Quando fiz Between Fences estávamos no auge dos protestos contra a forma como o país lida com os imigrantes. O Supremo Tribunal tinha rejeitado, consecutivamente, várias leis do Governo relativas aos requerentes de asilo, o que é um ponto-chave para compreender porque o Estado entrou em conflito com o Supremo Tribunal. Atualmente, o Governo está a tentar “cortar a cabeça” deste tribunal. Foi curioso porque na época, muito destes protestos não eram em defesa dos direitos humanos, mas impulsionados pelos proprietários dos restaurantes que reivindicavam que, se os refugiados fossem expulsos, era o fim da sua atividade, porque ficariam sem mão-de-obra: ajudantes de cozinha, profissionais de limpeza, etc. A Lei de Imigração de Israel beneficia apenas a entrada de judeus no país.
Cara a cara
23.03.2023 | por Anabela Roque
Desde 2019, a crise económica no Brasil atirou dezenas de milhares de pessoas para uma longa rota de migração em direção à fronteira entre o México e os Estados Unidos. Famílias inteiras juntam-se a centro-americanos, cubanos, haitianos, venezuelanos, africanos ou asiáticos num caminho perigoso. Sem retorno, este caminho, para os que o deserto lhes tira o alento.
Jogos Sem Fronteiras
26.10.2022 | por Pedro Cardoso
A conceção liberal de refugiado tem um efeito prático inegável: segrega. Deixa poucos direitos aos refugiados e nenhuns aos migrantes económicos. A criação destas categorias, baseadas, muitas vezes, em artificialismos, permitem, à partida, escolher as pessoas, aquelas que merecem, ou não, o nosso apoio. Que merecem, ou não, ser salvas. E, ao catalogá-las permanentemente, estamos a desprovê-las de capacidade reivindicativa, a inibir qualquer mobilização coletiva. A despojá-las do direito a ter direitos.
Jogos Sem Fronteiras
09.08.2022 | por Mariana Carneiro
No início da década de 1970, quando Jorge Bodanzky começou a filmar o real nos territórios amazónicos, o Regime Militar brasileiro (1964-1985) promovia um imaginário irreal sobre Amazónia, com o fim de desmatar a floresta, explorar as suas terras, integrá-las num projeto colonizador megalómano. Para chamar os colonos de todo o Brasil, as campanhas da ditadura vendiam a Amazónia como uma “terra sem homens para homens sem terra” ou como “um deserto verde”. Oficialmente, a “Revolução chegava à selva” mas, de facto, o que se implementava era uma sanha destruidora que não se deteve até aos dias de hoje.
Enquanto militares e empresários ampliavam fronteiras colonialistas, Bodanzky abria fronteiras através do cinema, com o registo da degradação social e ambiental em curso.
Afroscreen
12.07.2022 | por Anabela Roque
Em resumo, os moradores de rua localizam-se territorialmente, sobretudo, através do seu
corpo. Por um lado, suportam as mazelas físicas e morais impressas pelas interdições à sua presença, sofrem uma tensão latente que encurva e amarra seus movimentos, comprimem os corpos de maneira a caber nos interstícios e espaços ociosos dos quais se apropriam. Por outro, desviam-se dos obstáculos, moldam técnicas corporais de sobrevivência, demarcam lugares de intimidade, arranjam maneiras de saciar suas necessidades corporais, tornam-se miméticos do espaço acomodando a sua presença à paisagem urbana, criam visibilidades desnorteantes quando necessitam se fazer notar. Essa corporalidade pressupõe resistência à sua eliminação. E se não existe tenacidade possível na manutenção de uma propriedade material, há na forma de preservar sua existência material e simbólica. A subjetividade garantindo o corpo vivo.
Cidade
05.06.2022 | por Simone Frangella
O fim do caminho. Cada vez mais angolanos chegam à fronteira do sul do México, vindos do Equador. Encontram um muro militar que não os deixa continuar. Alguns fintam as autoridades e conseguem chegar aos EUA e Canadá, onde se organizam para começar uma nova vida. Despedimo-nos de Ana e João. Reencontramo-nos com Luzia por quem a conheceu.
