Luanda por terra água e ar

Kilamba Kiaxi, foto de Paulo MoreiraKilamba Kiaxi, foto de Paulo Moreira

Após o final da guerra civil em Angola, em 2002, Luanda embarcou num processo irresistível de regeneração. As riquezas naturais do país atraíram um imenso investimento estrangeiro que, em consonância com a política de “progresso”, está a transformar irremediavelmente a ordem social e espacial da cidade.

Frequentemente, a estratégia oficial de planeamento parece desligada do contexto cultural e geográfico, pois tem ignorado a vitalidade dos territórios informais, preferindo substituí-los por modelos urbanísticos importados. Bairros inteiros são deslocados para as novas colónias de reassentamento, nas periferias, dando lugar a projetos de especulação imobiliária.

Este filme propõe uma perspetiva de urbanidade diferente, mais inclusiva, percorrendo a topografia da cidade, por terra, água e ar. A partir de uma série de entrevistas a cidadãos comuns, moradores num dos bairros não-planeados mais centrais (e, por isso, em risco), apresenta-se a informalidade como uma possibilidade coerente, merecedora do seu lugar de direito no metabolismo de Luanda.

Os testemunhos apresentados apontam para um diálogo genuíno entre o bairro e a cidade (e o Mundo). Apontam para uma relação recíproca entre privado e coletivo, entre biografia e história. Desafiam o lugar-comum propulsor de uma “cidade global” (rica) rodeada por “bairros pobres” (desesperados). Luanda é muito mais complexa do que isso.

 

 

O filme foi produzido durante uma viagem de investigação a Angola entre Abril e Junho de 2012, no âmbito do Prémio Távora - 7ª edição (atribuído pela Ordem dos Arquitectos - Secção Regional do Norte). Será estreado na apresentação do resultado da viagem, no dia 1 de Outubro de 2012 (Dia Mundial da Arquitectura), às 22h, na Câmara Municipal de Matosinhos.

por Paulo Moreira
Cidade | 24 Setembro 2012 | China, luanda, musseques, reconstrução