Mural Sonoro: Viver a Música a partir da "Periferia (?)"

 

Na preparação do debate de 16 de Março no Museu da Música, com o tema Viver a Música a Partir da ”Periferia (?)”, lembrei que vários estudos e abordagens sobre a vida cultural das favelas, assim como a crítica acerca da escassa representação
dominante de que elas têm sido alvo, são de há quase um século, embora esta fosse uma perspectiva quase nula do cenário mediático, cujo foco permanecia no tráfico de drogas e violência.

 

Vários projetos fulcrais nas periferias, que foram aos poucos sendo transmitidos pela Rede Globo, fizeram com que aumentasse a ressonância sobre esses temas nos meios comunicacionais mais generalistas. A situação, ao passar nesses media, é reveladora de tensões tanto em torno do lugar conferido à periferia e às suas práticas culturais e/ou musicais, como da questão da visibilidade mediática e multiplicidade de discursos e compreensões da dinâmica da vida social.

 

A valorização da produção cultural da periferia passa a arranjar esquemas que expressem a defesa da sua ‘singularidade’, ‘autenticidade’ atribuindo-lhe nichos específicos de circulação e mesmo de preservação.

Se por um lado, o seu surgimento no cenário de visibilidade popular mediática é uma prática nova com implicações nos seus critérios de legitimação discursiva no que diz respeito às suas manifestações culturais e musicais, por outro a mesma inclusão nesse circuito mediático (de grande popularidade) converte o mesmo movimento e posterior aceitação em mecanismo de legitimação da força da sua actuação e do romper de uma série de cânones a respeito de ‘géneros’ e/ou ‘práticas periféricas’.

A sistemática hierarquização das práticas e ‘produtos culturais’, e o seu papel na cidade e na sociedade são alguns dos pontos chave fundamentais para se discutir o tema Viver a Música a Partir da ”Periferia (?)”, seja em que território for.


por Soraia Simões de Andrade
Cara a cara | 10 Março 2013 | mural sonoro, música, periferia