O Mundo é uma Ilha
sobre a exposição de Olavo Amado A vida como Labirinto
Galeria 23 – Amesterdão
de 23 de Março a 20 de Abril de 2011
Há 10 anos atrás, participou na limpeza de uma calçada na vizinhança de sua casa. No dia seguinte, Olavo Amado caminhou até ao Espaço Teia D’Arte para experimentar pintar. Foi João Carlos Silva quem desafiou os jovens do bairro Riboque, em São Tomé, a desvendarem o que estava oculto na calçada, por baixo dos passos de todos os dias, e a aparecer no dia seguinte no Espaço Teia D’Arte para pintar. Nas encruzilhadas das linhas da calçada e da rede da tela, Olavo encontrou o seu labirinto, para se perder a pintar.
Para um ilhéu, a configuração de um labirinto não é uma representação estranha. Uma ilha é um labirinto. Embora sem paredes e podendo-se chegar aos seus limites para observar o horizonte, não tem saída. Apenas de barco ou avião deixamos a ilha, mas para a trocar por outro pedaço de terra. Antes os limites da ilha que a deriva no mar ou no espaço.
Passando tempo no mercado, a Feira do Ponto da cidade de São Tomé, Olavo pintou várias séries de quadros com vendedoras. Falava com elas enquanto desenhava esboços, retratou-as na sua vida pública de trabalho. Na tela, as mulheres, cestos e bacias à cabeça, crianças nas costas, a luta diária: ganhar a vida, cuidar da família. O confronto com a vivência quotidiana das vendedoras sobrepôs-se ao seu impacto figurativo e os contornos das mulheres emanciparam-se para delinear os estreitos corredores do mercado. As mulheres moldaram-se nos trajectos repisados por elas todos os dias, e mais tarde os trajectos devolveram-se às mulheres na multiplicidade dos seus caminhos interiores, mais extensos e complexos. A Feira do Ponto foi demolido, mas os labirintos sustentam-se mesmo sem paredes.
O conhecimento dos caminhos, o aparente conhecimento do labirinto, cria familiaridade e ameniza a prisão. Saber por onde os caminhos condicionados nos levam, mesmo que a nenhuma saída, é preferível a poder caminhar em qualquer direcção. Todas as possibilidades fazem o deserto. O confronto com limites é mais suportável que a deriva, por isso o náufrago tenta alcançar a ilha, no mar alto não sobreviverá.
É esse também o esforço de um criador, fugir à deriva, embrenhar-se no labirinto das ideias mesmo sem poder ter uma visão total do percurso. Correr os caminhos, ensaiar soluções, procurar sempre, confirmar que os becos não têm saída. A arte soma as caminhadas no labirinto, vale no entusiasmo dos passos perdidos, vive da expressão da procura. O caminho oferece sempre mais que o destino.
Há muitas entradas e poucas saídas, reconhece Olavo. A saída de um labirinto será a entrada em novo labirinto e cada um é uma metáfora dos outros. Olavo foi transfigurando as mulheres que vendem e os amantes que embrulham os seus corpos em composições gráficas que sugerem o labirinto. O processo não é a fusão imediata de corpo e labirinto, Olavo vem experimentando várias fases da fundição dos corpos até à sua desmaterialização em abstracções; pisando novos caminhos, repisando velhas estradas, numa procura que se renova e faz acreditar.
O labirinto estabelece limites, dentro deles, concede toda a liberdade.