Outros Céus fechados de Lisboa

O que atravessa frequentemente um sujeito na condição de travessia e trânsito pelas cidades? O que dizem os silêncios das habitações abandonadas e encerradas em contraste com a finalidade social destinada à moradia?

Esta pesquisa fotográfica começa por questionar como as cidades, dentro do seu processo de exclusão espacial, estão intimamente ligadas à noção imaginária de propriedade irrestrita ao Estado, resultado da lógica de democracia sucessória que rejeita a cidade como organismo vivo. As habitações e espaços murados, encerrados e emparedados, além de eternizarem agressões ambientais, perpetuam outras fronteiras não assistidas pela democracia participativa e o direito à cidade. 

Outros Céus Fechados de Lisboa propõe-se a arquivar a paisagem determinada pelo concreto que fixa a sua validade no tempo, de forma a sugerir uma ruptura e negação perante a memória legitimada pelas estruturas do esquecimento. 
Assim, busco olhar o espaço urbano e suas fronteiras internas como um lugar em contraste às possibilidades de emancipação contemporâneas equitativas. Usar a fotografia como ferramenta política, talvez pela urgência da diluição da memória urbana, e os processos artísticos não servirem de simples objetos opacos, destas e de outras brutalidades não ocultas.

Dentro das sequências determinadas por esses processos fotográficos vejo-me assistido de várias interrogações não atendidas pelo ato artístico aqui apresentado. Outros Céus Fechados de Lisboa aparece como inquietação perante as distopias urbanas, apoiadas pela financeirização que evidentemente tem os espaços abandonados como ativos económicos permanentes, bastante distante de quaisquer alternativa que visa prolongar os direitos à cidade e à habitação, como meios inadiáveis na construção do Estado Social.  

 

por Lubanzadyo Mpemba Bula
Cidade | 11 Maio 2022 | casas, cidade, emparedados, gentrificação, habitação, Lisboa, mudança, prédios