Investigando o conflito urbano e a reciprocidade entre a Chicala e Luanda, Angola

O trabalho do arquitecto Paulo Moreira sobre o bairro Chicala, de Luanda, é finalista de um prémio de investigação em Londres, o RIBA President’s Award for Research. Está na shortlist da categoria “Cities & Community”.

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Chicala, fotografia de Paulo MoreiraChicala, fotografia de Paulo Moreira

No âmago desta tese encontra-se uma investigação sobre a relação recíproca entre a cidade de Luanda e um dos seus bairros informais mais centrais, a Chicala. O estudo situa a Chicala entre os conflitos que surgiram durante o seu processo de densificação urbana e gestão sócio-política, e no contexto de uma longa história de formação natural. A situação geográfica da Chicala, juntamente com a sua integridade e desenvolvimento específicos, tornaram o bairro vulnerável a invasões coloniais e, mais recentemente, ao urbanismo agressivo de planos de grande escala.

No contexto da actual trajectória neoliberal de regeneração urbana de Luanda, após uma longa guerra civil (1975-2002), a Chicala atravessa um período de demolição e substituição por projectos imobiliários de alto padrão. A investigação teve início justamente antes que iniciassem os planos da eliminação completa do bairro, e que as autoridades e investidores privados obrigassem os seus habitantes a deslocar-se para assentamentos remotos em condições de vida inadequadas. 

A tese tem como objectivo reescrever a história de Luanda, criando um lugar para o bairro da Chicala e sua envolvente na ordem urbana da cidade. A documentação das características de um bairro no limiar do desaparecimento requereu uma metodologia colaborativa, e uma reflexão sobre como os arquitectos podem operar num ambiente urbano tão complexo. A tese tem como objectivo ir mais além de uma mera exploração da ordem arquitectónica informal. Pelo contrário, procura uma compreensão mais profunda de Luanda e das cidades pós-coloniais em geral.

A análise de um conjunto de relações entre o bairro e a cidade apresenta-se numa cronologia de seis capítulos. Cada capítulo enfatiza a natureza “híbrida” da Chicala como parte de un contexto mais alargado, tanto em termos urbanos (a auto-construção, os monumentos e as fantasias formais neoliberais são abordadas como partes de uma malha urbana contínua), como históricos (os períodos pré-colonial, colonial e pós-colonial apresentam-se como parte de um processo interconectado).

A tese finaliza com algumas reflexões sobre a dimensão colaborativa da investigação e as práticas de que esta potenciou. Completa-se com quatro Apêndices, apresentando um portefolio que ilustra a estratégia metodológica: relatórios do trabalho de campo, documentos institucionais baseados na colaboração com a Universidade Agostinho Neto, e um extenso arquivo visual criado ao longo da investigação.

 

por Paulo Moreira
Cidade | 22 Outubro 2019 | Chicala, luanda, musseque, urbanismo