Jogos Sem Fronteiras
25.06.2021 | por Pedro Cardoso
A imagem da mulher passa pelo estereótipo profundamente enraizado que remonta à antiguidade. É a ideia de que as mulheres estão imóveis, à espera, no espaço do lar e da reprodução da família. Estão, portanto, ancoradas enquanto os homens navegam. Esta é uma das razões pelas quais a migração das mulheres não foi discutida durante muito tempo. Não parece natural imaginar mulheres em movimento.
Cara a cara
22.03.2021 | por Brahim Nejma e Schmoll Camille
Tem a ver com a história colonial da Europa como um todo: Vejo este fenómeno de migração do Sul global para o Norte global como a fase mais recente da longa história do capitalismo racializado e do colonialismo. Muitas destas pessoas que estão a tentar atravessar vêm de países anteriormente colonizados pela Europa. Sabemos que a longa história de colonização tem um impacto no presente em termos de desigualdade estrutural, pobreza, despossessão e guerra. Ao mesmo tempo, assistimos à incapacidade da Europa em se reconciliar com a sua própria história.
Cara a cara
02.01.2021 | por Alícia Gaspar e Yannis Hamilakis
O que me chocou, no início da pandemia, foi o quanto o debate se focou na desresponsabilização do ser humano. Ali, no sudeste asiático, são sociedades totalitárias e conformistas, usam máscara de qualquer maneira. Esse discurso é de divisão e este paralelo entre a migração se deixar explicar como algo vindo de fora e o vírus como algo apenas biológico e não político. A divisão nasce da ilusão de que na Europa do norte fomos atingidos e, como tal, não só não reconhecemos a causa destes problemas como também caímos nos nossos nacionalismos para resolver este problema, não para o mundo mas para nós.
Jogos Sem Fronteiras
18.11.2020 | por Gisela Casimiro
Nestes filmes de cineastas latino-americanas o tratamento das noções dinâmicas de “território” e de “fronteira” — e do princípio de circulação subjacente — assenta num sistema de mobilidade e de retroação do olhar. Esse sistema põe em xeque a relação dual e hierárquica entre as categorias de observador/observado, sujeito/objecto, humano/não-humano que estrutura o modelo epistémico e representativo dominante.
Afroscreen
04.03.2020 | por Raquel Schefer
E eis que agora, na praia, Teófilo aguarda para que o sibilar do vento erga as ondas. Vê-a agitar as asas com graciosidade. Os seus pulsos tocam-se na fluidez da respiração. As penas negras da cabeça confundem-se com o tutu negro e o ondular de todo o corpo flutua em círculos pelo mar. E, de repente, uma perna tem a liberdade de um braço. A cabeça basculante debate-se. Fátima voa, foge, tem medo, encolhe-se. Mergulha e emerge. É devorada pela água. Emerge. Vai para cima e para baixo, repetidamente. Entre o mar e o céu, o céu e o mar.
Jogos Sem Fronteiras
30.10.2019 | por Yara Monteiro
Atravessar fronteiras físicas e disciplinares é uma vocação de Achille Mbembe. A temática da passagem e do movimento é, aliás, uma chave para a sua compreensão da história e da cultura africanas. A sua perspectiva sobre o passado, o presente e o futuro de África implica ao mesmo tempo traçar uma genealogia da modernidade europeia, das categorias do pensamento que ela construiu, da racionalidade e da historicidade da figura do negro.
Cara a cara
19.12.2018 | por António Guerreiro
Segundo um relatório publicado pelo Alto Comissariado para as Migrações, cerca de metade dos 1520 refugiados que chegaram a Portugal entre 2015 e 2017 abandonaram o país. “A saída de tantos refugiados do país é um dos maiores indicadores de que os refugiados são mal recebidos e de que há discriminação”.
