Passou para as gerações seguintes através das figuras do ex-colonizador e do ex-colonizado. Estas “personagens” reencenam uma complexa fantasmagoria profundamente relacionada com o espectro mais íntimo do subconsciente europeu: o seu fantasma colonial que se manifesta inter alia sob a forma de "transferências de memória" colonial — como racismo, segregação, exclusão, subalternidade – ou sob a forma de "erupções de memória", e assim questiona a essência das sociedades multiculturais europeias, desenhadas pelas heranças coloniais e alimentadas por vagas migratórias.
A ler
31.10.2021 | por Margarida Calafate Ribeiro
A aldeia era pequena, todos se conheciam, Amande sabia que eu ia falar com outros habitantes. Provavelmente, ao mostrar-me a terrina, quis antecipar-se a eventuais mexericos. Naquele mesmo serão, um outro morador da aldeia, um veterano da guerra da Argélia, confidenciou-me que o pai de Amande ocupou, durante a Segunda Guerra Mundial, funções na administração local que implicavam contactos frequentes com os alemães. E que, à boca pequena, só por causa disso, muitos lhe chamavam «colaboracionista». Mas depois disse que isso fora há muito tempo e que já quase ninguém se lembrava dessas histórias.
A ler
06.09.2021 | por Paulo Faria
Historicamente, os artistas têm combatido criticamente as doenças e os preconceitos na sua prática, com vista a alterar dinâmicas institucionalizadas. Num momento em que epidemias, o capitalismo e aquecimento global ameaçam todas as formas de vida, queremos interrogar os modos como as diferenças e as formas de vulnerabilidade dos nossos corpos são capturadas em categorias estruturantes das relações sociais, criando estigmas que moldam percepções normativas. Vamos debruçar-nos também sobre a forma como essa mesma vulnerabilidade implica inevitavelmente a interdependência das nossas existências. Quais são as coreografias de solidariedade e cuidado?
Vou lá visitar
10.05.2021 | por vários
O jornalismo deve ser um instrumento que permita aos cidadãos serem cidadãos, serem cidadãos participativos e informados e, portanto, poderem tomar decisões. Todos os papéis que a cidadania abrange, entende-se que isso seja feito por pessoas informadas e não por pessoas desinformadas. Isso sempre deve funcionar. Para a imigração, deve-se fazer o mesmo.
Jogos Sem Fronteiras
02.05.2021 | por Cátia Miriam Costa e Lisa Moroni
A imagem da mulher passa pelo estereótipo profundamente enraizado que remonta à antiguidade. É a ideia de que as mulheres estão imóveis, à espera, no espaço do lar e da reprodução da família. Estão, portanto, ancoradas enquanto os homens navegam. Esta é uma das razões pelas quais a migração das mulheres não foi discutida durante muito tempo. Não parece natural imaginar mulheres em movimento.
Cara a cara
22.03.2021 | por Brahim Nejma e Schmoll Camille
A construção de uma parceria mais forte e mais estratégica com África também obrigará os países da UE a abandonarem a sua obsessão com a “ameaça” das migrações e a reconhecerem a importância estratégica do continente. Um debate sincero sobre a expansão das vias judiciais para garantir a mobilidade, nomeadamente as migrações circulares, seria benéfico.
Jogos Sem Fronteiras
17.12.2020 | por Carlos Lopes
"Something Happened on the Way to Heaven" é formulada como uma observação sobre o mundo mediterrânico com duplo sentido – um idílio aparentemente paradisíaco que revela a presença do seu oposto. Com efeito, as obras de Kiluanji Kia Henda evidenciam a dialética contraditória entre um esplendor natural dotado de traços idealizados e um obscuro reverso de ameaças históricas e atuais.
Vou lá visitar
30.11.2020 | por Luigi Fassi Luigi Fassi e Kiluanji Kia Henda
E eis que agora, na praia, Teófilo aguarda para que o sibilar do vento erga as ondas. Vê-a agitar as asas com graciosidade. Os seus pulsos tocam-se na fluidez da respiração. As penas negras da cabeça confundem-se com o tutu negro e o ondular de todo o corpo flutua em círculos pelo mar. E, de repente, uma perna tem a liberdade de um braço. A cabeça basculante debate-se. Fátima voa, foge, tem medo, encolhe-se. Mergulha e emerge. É devorada pela água. Emerge. Vai para cima e para baixo, repetidamente. Entre o mar e o céu, o céu e o mar.
