AfrikPlay | Filmes à Conversa Migrações e fronteiras

Em Novembro, o AfrikPlay | Filmes à Conversa associa-se à 8ª edição do Festival Imigrarte e apresenta dois filmes de produção recente ligados às questões das migrações e das fronteiras.

Em sentido lato, uma fronteira é uma linha imaginária que delimita o território (terrestre, fluvial, marítimo e aéreo) de um determinado Estado, separando-o de territórios adjacentes. Dentro de cada um dos limites criados vigora um ordenamento político e jurídico, específico e autónomo, diferente daquele possível de encontrar “do outro lado”. Esta percepção vigorou até aos finais do século XX, quando o fim da “Guerra Fria”, o incremento do processo de Globalização, a crescente cooperação económica internacional e o desenvolvimento de instituições supranacionais trouxeram novas abordagens sobre o tema. As fronteiras foram então condenadas por vários teóricos a um “quase desaparecimento”, devido ao fluxo cada vez maior de pessoas, bens e serviços entre vários países, e mesmo continentes, e que contribuiu para cimentar o princípio de que as fronteiras não são linhas fixas ou barreiras. Contudo, aquilo que os Estados consideram como ameaças externas à sua soberania e aos direitos dos seus cidadãos acaba por despoletar medidas securitárias que, paradoxalmente à ideia da livre circulação, têm vindo a tornar algumas fronteiras cada vez mais impermeáveis. Todas estas questões emergem junto dos que, voluntariamente ou à força, atravessam fronteiras e se vêem na contingência de se adaptar “aos do outro lado” e vencer as barreiras quer das políticas migratórias, quer do preconceito. Por serem questões que caracterizam fortemente os tempos que vivemos, o AfrikPlay | Filmes à Conversa procurou trazer para o público do Festival Imigrarte filmes que retratassem essas dimensões.

foto por David Fedele

Assim, para sábado, dia 15, às 21:15, seleccionámos o filme “The Land Between” (David Fedele. 78’, 2014), que oferece uma visão intimista sobre emigrantes da África subsariana que vivem nas montanhas do norte de Marrocos. Para a maioria, o seu sonho é entrar na Europa através de uma barreira altamente militarizada em Melilla, enclave espanhol no continente Africano. Este filme documenta o quotidiano desses emigrantes presos no limbo, a extrema violência e maus tratos que sofrem por parte das autoridades, ao mesmo tempo que também explora as motivações das pessoas que estão dispostas a arriscar tudo, deixar a sua vida, o seu país, a sua família e amigos, em busca de uma vida nova e melhor. E no domingo, dia 16, em estreia nacional, exibimos às 21:40 o filme “Hide” (Elori Kramer & Peter Coccoma. 31’, 2013), que mostra o quotidiano de vários emigrantes originários da América Latina que trabalham em quintas de produção de leite em Vermont, nos EUA. “Hide” ilumina os sentimentos e as experiências de vida de trabalhadores rurais migrantes — sentimentos de isolamento, medo, falta de reconhecimento e por vezes de falta de esperança. Usando uma narrativa diferenciada, o filme combina música original, imagens obscuras e uma narração multi-sonora para fornecer uma visão intimista sobre a vida quotidiana dos trabalhadores e a sua luta por manter a dignidade.

Dois filmes contemporâneos, um deles em estreia absoluta em Portugal, para reflectir e conversar sobre o significado de atravessar fronteiras e de ser emigrante – no próximo fim de semana, no Ateneu Comercial de Lisboa (Rua das Portas de Santo Antão, nº 110 – junto ao Coliseu dos Recreios). Entrada Livre