale, em colaboração com o Goethe-Institut Portugal e também com a Cinemateca Portuguesa, o IndieLisboa vai mostrar uma selecção que integra alguns dos filmes exibidos na sua primeira edição em 1971, na altura chamada Fórum Internacional do Novo Cinema. Foram filmes que colocaram em causa o status quo e que abriram portas para novas estéticas. Eram reacções à política turbulenta dos seus tempos e, por isso, foram essenciais para o fenómeno político. Na altura, abordando temáticas como as lutas anti-coloniais, os direitos das mulheres e direitos LGBTQ, abriram novas estradas políticas e cinematográficas.

Na secção Silvestre, o foco será na realizadora franco-senegalesa Mati Diop, que competiu com a sua primeira longa metragem Atlantique no Festival de Cannes. Mostraremos a sua obra como realizadora, desde a longa Atlantique às curtas Liberian Boy, Mille Soleils, Big in Vietnam e Snow Canon. Mati terá em exibição novamente no IndieLisboa o filme Mille Soleills que venceu em 2013 a competição internacional de curtas, uma homenagem ao filme Touki Bouki do seu tio Djibril Diop Mambéty, reconhecido cineasta senegalês.

Os pedidos de acreditações para estudantes e para a indústria já estão disponíveis com valor de early birds em indielisboa.com/acreditacao

Actualizações em indielisboa.com 

Programa

Retrospectiva: Ousmane Sembène

Mooladé (2004)

Faat Kiné (2001)

Guelwaar (1992)

Camp de Thiaroye (1988)

Ceddo (1977)

Xala (1975)

Emitaï (1971)

Tauw (Short) (1970)

Mandabi (1968)

Black Girl (1966)

Niaye (Short) (1964)

Borom sarret (Short) (1963)

Retrospectiva: 50 Anos do Fórum da Berlinale

Eldrige Cleaver, Black Panther, William Klein (1970)

W.R. – Misterije Organizma / W.R. – Mysteries of the Organism , Dušan Makavejev (1971)

Angela – Portrait of A Revolutionary,  Yolande du Luart (1971)

El cuarto poder, Helena Lumbreras, Mariano Lisa (1971)

Ostia, Sergio Citti (1970)

Soleil Ô / Oh, Sun! , Med Hondo (1970)

Mes voisins / My Neighbours , Med Hondo (1971)

Eine Prämie für Irene / Bonus for Irene , Helke Sander (1971)

The Woman’s Film (Newsreel #55) , Women’s Caucus – San Francisco Newsreel (1971)

Monangambeee , Sarah Maldoror (1969)

Phela-ndaba (End of the Dialogue), Members of the Pan Africanist Congress  (1970)

Nicht der Homosexuelle ist pervers, sondern die Situation, in der er lebt / It Is Not the Homosexual Who Is Perverse, But the Society in Which He Lives , Rosa Von Praunheim (1971) 

Foco Silvestre: Mati Diop

Atlantique (2019)

Liberian Boy (2015)

Mille Soleils (2013)

Big in Vietnam (2012)

Snow Canon (2011)

Atlantiques (2009)

10.03.2020 | par martalanca | Mati Diop, Ousmane Sembène

Fuckin’Globo - 19 a 26 março I Luanda

O que se passa na arte contemporânea Angolana?

A 6ª edição do Fuckin’Globo questiona e inicia o debate de 19 até ao dia 26 de Março, no Hotel Globo, na baixa de Luanda. Afinal, o que se passa na arte contemporânea Angolana? (What about Angolan Contemporary Art?

Sob este ponto de partida, ainda longe de respostas prontas, 18 artistas questionam, pensam, interpretam e registam nas suas produções artísticas e culturais da contemporaneidade, nesta plataforma irreverente, independente, autónoma e intelectual que é o Fuckin’ Globo.