Jogos Sem Fronteiras
30.10.2019 | por Yara Monteiro
O que aqui definimos enquanto traços exemplares da condição e da experiência dos migrantes aparece sob uma luz efectivamente específica no nosso tempo, no tempo da globalização. Vale a pena avisar que o modo em que esta última é aqui considerada guarda significativa desconfiança face a todas as suas imagens excessivamente simples e lineares, habitualmente veiculadas pela insistente referência a fórmulas como «neoliberalismo» e «pensamento único».
Jogos Sem Fronteiras
11.06.2019 | por Sandro Mezzadra
Segundo um relatório publicado pelo Alto Comissariado para as Migrações, cerca de metade dos 1520 refugiados que chegaram a Portugal entre 2015 e 2017 abandonaram o país. “A saída de tantos refugiados do país é um dos maiores indicadores de que os refugiados são mal recebidos e de que há discriminação”.
Jogos Sem Fronteiras
06.08.2018 | por Marta Vidal
O projeto “A Ilha de Vénus” além de ser um questionamento sobre a legitimação de uma história que exclui o “outro”, é também uma reflexão sobre uma das maiores tragédias da humanidade no presente, que começa na busca de um sonho que somente é realizado cruzando o Mediterrâneo. A realização deste sonho muitas vezes termina num pesadelo.
Mukanda
09.06.2018 | por Kiluanji Kia Henda
Num mundo em constante transformação, continuar a considerar as migrações apenas com base no seu carácter espacial, na sua duração e até mesmo no seu controlo tem vindo a tornar-se um pouco vago. Os fluxos migratórios são, atualmente, muito mais amplos, diversificados e muitas vezes dramáticos, movidos por fatores económicos, étnicos, ambientais, religiosos, políticos e bélicos.
Jogos Sem Fronteiras
01.03.2016 | por Cláudia Rodrigues
Em sentido lato, uma fronteira é uma linha imaginária que delimita o território (terrestre, fluvial, marítimo e aéreo) de um determinado Estado, separando-o de territórios adjacentes. Dentro de cada um dos limites criados vigora um ordenamento político e jurídico, específico e autónomo, diferente daquele possível de encontrar “do outro lado”. Esta percepção vigorou até aos finais do século XX, quando o fim da “Guerra Fria”, o incremento do processo de Globalização, a crescente cooperação económica internacional e o desenvolvimento de instituições supranacionais trouxeram novas abordagens sobre o tema. As fronteiras foram então condenadas por vários teóricos a um “quase desaparecimento”, devido ao fluxo cada vez maior de pessoas, bens e serviços entre vários países, e mesmo continentes, e que contribuiu para cimentar o princípio de que as fronteiras não são linhas fixas ou barreiras
Afroscreen
14.11.2014 | por Marta Patrício
"O filme é sobre a espera, sobre os tempos de espera. Se pode haver diferenças entres as acções das pessoas de cá e as pessoas de lá, a espera permite-nos reconhecer uma unidade e uma semelhança. Por definição, quando esperamos estamos dependentes de alguma coisa exterior que não controlamos e de que estamos dependentes e esse estado de vulnerabilidade é universal. O quotidiano da espera é comum a todas as pessoas do mundo e facilmente reconhecível e identificável." Pedro Pinho
Afroscreen
10.07.2012 | por Marta Lança
A civilização africana opunha-se à civilização cristã ocidental? Não. Não havia choque até haver uma política de colonização. E o mesmo se pode dizer de outras situações.
O que cria antagonismos culturais é uma rede muito complexa de circunstâncias e escolhas, e para compreender isso é necessário ver as relações políticas, históricas, sociais e morais. Tem muito mais a ver com a forma como evoluíram as relações entre essa culturas - o que é uma discussão histórica - do que com a natureza da cultura ou da civilização, em si.
Cara a cara
14.11.2010 | por Alexandra Lucas Coelho
De Melila à Polónia, de Chipre às Canárias, milhares de pessoas tentam quotidianamente abandonar os seus locais de origem e atingir o continente europeu em busca de melhores condições de vida, deixando para trás os mais variados cenários – guerras, incêndios, secas, inundações, regimes repressivos, desemprego maciço, salários de miséria, fundamentalismos vários – e confrontando-se, em todo o lado, com a mesma estratégia repressiva, as mesmas barreiras e perseguições, o mesmo racismo e a mesma violência.
Jogos Sem Fronteiras
01.08.2010 | por Ricardo Noronha