No dia 21 de Março de 2011, reuniu-se o Júri para a atribuição dos Prémios AICA/Ministério da Cultura (Artes Plásticas e Arquitectura) relativos a 2010. O Júri, constituído por Manuel Graça Dias, Presidente da SP/AICA, que presidiu, por Leonor Nazaré, Vice Presidente da SP/AICA, que secretariou, e pelos críticos Ana Vaz Milheiro (arquitectura), e Lúcia Marques e Paulo Pires do Vale (artes visuais), decidiu, por unanimidade, atribuir o Prémio Artes Visuais à artista plástica Lourdes Castro (n.1930) e o Prémio Arquitectura ao Arquitecto Francisco Castro Rodrigues (n. 1920).
liceu, obra de Castro Rodrigues, fotografia Ana Vaz Milheiro
PRÉMIO AICA/MC 2010- ARTES VISUAIS
O Prémio AICA/Ministério da Cultura 2010 (Artes Visuais) foi atribuído à artista plástica Lourdes Castro (Funchal, 1930). O Júri considerou definitiva, para a atribuição deste Prémio, a exposição antológica, À luz da sombra, realizada no Museu de Serralves em 2010, na qual as grandes qualidades de invenção plástica a partir de valores inefáveis como as linhas, as sombras ou a leveza, de referências como o espaço intimista e o universo relacional e da componente performativa associada ao teatro de sombras, de uma artista que se torna visível para a crítica portuguesa a partir dos anos de 1960, ficaram particularmente sublinhados na sua expressividade e eficácia.
Feita de cumplicidades, também estéticas, com Manuel Zimbro (1944-2003), com quem partilhou um projecto de vida e de obra, a exposição constituiu um expoente significativo da forma simples e autêntica com que Lourdes Castro transfigura os gestos do quotidiano.
obra de Lourdes Castro, Rita Burmester, cortesia Fundação de SerralvesNo final dos anos de 1950 Lourdes Castro partiu para Munique e depois para Paris onde fundou, com René Bertholo, a revista KWY.
A produção de objectos em assemblage, na década de 1960 e a posterior utilização de plexiglas na fixação de silhuetas e no jogo com as transparências tornam-se procedimentos determinantes do seu percurso artístico. As sombras serão também projectadas em lençóis bordados e num Grande Herbário de Sombras, a par dos projectos de encenação.
Pelas Sombras, filme realizado por Cataria Mourão (1997, Ed. DVD Midas Filmes: 2010), exibido no contexto da exposição de Serralves, documenta e sobreleva, da artista, uma relação sempre íntima e exaltada entre a arte a vida.
PRÉMIO AICA/MC 2010 - ARQUITECTURA
Flamingo, obra de Castro Rodrigues, fotografia Ana Vaz Milheiroliceu, obra de Castro Rodrigues, fotografia Ana Vaz MilheiroO Prémio AICA/Ministério da Cultura 2010 (Arquitectura), foi atribuído ao Arquitecto Francisco Castro Rodrigues (Lisboa, 1920).
O Júri relevou o trabalho de um arquitecto de grande relevância cultural na cena portuguesa, ainda que pouco conhecido das gerações mais recentes, já que a maior parte da sua obra construída se localiza em Angola, no Lobito, cidade à qual imprimiu um forte carácter urbano a partir dos anos de 1950.
Francisco Castro Rodrigues destacou-se logo em 1947, quando liderou um grupo refundador da Revista Arquitectura (as reuniões decorriam na sua própria casa), tendo traduzido para publicação na mesma revista (com a mulher, a actriz Maria de Lurdes de Castro Rodrigues), a Carta de Atenas (Le Corbusier, 1941), documento fundamental para a entrada do ideário da Arquitectura Moderna em Portugal. Combatente antifascista, perseguido pela polícia do regime, encontrou no Lobito um ambiente mais propício ao desenvolvimento de uma obra consistente, moderna, muitas vezes lúdica e expressionista, com recurso aos novos materiais e às suas potencialidades.
obra de Castro Rodrigues, fotografia Ana Vaz Milheiro
Iniciou-se com a “Casa Sol” (1953), onde já inclui a colaboração de artistas plásticos, participação que viria a ser uma constante ao longo do seu percurso (painéis de azulejo nas empenas por Manuel Ribeiro de Pavia). O bloco de habitação plurifamiliar “Universal” (1961), com a sua complexa máscara de grelhagens, palas, terraços, recessos e sombras, o “Cine-Esplanada Flamingo” (1963), obra cosmopolita, com uma audaciosa cobertura em betão, suspensa, com 16 metros de balanço, ou o “Liceu do Lobito” (1966), sem dúvida, a sua obra mais radical, traduzem o amadurecimento da vontade de Castro Rodrigues em adaptar as novas técnicas construtivas ao clima tropical; na arejada “Catedral do Sumbe” (1966) inscreve, simultaneamente, um inovador espaço litúrgico, contando com a contribuição plástica de Clotilde Fava e Louis Dourdil.
Em 2009, Eduarda Dionísio editou (com a Casa da Achada), o livro Um cesto de cerejas, no qual reúne uma série de conversas que manteve com o Arquitecto, trazendo a público muito do seu longo e rico percurso profissional e humano. Também em 2009, Moderno tropical: Arquitectura em Angola e Moçambique, 1948-1975, de Ana Magalhães e Inês Gonçalves (Tinta da China), ilustra abundantemente a obra construída de Castro Rodrigues, elegendo para capa, inclusive, uma esplêndida fota da “ruína moderna” do que resta do “Cine-Esplanada Flamingo”.