Jogos Sem Fronteiras
06.08.2018 | por Marta Vidal
A construção dos ‘bons’ e ‘maus imigrantes’ pelo centrão partidário, para justificar políticas restritivas da imigração e se desresponsabilizar pela discriminação racial. Os refugiados, umas escassas centenas até 2015, num país que se auto-declara campeão da tolerância. E que os portugueses ‘preferem’ aos imigrantes, como indicava a European Social Survey publicada em 2016. Os escravos comparados a imigrantes. Em incalculáveis momentos solenes, discursos políticos, monumentos e exposições, panfletos e manuais, para mostrar como Portugal colonial foi pioneiro da globalização e da interculturalidade. E o Portugal dos Pequenitos, quando vamos falar do Portugal dos Pequenitos?
A ler
05.04.2017 | por Marta Araújo
“Espera, espera…” é a única resposta que recebem do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que em 2016 entendeu fechar ainda mais as portas da Europa-fortaleza. Tão fácil e popular é o medo e a paranoia securitária, que veem terroristas em cada semblante vindo de fora, mesmos naqueles que jazem no fundo do mar Mediterrâneo.
Jogos Sem Fronteiras
30.01.2017 | por Filipe Nunes
recusamos legitimar qualquer política de confinamento das pessoas que impeça o exercício do direito fundamental a procurar algures um presente e um futuro melhor. Recusamos compactuar com a instrumentalização do medo e da emoção assente num racismo culturalista dirigido a imigrantes/refugiados que são classificados como «perigosos» com base em critérios de diferença racial ou religiosa. Recusamos a falsificação histórica que representa a Europa como marcada por uma identidade homogénea e todas as narrativas artificiais que inventam e propagam valores exclusivos. Recusamos assistir passivamente a discursos que reforçam a necessidade de medidas securitárias, levando à legitimação de instrumentos desumanos e violentos como as rusgas de imigrantes, os centros de expulsão e as deportações.
Jogos Sem Fronteiras
10.10.2015 | por vários
O programa de 2015 convida a uma rota por “Todas as Fronteiras” – geográficas, geopolíticas, entre quem filma e quem é filmado, o visível e o invisível, o centro e a periferia, o público e o privado, o som e a imagem – e conta com a presença dos realizadores Adirley Queirós, Catarina Mourão, Eloy Domínguez Séren, Eric Baudelaire, Eyal Sivan, Filipa César, Joana Pimenta, Nelson Carlo de los Santos Arias e Salomé Lamas.
Afroscreen
13.09.2015 | por vários
Em sentido lato, uma fronteira é uma linha imaginária que delimita o território (terrestre, fluvial, marítimo e aéreo) de um determinado Estado, separando-o de territórios adjacentes. Dentro de cada um dos limites criados vigora um ordenamento político e jurídico, específico e autónomo, diferente daquele possível de encontrar “do outro lado”. Esta percepção vigorou até aos finais do século XX, quando o fim da “Guerra Fria”, o incremento do processo de Globalização, a crescente cooperação económica internacional e o desenvolvimento de instituições supranacionais trouxeram novas abordagens sobre o tema. As fronteiras foram então condenadas por vários teóricos a um “quase desaparecimento”, devido ao fluxo cada vez maior de pessoas, bens e serviços entre vários países, e mesmo continentes, e que contribuiu para cimentar o princípio de que as fronteiras não são linhas fixas ou barreiras
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14.11.2014 | por Marta Patrício
Entendemos a fronteira não como um sulco mas como um programa “cujo funcionamento investe e percorre todo o conjunto das relações sociais”, como uma polícia especializada em separar quem é de quem não é, como uma operação que está permanentemente a ser reactualizada no espaço, nas disciplinas, nos saberes e nos nossos próprios actos, como uma linha que nos atravessa a todos e de que é importante falar.
Jogos Sem Fronteiras
30.12.2013 | por Ana Bigotte Vieira
«Somos favoráveis a negociações e a que se encontre uma solução definitiva neste conflito entre o Mali e o Azawad», declarou em 16 de Novembro Bilal Ag Achérif, porta-voz dos rebeldes em Uagadugu (Burquina Faso), onde foi organizada uma mediação internacional. Por seu turno, as Nações Unidas discutem a possibilidade de uma intervenção militar. A divisão do Mali ilustra a fragilidade das fronteiras africanas, patente desde o fim da Guerra Fria.
Jogos Sem Fronteiras
08.01.2013 | por Anne-Cécile Robert