Avenida da Liberdade, de Tatiana Macedo
Avenida da Liberdade é uma peça inédita que consiste numa instalação vídeo e som em quatro canais, que partem de imagens fotográficas analógicas tiradas por mim em 2004, 2005 e 2013, bem como de novas filmagens aéreas realizadas agora. As imagens de Março de 2013 (que constituem a base de dois dos vídeos expostos), foram captadas na Avenida da Liberdade durante um protesto contra as medidas de austeridade, e aqui foquei três situações específicas: um homem que filmava os manifestantes em cima de uma árvore, um grupo de pessoas à volta da estátua aos combatentes da 1ª Grande Guerra, e uma senhora que segura um cartaz onde se lê “ O Desemprego Mata-nos”. A estas três situações juntei uma fotografia de uma escultura de Rodin (intitulada “Irmão e irmã”) de cerca de 1890. O terceiro vídeo mostra uma série de naturezas mortas fotografadas em 2004 e o quarto uma filmagem aérea a partir dos telhados do Aljube.
O som é o resultado de uma colaboração com o músico Benjamim,que não só dá voz ao texto (enquanto textura sonora) como tocao piano e o sintetizador compostos para esta peça. Os textos são excertos recolhidos por mim de testemunhos escritos, como é o caso da descrição das fugas por Jaime Serra ou o de Diário Miguel Torga, nas datas de 25 de Abril de 1974 e dias posteriores.São descrições da determinação na luta pela liberdade, pela democracia e por direitos básicos no trabalho, por aqueles quepassaram não só pelo Aljube mas pelos “Aljubes” de Portugal e África, pela clandestinidade, pela prisão e pela tentativa de fuga.Decorrente do meu trabalho de pesquisa no centro de documentação deste museu, teci relações entre os textos que ia lendo ou os relatos que ia ouvindo e o meu arquivo pessoal, onde vim a descobrir imagens que faziam eco com estas vozes. Deste modo, nenhuma imagem aqui apresentada pertence a um arquivo de memória colectiva, tendo sido todas produzidas por mim, em anos diferentes.Esta relação com a contemporaneidade, ou o passado recente, é essencial uma vez que, nascida em 1981, a melhor forma de agradecer a estas pessoas que se sacrificaram para que eu hoje possa usufruir de algumas liberdades, é fazer isso mesmo – criar em liberdade. O título é irónico e embarca tudo o que hoje representa a ‘Avenida da Liberdade’, entre aspas, nas suas múltiplas contradições.