Com o maior número de artistas de sempre, esta edição conta com:

Toy Boy, Kiluanji Kia Henda, Thó Simões, Lola Keyezua, Orlando Sérgio, Daniela Vieitas, Ery e Evan Claver, Mwamby Wassaby, Indira Grandê, Verkron, Mussunda Nzombo, Kapela, Iris Buchholz Chocolate, Yola Balanga, Flávio Cardoso, Rui Magalhães e Pedro Pires.

Além da curadoria de Adriano Mixinge e Tila Likunzi, a Casa Rede vai participar pela primeira vez com um programa de intervenção artística no pátio interior do hotel.

O “Fuckin’ Globo 2020 promete desafiar novamente as fronteiras dos seus espaços de linguagem visual e plástica, destacando novas vozes e outras perspectivas ao longo de micro-relatos visuais, plásticos e fotográficos, happenings, performances e instalações em que cada vez mais sobressai o lugar da dramaturgia nas criações visuais e plásticas - com teatro e com poesia -, a arte e cultura urbana do graffiti e do spoken word, entre outras, como formas de renegociar novas configurações sociais, morais, religiosas, políticas, cívicas, sexuais, estéticas e estésicas capazes de abraçar novas audiências”, lê-se na nota curatorial.

Nesta edição a provocação é nítida: Inverter tendências e dinâmicas institucionais e de mercado; Mudar a percepção actual e os propósitos da arte contemporânea angolana; E descobrir visões, interesses, fusões e equilíbrios próprios.

A mostra temporária decorre em oito dias. A partir do próximo dia 19 de março, as portas abrirão todos os dias às 19 horas, até 26 de março. A entrada é livre.

Desde a primeira edição, em dezembro de 2015, o Fuckin’Globo mantém-se fiel ao “From the people to the people… Fuck institutions”, à liberdade criativa dos artistas e ao compromisso e diálogo com as realidades sociais, políticas, históricas e culturais. Pelos quartos já passaram vários artistas como: António Ole, João Ana, Edson Chagas, Elepê, Marcos Kabenda, André Cunha, Angel Ihosvanny, Irina Vasconcelos, Alekssandre Fortunato, Gretel Marin, Lubazandyo Mpemba Bula, Joana Taya, Nelo Teixeira e Maria-Gracia Latedjou.

10.03.2020 | par martalanca | arte angolana, Fuckin’Globo

Oráculo de Sara Anjo e Teresa Silva

7 de Março às 21h30 e 8 de Março às 17h30
Teatro do Bairro Alto, Lisboa inserido no Festival Cumplicidade

Pode o corpo ser um oráculo?
Este é um exercício hipotético, que mais do que procurar respostas, escuta, observa, lê, interpreta sinais e símbolos de forma a criar possibilidades. Confronta-nos no presente com o momento da acção e suspende a obsessão pelo futuro.
O escuro do teatro torna-se o meio para iluminar algo menos visível e mais oculto. A experiência teatral pode revelar-se como uma perspectiva real e transformadora.
Oráculo lança o convite para juntos praticarmos outras formas de vidência.
 Direcção artística: Sara Anjo e Teresa Silva
Criação em colaboração com: Ana Maria Silva, Artur Pispalhas, Filipe Pereira e Jean-Baptiste Veyret-Logerias
Gestão administrativa: Vítor Alves Brotas | Agência 25
Fotografia e registo videográfico: Joana Linda
Co-produção: Teatro do Bairro Alto em colaboração com Eira/Festival Cumplicidades
Apoio: Fundação Calouste Gulbenkian e República Portuguesa-Cultura/Direção-Geral das Artes
Apoio residências: O Espaço do Tempo, Estúdios Victor Córdon, O Rumo do Fumo e Pólo Cultural das Gaivotas     
Agradecimentos: Sara Machado, Cátia Mateus, Anabela Mendes, Andrea Rodella e Tânia Albuquerque

+ info TBA
+ info Festival Cumplicidades

 
 

 

22.02.2020 | par martalanca | dança